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Serra prevê rearranjo partidário em 2007
Governador eleito de São Paulo trabalha para ter hegemonia no PSDB e cogita criar nova legenda como estratégia política
Sucessão presidencial de 2010 provoca disputa de poder entre o tucano e
o governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governador eleito de São
Paulo, José Serra, avalia que a
eleição deste ano terá como
conseqüência um rearranjo
partidário. "É quase inevitável
que ocorra um rearranjo, uma
reacomodação das forças políticas depois das eleições", disse
Serra, acrescentando que trabalhará para que o PSDB assuma uma posição mais identificada com as políticas de desenvolvimento: "O PSDB precisa
se firmar como partido de oposição e, ao mesmo tempo, estar
totalmente comprometido
com o desenvolvimento e a
promoção de políticas populares", disse o governador eleito
pelo telefone, de Nova York.
Ele deve ficar fora do país cerca
de dez dias.
Serra negou que esteja articulando a formação de um novo partido, conforme noticiou
ontem a Folha Online. "Fui avisado pelo noticiário de que estava fazendo contatos que não
sabia que havia feito", ironizou.
A criação de um novo partido
de centro-esquerda é vista como saída possível para as pretensões eleitorais de Serra caso
o rearranjo partidário que vislumbra não resulte na afirmação de sua liderança dentro do
PSDB. Isso seria algo projetado
para depois da sucessão municipal de 2008. Antes disso,
qualquer conversa seria prematura, avalia o tucano. Serra
teria a alternativa da nova legenda na cabeça caso a disputa
interna no PSDB pela candidatura a presidente em 2010 chegue a um racha insuperável.
Serra trava nos bastidores
uma disputa com o governador
reeleito de Minas, Aécio Neves,
pela postulação futura ao Planalto. Como Aécio flerta com o
PMDB e um "centro mais fisiológico" (PP, PL e PTB), a eventual saída do mineiro do partido enfraqueceria o PSDB. Nesse contexto, Serra estuda se não
seria melhor criar uma nova
marca, com cores de centro-esquerda mais nítidas do que as
do PSDB.
Apesar de Serra e Aécio terem acertado uma espécie de
pacto de boa convivência e de
pretenderem adotar posição
moderada em relação a Lula no
início do segundo mandato do
petista, os dois tucanos deverão
tomar caminhos diferentes até
2010.
Serra quer se preservar como
líder da centro-esquerda anti-Lula e assumir essa posição
com agressividade mais à frente. Algo conservador, Aécio
busca maior aproximação com
o Planalto e com forças políticas de centro, como o PMDB
governista.
Gestão FHC
Segundo apurou a Folha, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é refratário à
idéia de novo partido. Ele desaprova o que julga excesso de
cortesia de Aécio em relação a
Lula. Diz que o governador de
Minas poderá ser um "inocente
útil" do petista no propósito de
divisão dos tucanos.
FHC prega uma reformulação do PSDB, com forte defesa
de seus dois governos (1995-1998 e 1999-2002). Aliados de
Serra afirmam, porém, que as
duas últimas eleições presidenciais mostraram que o eleitorado tem imagem negativa do
PSDB e das administrações do
ex-presidente.
A "marca" PSDB estaria
queimada como partido de esquerda, selo que, no segundo
turno da eleição presidencial,
ficou nas mãos do PT. No entanto, serristas argumentam
que o PT está hoje à direita das
idéias do governador eleito de
São Paulo.
Serra considera que se firmou nacionalmente como "a
esquerda moderna" capaz de
assumir um projeto desenvolvimentista sem criar a sensação de descontrole das contas
públicas e de leniência com a
inflação. Ou seja, sem aventuras e sem assustar o mercado
financeiro.
Os quadros
Os quadros desse eventual
partido dos sonhos do futuro
governador de São Paulo viriam de praticamente todas as
legendas, desde o próprio
PSDB até o PP gaúcho -que está à direita no espectro político-, passando por PMDB, PPS,
PSB, PDT, PV e sem descartar
parlamentares e ex-parlamentares do PT.
Entre os nomes citados estão
o ex-governador e agora senador eleito Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE), os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Roberto Freire (PPS-PE),
Jutahy Magalhães Jr. (PSDB-BA), Eduardo Paes (PSDB-RJ)
e Júlio Delgado (PSB-MG).
Serra não descartaria, também, nomes sem mandato, como o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal
Federal Nelson Jobim, cotado
para uma pasta no segundo
mandato de Lula.
No PMDB, Serra tem contato
ainda com a ala que fez oposição a Lula no primeiro mandato. Esse grupo é integrado, por
exemplo, pelo presidente do
partido, deputado Michel Temer (SP), que já demonstra interesse pela nova legenda.
(ELIANE CANTANHÊDE E KENNEDY ALENCAR)
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