São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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Petista diz que "lamentavelmente" nasceu pobre

MALU DELGADO
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dirigindo-se a uma platéia de grandes empresários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em tom de brincadeira, que "lamentavelmente" nasceu do lado dos pobres. "Criou-se o sofisma de que o Lula quer dividir o Brasil entre ricos e pobres. Não, eu não quero dividir. Já nasci com ele dividido e, lamentavelmente, do lado dos pobres. Poderia ter nascido senhor de engenho, vim da senzala", ironizou, arrancando risadas dos presentes em evento promovido pela revista "Carta Capital", em São Paulo, que premiou as empresas mais admiradas no país. Ao discursar, Lula também ironizou o fato de ter defendido os lucros dos bancos na campanha, enquanto o setor apoiava o candidato adversário. "Vejam que absurdo. E vocês votaram neles, e não em mim." Em seguida, em tom de crítica, disse que a taxa Selic caiu, mas o spread bancário não. Quando referiu-se à mídia, o presidente citou a época da ditadura. "Os mais velhos, da nossa idade, viveram o tempo das receitas de bolo nos jornais, o tempo do pensamento único, em que era proibido falar contra. Agora, é proibido falar a favor", disse, referindo-se a críticas da imprensa a seu governo. O presidente atribuiu sua vitória exclusivamente à "consciência do povo". "Se tem uma coisa que ficou nítida nessa eleição é que neste país existe mais povo que formador de opinião." Afirmou ainda que "a liberdade tem de ser plena, mas liberdade plena exige responsabilidade e seriedade". Ao falar sobre a política econômica, Lula deu os primeiros sinais de que poderá propor um plano de ajuste de longo prazo. "O crescimento que nós queremos para o Brasil não vai se dar em um mandato presidencial. É preciso que a gente pense numa geração ou quem sabe até um pouco mais se nós quisermos fazer uma coisa sólida, madura, que não tenha retorno", afirmou. Em outro momento, sem citar nomes, criticou o presidente dos Estados Unidos, George Bush, apontado como "um cidadão que precisava da guerra porque tinha eleição e era preciso dar justificativa". "Um país foi destruído, uma parte do povo dizimada, sabe Deus quantos anos vai se levar para recuperar aquilo, sem que a gente saiba em que momento a gente vai terminar com o terrorismo no mundo." Um dos homenageados no evento, Jorge Gerdau -que discursou em nome dos empresários- criticou as elites empresariais, sindicais e acadêmicas por demonstrarem "falta de indignação" com o baixo crescimento do país. Citado como possível ministeriável, ele negou, em entrevista, ter intenção de atuar no governo.


Colaborou MARCELO SAKATE , da Reportagem Local

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