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FOLCLORE POLÍTICO
Historieta mineira
JARBAS PASSARINHO
As eleições de 1974 mostraram
o declínio acentuado da Arena em favor do MDB.
Para o Senado, que renovava
um terço de sua composição, nos
22 Estados da Federação a Arena
elegeu seis (e um era Teotônio Vilela já de malas despachadas para a oposição), enquanto o MDB
elegeu os restantes 16 senadores.
Em Minas, entrava para seu
primeiro mandato Itamar Franco. A bancada mineira ficaria
composta, além de Itamar, por
Magalhães Pinto e Gustavo Capanema.
A maioria governista no Senado foi mantida graças aos remanescentes eleitos em 1970, entre
eles Magalhães e Capanema, este
um dos mais preeminentes nomes
do PSD e aquele da UDN.
Ambos haviam ingressado na
Arena, adversários notórios e tradicionais, em conseqüência do
apoio que Minas dera ao golpe de
Estado de Março de 1964, quer pela UDN como pelo PSD.
A convivência de ambos com o
recém chegado Itamar Franco era
cordial, como de hábito entre os
senadores, o mesmo não se dando
na Câmara dos Deputados.
Nossas conversas amáveis não
distinguiam oposição de governo.
Na Câmara dos Deputados, possivelmente em seu último mandato
parlamentar, integrava a bancada mineira o deputado José Maria Alkmim.
Em conversa com Capanema,
no café dos senadores, no intervalo de uma sessão, disse-lhe haver
lido um discurso seu sobre Francisco Campos.
Notei-lhe a admiração pelo famoso jurista mineiro, que fora
ministro da Educação em 1931 na
ditadura de Getúlio e indigitado
redator do preâmbulo do Ato Institucional em 1964.
Entretanto o senador, no discurso, defendia Francisco Campos da acusação de ser fascista,
dizendo que isso se devia à falta
de conhecimento do pensamento
de Campos, os fatos reais de sua
vida, deformados pela força maledicente das versões.
Retruquei, então, que esse jogo
de palavras envolvendo fato e
versão era atribuído a Alkmim,
ao que Capanema comentou: "A
frase é de fato minha".
Causou efeito e o Alkmim divulgou-a como dele. Certa feita, interpelei-o: "Ora, Alkmim, eu profiro a frase, ela faz sucesso e você
dela se apropria?" Respondeu-me
ele, brejeiro: "O que vale é a versão".
JARBAS PASSARINHO, 82, governador
do Pará (1964 a 1966), ministro do Trabalho no governo de Costa e Silva e da Justiça no governo de Fernando Collor, escreve aos sábados nesta seção
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