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FIM DE MANDATO
Ao receber título, presidente diz que não percebia transformação e, na USP, desconfiava da "gente próxima do poder"
FHC critica o "FHC acadêmico" da era JK
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em tom
de autocrítica, que se opôs à forma como foi promovida a industrialização brasileira no governo
Juscelino Kubitschek (1956-1961),
com a abertura do país ao capital
estrangeiro. A declaração foi feita
em discurso após ser homenageado com o título de doutor honoris causa pela Universidade
Candido Mendes, no Rio.
"Havia bastante incompreensão porque Juscelino [Kubitschek] havia aberto o Brasil ao capital estrangeiro, porque Juscelino havia promovido uma industrialização que não era exatamente aquela que alguns setores, entre
os quais eu me incluía, imaginavam", afirmou.
De acordo com FHC, naquela
época, Candido Mendes, atual
reitor da universidade que o homenageou, "foi capaz de perceber
que, a despeito da dependência
inegável [do modelo de desenvolvimento], havia brechas para a
transformação".
Mendes foi membro do Iseb
(Instituto Superior de Estudos
Brasileiros), entidade que, na década de 50, liderou a formulação
do pensamento desenvolvimentista que deu suporte teórico ao
projeto de Juscelino Kubitschek.
"Eu era muito jovem, estava
muito influenciado pelo professor
Alain Touraine [historiador francês que recebeu ontem a mesma
homenagem de FHC, na mesma
cerimônia], e olhava lá da USP
com uma certa desconfiança essa
gente tão próxima do poder."
FHC disse que, na época, ele,
"talvez com algumas idéias um
pouco fora do lugar", imaginava
que "a academia devesse ficar
mais resguardada".
O presidente disse que foi a primeira vez que aceitou receber um
título honorífico no Brasil durante o exercício da Presidência.
Ele afirmou que ficava constrangido quando era convidado
para esse tipo de homenagem
-três universidades já anunciaram que vão homenagear o presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva com títulos de doutor honoris causa. FHC disse que só aceitou a homenagem por estar em
fim de governo e que, por isso,
ninguém poderia dizer que ele
aceitou "por outros motivos".
Apesar de filiado ao PSDB, Candido Mendes apoiou Lula. Também recebeu a homenagem da
universidade o ex-presidente de
Portugal Mário Soares.
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