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CAMPO MINADO
Responsável por pedido de prisão de Rainha nega motivação política
Promotor aponta crimes em ações do MST no Pontal
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO
O promotor de Justiça Marcelo
Creste, de Teodoro Sampaio (SP),
disse ontem que as ações do MST
é que levam o movimento ao que
os sem-terra chamam de "criminalização" da questão agrária.
Responsável pela sustentação
do pedido de prisão do líder José
Rainha Jr., detido anteontem,
Creste afirmou que o Ministério
Público não poderia adotar uma
postura de indiferença com relação a crimes cometidos durante
invasões de terra.
Para o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), há viés político nessa criminalização. Seus advogados tentam
descaracterizar o crime de formação de quadrilha do qual são acusados Rainha e outros quatro líderes, que estão foragidos.
Com prisão preventiva decretada desde 23 de maio, José Rainha
Jr. foi preso na manhã de anteontem no assentamento Che Guevara, em Mirante do Paranapanema. Os outros quatro líderes procurados são Márcio Barreto, Sérgio Pantaleão, Zelitro Luz da Silva
e Valmir Rodrigues Chaves.
O promotor ironizou ontem lideranças do MST e o advogado
Hamilton Belloto Henriques, que
afirmaram que o processo de acusação criminal contra integrantes
do MST é político e constitui tentativa de sufocar os movimentos
sociais. "Eles poderiam mudar o
disco. Quando o Ministério Público arquiva expedientes contra José Rainha ou outro líder, eles não
reclamam de criminalização."
Invasão de fazendas
Creste afirmou que existem juristas que entendem que o objetivo é que determina o crime de formação de quadrilha, "mas quando as ações do movimento são desenvolvidas com atitudes criminosas, não pode existir o indiferente penal".
O promotor exemplificou como
ação criminosa o fato de o MST
invadir fazendas, "que seria um
ato de luta social, mas que vira criminosa quando invadem, destroem cercas e abatem animais".
Segundo ele, o mesmo vale para
invasões de prédios públicos.
Essas ações -invasão de prédios públicos e de fazendas, furtos, danos a propriedades privadas e ao patrimônio público- resultaram no processo 275/2000,
que acusa Rainha e os outros líderes do crime de formação de quadrilha. Segundo Creste, o fator determinante para a decretação da
prisão preventiva dos líderes foi a
suposta ameaça de morte contra
sem-terra independentes.
Testemunhas ouvidas pelo Ministério Público acusaram os líderes do MST de "ameaçar" esses
independentes para que esses
abandonassem lotes na fazenda
Guaná Mirim, no interior paulista. "O MST tanto sabe que comete
ilícitos que não tem personalidade jurídica, para não ser penalizado na Justiça", afirmou.
O juiz Athis de Araújo Oliveira,
que acompanhou parte da entrevista da Agência Folha com o promotor Marcelo Creste, disse que
"o Estado está presente em Teodoro Sampaio, através do Judiciário e do Ministério Público, para
fazer valer o direito".
Oliveira negou, um dia antes da
prisão de Rainha, pedido de liberdade provisória para os acusados.
Ele se recusou a conceder entrevista, mas, informalmente, negou
que tenha sentimentos de "vingança" do MST em razão de invasão do fórum de Teodoro Sampaio, feita pelo movimento em
2000. Essa é a tese do advogado
Henriques para explicar o pedido
de prisão contra os militantes do
MST assinado por Oliveira.
Rainha está dividindo uma cela
na cadeia de Teodoro Sampaio
com outros oito presos. Além de
seis sem-terra, estão na mesma
cela do líder do MST um acusado
pelo crime de tráfico de drogas e
outro por homicídio. A cadeia,
com capacidade para 48 pessoas,
abriga 76 detentos.
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