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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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CASO CC5

PF encontra com Youssef cheque nominal ao deputado José Janene (PP)

Papéis mostram elo entre doleiro, deputado e policiais

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Documentos apreendidos pela Polícia Federal no último domingo mostram ligações do doleiro Alberto Youssef, 37, com policiais federais e com o deputado federal José Janene, presidente do PP no Estado do Paraná.
Alberto Youssef é considerado um dos principais articuladores do esquema de remessas ilegais de dinheiro para o exterior por meio de contas CC5 (de não-residentes no Brasil) entre os anos de 1996 e 1999.
No último domingo, Youssef foi preso em Londrina (norte do Paraná) por policiais federais da força-tarefa que investiga remessas ilegais de dinheiro para o exterior pelo Banestado (Banco do Estado do Paraná, que foi privatizado em 2000). Essa força-tarefa também é composta por procuradores da República.
Quando foi preso, Youssef levava no bolso um cheque de R$ 150 mil, datado de 2003, assinado pelo advogado Vandocir José dos Santos, nominal ao deputado federal José Janene. No verso do cheque, anotado à mão, o advogado informava ao doleiro que o cheque se referia a "caução pela equivalência de US$ 80 mil".

Ações na Justiça
Advogado em Londrina, Vandocir José dos Santos sofre ação na Justiça Federal por crime de sonegação fiscal. Ele não teria declarado imposto de renda nos últimos cinco anos.
O processo contra Santos ocorreu depois que o Ministério Público do Paraná, que investigava desvios de verbas na Prefeitura de Londrina em 1999, descobriu que o advogado havia comprado, por R$ 450 mil, um apartamento do então prefeito, Antônio Belinati (na época no PFL).
As investigações do Ministério Público do Paraná levaram à cassação, em 2000, do prefeito Antônio Belinati.
O deputado federal José Janene é réu em seis processos que apuram os beneficiados pelas fraudes em Londrina. Ele teve parte de seus bens indisponibilizados pela Justiça.
Também investigado, Alberto Youssef é acusado de abrir contas em nome de laranjas no Banestado, em Londrina, para remeter ao exterior parte do dinheiro desviado no município.

Relações com a PF
Janene e o deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR) são apontados como os responsáveis pela indicação do diretor da divisão da Polícia Federal em Londrina, Sandro Roberto Viana dos Santos.
Youssef tem desde 1997 colaborado com projetos do Sindicato dos Policiais Federais no Paraná.
Em março deste ano, o delegado Nilson Souza foi afastado das investigações sobre o doleiro pela Polícia Federal em Londrina. O Ministério Público Federal descobriu que Souza havia se hospedado em Londrina, em outubro de 1997, com as despesas pagas pela empresa de Youssef, a Youssef Câmbio e Turismo.
Na época, Souza era delegado em Foz do Iguaçu (PR) e foi a Londrina para uma festa da comunidade árabe.
A mesma empresa do doleiro, a Youssef Câmbio e Turismo, patrocinou a impressão de 2.500 cartilhas de um projeto educativo, em 1998, para o Sindicato dos Policiais Federais do Paraná. A cartilha "O Brasileirinho" é cópia de um projeto de policias federais dos Estados Unidos para prevenção às drogas nas escolas.
A Agência Folha teve acesso a cópias do recibo emitido pelo Sindicato dos Policiais Federais do Paraná e do cheque, no valor de R$ 5.000, com o qual a Youssef Câmbio e Turismo pagou pela impressão das cartilhas.
Souza e Santos seriam os incentivadores do projeto "O Brasileirinho" em Londrina.


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