São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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Serra prevê rearranjo partidário em 2007

Governador eleito de São Paulo trabalha para ter hegemonia no PSDB e cogita criar nova legenda como estratégia política

Sucessão presidencial de 2010 provoca disputa de poder entre o tucano e o governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador eleito de São Paulo, José Serra, avalia que a eleição deste ano terá como conseqüência um rearranjo partidário. "É quase inevitável que ocorra um rearranjo, uma reacomodação das forças políticas depois das eleições", disse Serra, acrescentando que trabalhará para que o PSDB assuma uma posição mais identificada com as políticas de desenvolvimento: "O PSDB precisa se firmar como partido de oposição e, ao mesmo tempo, estar totalmente comprometido com o desenvolvimento e a promoção de políticas populares", disse o governador eleito pelo telefone, de Nova York. Ele deve ficar fora do país cerca de dez dias.
Serra negou que esteja articulando a formação de um novo partido, conforme noticiou ontem a Folha Online. "Fui avisado pelo noticiário de que estava fazendo contatos que não sabia que havia feito", ironizou.
A criação de um novo partido de centro-esquerda é vista como saída possível para as pretensões eleitorais de Serra caso o rearranjo partidário que vislumbra não resulte na afirmação de sua liderança dentro do PSDB. Isso seria algo projetado para depois da sucessão municipal de 2008. Antes disso, qualquer conversa seria prematura, avalia o tucano. Serra teria a alternativa da nova legenda na cabeça caso a disputa interna no PSDB pela candidatura a presidente em 2010 chegue a um racha insuperável.
Serra trava nos bastidores uma disputa com o governador reeleito de Minas, Aécio Neves, pela postulação futura ao Planalto. Como Aécio flerta com o PMDB e um "centro mais fisiológico" (PP, PL e PTB), a eventual saída do mineiro do partido enfraqueceria o PSDB. Nesse contexto, Serra estuda se não seria melhor criar uma nova marca, com cores de centro-esquerda mais nítidas do que as do PSDB.
Apesar de Serra e Aécio terem acertado uma espécie de pacto de boa convivência e de pretenderem adotar posição moderada em relação a Lula no início do segundo mandato do petista, os dois tucanos deverão tomar caminhos diferentes até 2010.
Serra quer se preservar como líder da centro-esquerda anti-Lula e assumir essa posição com agressividade mais à frente. Algo conservador, Aécio busca maior aproximação com o Planalto e com forças políticas de centro, como o PMDB governista.

Gestão FHC
Segundo apurou a Folha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é refratário à idéia de novo partido. Ele desaprova o que julga excesso de cortesia de Aécio em relação a Lula. Diz que o governador de Minas poderá ser um "inocente útil" do petista no propósito de divisão dos tucanos.
FHC prega uma reformulação do PSDB, com forte defesa de seus dois governos (1995-1998 e 1999-2002). Aliados de Serra afirmam, porém, que as duas últimas eleições presidenciais mostraram que o eleitorado tem imagem negativa do PSDB e das administrações do ex-presidente.
A "marca" PSDB estaria queimada como partido de esquerda, selo que, no segundo turno da eleição presidencial, ficou nas mãos do PT. No entanto, serristas argumentam que o PT está hoje à direita das idéias do governador eleito de São Paulo.
Serra considera que se firmou nacionalmente como "a esquerda moderna" capaz de assumir um projeto desenvolvimentista sem criar a sensação de descontrole das contas públicas e de leniência com a inflação. Ou seja, sem aventuras e sem assustar o mercado financeiro.

Os quadros
Os quadros desse eventual partido dos sonhos do futuro governador de São Paulo viriam de praticamente todas as legendas, desde o próprio PSDB até o PP gaúcho -que está à direita no espectro político-, passando por PMDB, PPS, PSB, PDT, PV e sem descartar parlamentares e ex-parlamentares do PT.
Entre os nomes citados estão o ex-governador e agora senador eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Roberto Freire (PPS-PE), Jutahy Magalhães Jr. (PSDB-BA), Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Júlio Delgado (PSB-MG).
Serra não descartaria, também, nomes sem mandato, como o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, cotado para uma pasta no segundo mandato de Lula.
No PMDB, Serra tem contato ainda com a ala que fez oposição a Lula no primeiro mandato. Esse grupo é integrado, por exemplo, pelo presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), que já demonstra interesse pela nova legenda. (ELIANE CANTANHÊDE E KENNEDY ALENCAR)

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