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Falta candidato para Lula, dizem analistas
Consultorias crêem que eleição de 2010, 1ª pós-regime militar sem o petista concorrendo, terá disputa acirrada e sem favorito
Jairo Nicolau, do Iuperj, diz que a grande incógnita
é saber até que ponto o presidente se envolverá com alguma candidatura
MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO
A três anos da eleição presidencial, o governo Lula tem a
favor economia estável, boa
avaliação e oposição fragilizada. Falta-lhe, no entanto, um
candidato. Em conversa com líderes aliados na terça, o presidente anunciou que cogita se licenciar do cargo em 2010 para
se dedicar à campanha desde
que os partidos que o apóiam
tenham candidatura única e ele
possua um índice de popularidade que lhe permita transferir
votos. O presidente tem razão
nas dúvidas que suscita.
Profissionais de empresas de
consultoria econômica e política e de institutos de pesquisa
especializados em antecipar
cenários avaliam que Lula chegará a 2010 -a primeira disputa para o Planalto desde 1989 de
que não participará como candidato- com uma popularidade inédita para um governante
em segundo mandato, mas ainda são incógnitas como se comportará diante das diversas
candidaturas governistas que
disputarão a sua preferência e
se conseguirá transferir votos.
Não será fácil unificar a base
aliada. Sem Lula e com todos os
grandes partidos empenhados
em lançar candidaturas próprias para ajudar a formar bancadas legislativas de peso, é
prevista uma fragmentação
tanto na coalizão do governo
como nas alianças da oposição,
o que aponta para uma disputa
acirrada e imprevisível. Poderá
repetir o quadro de 1989, quando 22 candidatos participaram
da primeira eleição depois do
fim da ditadura militar.
Este é o cenário imperfeito
que os especialistas conseguem
enxergar. Nenhum se arrisca a
apontar um nome favorito.
Há quase consenso de que
Lula terminará o mandato bem
avaliado. Ele perde apoio nas
classes altas e médias, mas continua a crescer entre os que ganham menos, segundo o Vox
Populi, o que João Francisco
Meira, do instituto, define como "estabilidade dinâmica".
Para Jairo Nicolau, cientista
político do Iuperj (Instituto
Universitário de Pesquisas do
Rio), a incógnita é saber até que
ponto Lula se envolverá com alguma candidatura competitiva.
Num cenário de várias candidaturas governistas, o apoio de
Lula a um nome pode não funcionar. O que remete para outra interrogação: Lula terá capacidade de transferir votos? A
transferência não é automática, lembram Mauro Paulino, do
Datafolha, e Márcia Cavalari,
do Ibope. Não basta Lula apontá-lo, os eleitores têm de identificar o escolhido com Lula.
Walder de Góes, do Instituto
Brasileiro de Estudos Políticos,
avalia que Lula terá candidato
próprio e que a sua capacidade
de transferência determinará a
competitividade da oposição.
Ou seja, se for capaz de transferir, a oposição não terá chances.
Nomes
O problema, portanto, são os
nomes. "Não há candidaturas
naturais e fortes", analisa Sérgio Abranches, da Sócio Dinâmica Aplicada. As pesquisas do
Vox Populi mostram que os
eleitores ainda estão pouco interessados e pouco informados
sobre 2010. Os nomes que aparecem nas respostas espontâneas são os que estão no noticiário ou cuja lembrança pela
participação nas últimas eleições persiste, como José Serra
e Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PSB) e Lula.
Murillo de Aragão, da Arko
Advice Pesquisas, não enxerga
o candidato de Lula no PT nem
no ministério. "E o tempo é
curto para [construir] um nome competitivo." Mailson da
Nóbrega, da Tendências Consultoria Integrada, concorda.
Walder de Góes avalia que a estratégia do presidente é incentivar o surgimento de várias nomes para no final escolher um.
Assim, estimula a ida de Aécio
Neves para o PMDB e as candidaturas de Ciro Gomes e do PT.
Ricardo Guedes, da Sensus
Pesquisa e Consultoria, não
acredita que o PT venha fazer
aliança em torno de Ciro ou de
outro nome fora do partido.
Acha possível transferir votos
para alguém do PT, desde que
seja "palatável", mas ainda não
vê esse nome. Márcia Cavalari
aponta as eleições para a Prefeitura de São Paulo em 2008
como importantes para pensar
2010. "As definições de José
Serra, Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab (prefeito de São
Paulo, do DEM) e de Marta Suplicy (PT) ajudarão a entender
o que poderá ocorrer."
Vários cientistas políticos
ouvidos prevêem uma eleição
parecida com a de 1989 em número de candidatos. Não deve
chegar a 20, mas terá mais candidatos que as eleições de 2002
(seis) e 2006 (oito).
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