São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Renan diz que "não há hipótese" de renunciar

Presidente do Senado afirma que PT se comporta como "aliado" e que relação com o partido "nunca esteve tão boa como agora"

Peemedebista recorre a uma brincadeira para declarar que não pretende buscar votos durante o feriado: "O problema é o corpo-a-corpo"

FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de o Conselho de Ética pedir a cassação de Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do Senado negou que exista a articulação de um acordo para trocar a presidência pela garantia de sua absolvição. O clima ontem era de incerteza quanto ao resultado da votação secreta em plenário, marcada para quarta-feira.
Senadores que estavam dispostos a apoiar Renan passaram a ponderar que sua eventual absolvição não encerrará a crise na Casa, já que ele ainda enfrentará pelo menos outros dois processos por quebra de decoro. A preocupação é com o desgaste da instituição, que afetaria todos os integrantes.
A possibilidade de surgirem novas denúncias contra Renan até quarta também influirá na correlação de forças na Casa. Para ser aprovado, o pedido de cassação tem que ter o apoio mínimo de 41 dos 81 senadores. O desfecho do processo é considerado imprevisível pelos dois lados, que só arriscam que a votação deverá ser apertada. Tanto Renan quanto lideranças da oposição estão concentradas na contagem dos votos.
"É a hora da verdade, é hora da onça beber água", afirmou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), da tropa de choque de Renan. "Não tem prognóstico, pode dar qualquer coisa", disse a líder do PT, Ideli Salvatti (SC). "Hoje não tenho certeza de mais nada. É um processo que se tornou imprevisível", afirmou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).
O presidente do Senado disse que não se sentiu traído pelo PT, que votou em bloco pela sua cassação no conselho, e que conta com o apoio do partido no plenário. "O PT sempre teve e sempre terá em relação a mim um comportamento de aliado, que é um comportamento proporcional ao que eu sempre tive com ele. A minha relação com o PT nunca esteve tão boa como está agora", disse Renan.
Ele descartou um acordo para entregar a presidência em troca de sua absolvição: "Eu disse desde o início que não deixaria o cargo, não renunciaria ao cargo", afirmou. "Eu fui eleito para cumprir o mandato de dois anos. Só a decisão do plenário encurtará o mandato. Afora isso não há hipótese."
O senador Gilvam Borges (PMDB-AP) insistiu, porém, que esse é o caminho para Renan. "Não tem novidade no processo, então ele vai ter que apresentar alguma novidade na quarta-feira para assegurar sua vitória." Gilvam é ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), conselheiro de Renan.
Ainda haveria margem para uma manobra como essa na oposição. "Seria um trunfo, embora não acredite que vá acontecer, para criar um ambiente de simpatia. Qualquer que seja o gesto nessa direção seria bem compreendido", disse Sérgio Guerra.
Apesar de a cassação de Renan ter virado uma bandeira da oposição, deserções são esperadas no PSDB e no DEM. As divisões também são consideradas certas nos partidos da base aliada. Senadores de PT, PMDB e PSB já se posicionaram a favor da perda do mandato de Renan.
O Palácio do Planalto preferia não enfrentar uma eleição precipitada para a presidência do Senado, já que não tem uma maioria confortável na Casa nem um candidato forte.
O presidente do Senado afirmou que viajará para Alagoas no feriado da Independência. Questionado se ele não faria um corpo-a-corpo em busca de votos, o senador ironizou a própria situação: "O problema é o corpo-a-corpo", declarou ele, rindo. A crise envolvendo Renan começou com a denúncia de que um lobista, a pedido do presidente do Senado, pagava R$ 12 mil mensais de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha.


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