São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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NO AR

A transição

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O petista Aloizio Mercadante questionou a venda das ações do Banco do Brasil e acabou desautorizado pelo petista Antônio Palocci, ainda ontem na Jovem Pan.
Mas não por Míriam Leitão! A comentarista questionou a legitimidade do atual governo para fazer a venda, legitimidade que havia sido afirmada por Pedro Malan.
Batendo de frente com a equipe econômica, fato raro, comentou ela:
- Eu estou confusa... O PT tem bons argumentos. E o governo também. Se eu fosse dar uma opinião definitiva, (a venda) deveria ser deixada para o próximo governo. É a venda de um ativo, uma decisão muito importante para tomar dois meses antes do fim.
Inesperadamente à esquerda até de Lula e Antônio Palocci, a comentarista não parou por aí. Agora está voltando a sua atenção também para a fome. Por exemplo:
- O que eu tenho sentido nas instituições multilaterais de crédito é um interesse grande de ajudar o Brasil na guerra contra a fome.
Mas a mudança de discurso também não é assim, completa. Seguindo com ela:
- O presidente eleito vai se encontrar com um representante chileno, que traz uma mensagem do presidente Ricardo Lagos, que é do Partido Socialista. Ele quer contar como é que se constitui um governo socialista. Quanto mais ouvir Ricardo Lagos, melhor.
Por quê?
- Ele é um bom exemplo na América Latina: mantém os fundamentos todos, inflação sob controle, país aberto ao capital estrangeiro, e faz um programa socialista forte, voltado para o social.
Para encerrar a "confusa" transição de discurso, moral da história:
- Não há conflito ideológico entre ser de esquerda e ser a favor de equilíbrio orçamentário. Não é de direita, não é neoliberal o projeto de um país com equilíbrio fiscal.
Está lançada a ponte para a transição de FHC a Lula.
 
Na Globo, é toda a cobertura de economia que se adapta. Sobre outro tema, o também comentarista Joelmir Beting também se insurgiu contra o atual governo:
- O vilão da inflação é o câmbio, mas não dos importados e sim dos produtos nacionais que usam o câmbio como pretexto. É o caso do petróleo, produzido no Brasil.
Mas nada se compara à charge animada que abriu o Jornal Nacional esta semana, em que FHC passa, em vez de um bastão, uma bomba para o futuro presidente.
E o ainda presidente sorri, quando a bomba explode nas mãos de Lula.
 
O peemedebista Michel Temer está todo prosa, depois que José Dirceu foi até sua casa fechar um acordo. Em entrevista ao Bom Dia Brasil, ele batia no peito e declarava:
- O PMDB não quer fisiologia. O PMDB se nega a trocar apoio por cargos.
Comentário dela, Míriam Leitão, sobre a entrevista:
- Sabe aquilo de não dizer exatamente o que pensa? Ele estava assim. O PMDB vai ser fiel da balança, então está fazendo jogo duro.
A paciência com Temer está perto de acabar.



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