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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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INSATISFAÇÃO NA BASE

Documento é assinado por outros partidos; MG quer discussão

Petistas lançam manifesto contra 1º acordo com o FMI

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O grupo de deputados petistas que desde o início vem questionando os rumos do governo Luiz Inácio Lula da Silva colheu assinaturas e distribuiu ontem um manifesto contra o anúncio de que o país fechará em dezembro um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o primeiro deste mandato.
Sob o título "É Possível e Necessário não Renovar o Acordo do Brasil com o FMI", o documento contava com 24 assinaturas até o final da tarde de ontem -15 delas de petistas- e veio à tona um dia depois de o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) ter jantado com a bancada federal do PT para tentar contornar as insatisfações.
Os deputados afirmam no manifesto que o acordo "não teria como objetivo melhorar o desempenho da economia nacional e, consequentemente, as condições de vida da população brasileira".
Segundo o texto, é possível, sem a "ingerência do FMI", "sobreviver no mundo globalizado com um projeto nacional de desenvolvimento que recupere a auto-estima da população, reforce os laços de solidariedade e construa uma sociedade cidadã e soberana".
O documento foi organizado, entre outros, pelos deputados federais Chico Alencar (RJ), João Alfredo (CE) e Ivan Valente (SP), três dos oito deputados petistas que se abstiveram na votação do projeto de reforma da Previdência na Câmara e que por isso foram punidos com 60 dias de suspensão, encerrada recentemente.
Assinam também os três deputados da ala radical, que devem ser expulsos da legenda em dezembro: Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE). Entre os signatários de outros partidos estão Luiza Erundina (ex-petista, hoje no PSB-SP) e Raul Jungmann (PPS-PE), ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso. PMDB, PDT, PSDB, PTB e Prona também subscrevem o texto.
Além do manifesto, o grupo organizou na manhã de ontem o seminário "Renovar com o FMI: Para Quê?". "Isso tudo tem um aspecto de continuísmo muito grande", afirmou Alencar.

Carta de Minas
A bancada do PT na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, representada por 15 deputados, entregou ontem ao presidente nacional do partido, José Genoino, uma carta aberta na qual pede uma "ampla discussão" no PT e com os movimentos sociais sobre um novo acordo com o FMI.
"Nosso partido sempre teve um posicionamento crítico ao Fundo [Monetário Internacional], e esse é um tema caro à nossa história. Solicitamos uma ampla discussão nos fóruns partidários e a construção de um consenso acerca dos termos de qualquer relacionamento com agências financeiras multilaterais", diz a carta.
É endereçada também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro José Dirceu (Casa Civil). A maioria dos petistas do Legislativo mineiro representa a tendência interna majoritária no PT, a Articulação. Outra parcela está sintonizada com ela.
A Dirceu, os deputados "apelam" para que o tema seja debatido com a sociedade civil: "Tal gesto, não só pelo sentido de desprendimento do governo, terá o papel de garantir, de fato, uma decisão soberana sobre a necessidade de um acordo de tal monta".
Eles hipotecaram apoio à decisão de Lula de só definir o assunto quando retornar ao país e pelo fato de ele ter dito que "não haverá acordo impeditivo de crescimento de nossa economia".
Genoino, ao receber o documento em um restaurante em Belo Horizonte, garantiu que o partido será ouvido e que as posições dos seus integrantes serão levadas em consideração pelo governo. Afirmou que o tema será discutido na reunião do Diretório Nacional, em dezembro.
Mas como uma espécie de garantia dos interesses petistas, Genoino disse que os termos gerais do acordo são definidos pelo governo, não pelo FMI.
"As condições quem define somos nós, do governo brasileiro, e o partido também vai ser consultado, isso é absolutamente normal", afirmou.


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