São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Falta candidato para Lula, dizem analistas

Consultorias crêem que eleição de 2010, 1ª pós-regime militar sem o petista concorrendo, terá disputa acirrada e sem favorito

Jairo Nicolau, do Iuperj, diz que a grande incógnita é saber até que ponto o presidente se envolverá com alguma candidatura

MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO

A três anos da eleição presidencial, o governo Lula tem a favor economia estável, boa avaliação e oposição fragilizada. Falta-lhe, no entanto, um candidato. Em conversa com líderes aliados na terça, o presidente anunciou que cogita se licenciar do cargo em 2010 para se dedicar à campanha desde que os partidos que o apóiam tenham candidatura única e ele possua um índice de popularidade que lhe permita transferir votos. O presidente tem razão nas dúvidas que suscita.
Profissionais de empresas de consultoria econômica e política e de institutos de pesquisa especializados em antecipar cenários avaliam que Lula chegará a 2010 -a primeira disputa para o Planalto desde 1989 de que não participará como candidato- com uma popularidade inédita para um governante em segundo mandato, mas ainda são incógnitas como se comportará diante das diversas candidaturas governistas que disputarão a sua preferência e se conseguirá transferir votos.
Não será fácil unificar a base aliada. Sem Lula e com todos os grandes partidos empenhados em lançar candidaturas próprias para ajudar a formar bancadas legislativas de peso, é prevista uma fragmentação tanto na coalizão do governo como nas alianças da oposição, o que aponta para uma disputa acirrada e imprevisível. Poderá repetir o quadro de 1989, quando 22 candidatos participaram da primeira eleição depois do fim da ditadura militar.
Este é o cenário imperfeito que os especialistas conseguem enxergar. Nenhum se arrisca a apontar um nome favorito.
Há quase consenso de que Lula terminará o mandato bem avaliado. Ele perde apoio nas classes altas e médias, mas continua a crescer entre os que ganham menos, segundo o Vox Populi, o que João Francisco Meira, do instituto, define como "estabilidade dinâmica".
Para Jairo Nicolau, cientista político do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio), a incógnita é saber até que ponto Lula se envolverá com alguma candidatura competitiva.
Num cenário de várias candidaturas governistas, o apoio de Lula a um nome pode não funcionar. O que remete para outra interrogação: Lula terá capacidade de transferir votos? A transferência não é automática, lembram Mauro Paulino, do Datafolha, e Márcia Cavalari, do Ibope. Não basta Lula apontá-lo, os eleitores têm de identificar o escolhido com Lula.
Walder de Góes, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, avalia que Lula terá candidato próprio e que a sua capacidade de transferência determinará a competitividade da oposição. Ou seja, se for capaz de transferir, a oposição não terá chances.

Nomes
O problema, portanto, são os nomes. "Não há candidaturas naturais e fortes", analisa Sérgio Abranches, da Sócio Dinâmica Aplicada. As pesquisas do Vox Populi mostram que os eleitores ainda estão pouco interessados e pouco informados sobre 2010. Os nomes que aparecem nas respostas espontâneas são os que estão no noticiário ou cuja lembrança pela participação nas últimas eleições persiste, como José Serra e Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PSB) e Lula.
Murillo de Aragão, da Arko Advice Pesquisas, não enxerga o candidato de Lula no PT nem no ministério. "E o tempo é curto para [construir] um nome competitivo." Mailson da Nóbrega, da Tendências Consultoria Integrada, concorda. Walder de Góes avalia que a estratégia do presidente é incentivar o surgimento de várias nomes para no final escolher um. Assim, estimula a ida de Aécio Neves para o PMDB e as candidaturas de Ciro Gomes e do PT.
Ricardo Guedes, da Sensus Pesquisa e Consultoria, não acredita que o PT venha fazer aliança em torno de Ciro ou de outro nome fora do partido. Acha possível transferir votos para alguém do PT, desde que seja "palatável", mas ainda não vê esse nome. Márcia Cavalari aponta as eleições para a Prefeitura de São Paulo em 2008 como importantes para pensar 2010. "As definições de José Serra, Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab (prefeito de São Paulo, do DEM) e de Marta Suplicy (PT) ajudarão a entender o que poderá ocorrer."
Vários cientistas políticos ouvidos prevêem uma eleição parecida com a de 1989 em número de candidatos. Não deve chegar a 20, mas terá mais candidatos que as eleições de 2002 (seis) e 2006 (oito).


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