São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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ANÁLISE

Forças têm dilemas graves

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

As Forças Armadas do mundo vivem dilemas graves no século 21. A Força Aérea Brasileira (FAB), a Marinha do Brasil (MB) e o Exército Brasileiro (EB) refletem as questões gerais, além daquelas próprias do país.
Há a crise de identidade, que afeta, por exemplo, a Europa Ocidental: para que a força militar serve após a Guerra Fria? Não há mais risco de aviões de patrulha ou submarinos soviéticos ameaçarem as costas brasileiras.
Há a questão de como se relacionar com os Estados Unidos. Tanto os que podem virar alvo dos americanos como os outros têm de acompanhar sua vertiginosa evolução tecnológica.
Há a falta de continuidade administrativa, que afeta também a continuidade de programas.
O Brasil não tem inimigos regionais que poderiam ajudar a moldar a composição, o equipamento e o treinamento das suas forças. Os militares da Índia e do Paquistão, de Israel e da Síria, da China e de Taiwan se preparam para a guerra olhando um nos olhos dos outros.
Uma ameaça era a Argentina. Os brasileiros compraram na Grã-Bretanha dois couraçados em 1910, os melhores do mundo; os argentinos em seguida compraram dois nos EUA. Veículos blindados dos dois países se preparavam para uma "Blitzkrieg".
Faz tempo que a Argentina deixou de ser "o inimigo". Brasileiros e argentinos treinam juntos para missões de paz. Desprovidos de um porta-aviões, hoje os argentinos treinam no "São Paulo".
Parte dos militares se volta para a defesa da Amazônia. Fora a paranóia que acha que os americanos querem tomá-la, existem problemas sérios nas fronteiras.
Os candidatos defendem temas nacionalistas, como o apoio à indústria de defesa, o que sempre atraiu os militares. Mas auto-suficiência nem sempre significa construir um avião ou tanque importando o "recheio" eletrônico.
As três forças têm uma história de independência que torna difícil institucionalizar o Ministério da Defesa, ainda longe de integrar as forças, em doutrina, na capacidade de operarem juntas ou na compra de equipamento.
Por exemplo, a Marinha voltou a operar aviões no "São Paulo", mas a aviação de patrulha marítima segue com a FAB. O Exército tem dois modelos de tanques que usam canhões de calibre 105 mm; os fuzileiros navais têm um terceiro tipo, com canhão diferente. EB, FAB e MB usam diferentes fuzis com diferentes calibres.


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