São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Historieta mineira

JARBAS PASSARINHO

As eleições de 1974 mostraram o declínio acentuado da Arena em favor do MDB.
Para o Senado, que renovava um terço de sua composição, nos 22 Estados da Federação a Arena elegeu seis (e um era Teotônio Vilela já de malas despachadas para a oposição), enquanto o MDB elegeu os restantes 16 senadores.
Em Minas, entrava para seu primeiro mandato Itamar Franco. A bancada mineira ficaria composta, além de Itamar, por Magalhães Pinto e Gustavo Capanema.
A maioria governista no Senado foi mantida graças aos remanescentes eleitos em 1970, entre eles Magalhães e Capanema, este um dos mais preeminentes nomes do PSD e aquele da UDN.
Ambos haviam ingressado na Arena, adversários notórios e tradicionais, em conseqüência do apoio que Minas dera ao golpe de Estado de Março de 1964, quer pela UDN como pelo PSD.
A convivência de ambos com o recém chegado Itamar Franco era cordial, como de hábito entre os senadores, o mesmo não se dando na Câmara dos Deputados.
Nossas conversas amáveis não distinguiam oposição de governo. Na Câmara dos Deputados, possivelmente em seu último mandato parlamentar, integrava a bancada mineira o deputado José Maria Alkmim.
Em conversa com Capanema, no café dos senadores, no intervalo de uma sessão, disse-lhe haver lido um discurso seu sobre Francisco Campos.
Notei-lhe a admiração pelo famoso jurista mineiro, que fora ministro da Educação em 1931 na ditadura de Getúlio e indigitado redator do preâmbulo do Ato Institucional em 1964.
Entretanto o senador, no discurso, defendia Francisco Campos da acusação de ser fascista, dizendo que isso se devia à falta de conhecimento do pensamento de Campos, os fatos reais de sua vida, deformados pela força maledicente das versões.
Retruquei, então, que esse jogo de palavras envolvendo fato e versão era atribuído a Alkmim, ao que Capanema comentou: "A frase é de fato minha".
Causou efeito e o Alkmim divulgou-a como dele. Certa feita, interpelei-o: "Ora, Alkmim, eu profiro a frase, ela faz sucesso e você dela se apropria?" Respondeu-me ele, brejeiro: "O que vale é a versão".


JARBAS PASSARINHO, 82, governador do Pará (1964 a 1966), ministro do Trabalho no governo de Costa e Silva e da Justiça no governo de Fernando Collor, escreve aos sábados nesta seção


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