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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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ABUSO POLICIAL

Foi detido ontem um dos seis agentes penitenciários acusados de espancar o comerciante Chan Kim Chang em presídio no Rio

Nova perícia encontra sangue em cela lavada

DA SUCURSAL DO RIO

Uma nova perícia realizada sexta-feira à noite no Presídio Ary Franco, onde esteve preso o comerciante chinês naturalizado brasileiro Chan Kim Chang, 46, mostrou que havia sangue na cela, no corredor e na sala para onde ele foi levado antes de entrar em coma, em 27 de agosto. Chan morreu na quinta de traumatismo craniano e pneumonia dupla.
Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, a nova perícia foi feita com a aplicação de um reagente químico de nome ""Luminol", que indicou a presença de manchas de sangue mesmo depois de o local ter sido lavado várias vezes com água e sabão.
Lins disse que a nova perícia pode ser determinante para esclarecer a origem dos ferimentos de Chan. ""A quantidade de sangue que ele perdeu indica que tinha lesões visíveis e que precisava de socorro imediato", afirmou.
Para o secretário estadual de Segurança e ex-governador Anthony Garotinho, está provado que o local foi lavado várias vezes para ""desfazer a cena do crime".
Seis agentes penitenciários que estavam de plantão no dia em que Chan foi encontrado em coma tiveram prisão temporária decretada, por volta da meia-noite de sexta-feira, pela juíza de plantão no Tribunal de Justiça, Débora Sarmento. Um dos agentes, Dênis Gonçalves Monsores, foi preso na manhã de ontem. Outros dois, aconselhados por seus advogados, estão escondidos.
Até a conclusão desta edição, a buscas por todos os agentes ainda não havia terminado.
Amanhã, os presos que estavam em celas vizinhas à de Chan serão reinqueridos pelo delegado Marcelo Fernandes, da corregedoria da polícia. Os presos tinham confirmado a versão dada pelos agentes de que o chinês havia se ferido sozinho.
Álvaro Lins disse que um dos motivos do pedido de prisão dos agentes foi dar segurança aos presos para contar a verdade. Os novos depoimentos serão tomados na Delegacia de Homicídios. longe do presídio.
Durante o programa de rádio semanal da governadora Rosinha Matheus, ontem, Garotinho disse que há denúncias sobre o envolvimento de funcionários graduados do presídio envolvidos nas agressões ao comerciante Chang, mas não citou nomes.
O diretor do Presídio Ary Franco, major Luiz Gonçalves Matias, foi afastado do cargo na última segunda-feira e ontem foi anunciado o afastamento do vice-diretor, Luiz Torres.
Os dois vinham sendo investigados em razão de uma denúncia anônima de que o comerciante teria sido brutalmente espancado ao negar-se a revelar a senha de seu cartão de banco.
O calvário vivido por Chang King Chang começou no dia 25 de agosto, ao ser preso no Aeroporto Internacional Tom Jobim, tentando embarcar para os Estados Unidos com US$ 30.550 na bagagem. Como ele não havia declarado o dinheiro à Receita Federal, foi preso e levado para prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal, no centro do Rio.
No dia seguinte, ele foi levado por agentes da Polícia Federal para o Presídio Ary Branco, no bairro Água Santa, na zona norte. No mesmo dia, ele chegou a ser visitado por parentes, que disseram tê-lo encontrado em boas condições de saúde.
Na noite do dia 27, Chang foi levado para o hospital público Salgado Filho, em coma, com traumatismo craniano, e foi submetido a duas cirurgias.



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