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Ditadura negociou anistia "de mão dupla", diz historiadora
ANA FLOR
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Criada na etapa final da ditadura militar, a Lei da Anistia foi
uma forma de o governo, então
sob forte pressão da sociedade
civil, preparar o fim do regime
com a garantia de que os abusos
de seus agentes ficariam impunes. A historiadora Maria Aparecida Aquino, da USP, diz que
na época os movimentos populares reivindicavam uma anistia "ampla, geral e irrestrita".
O governo começou a negociação defendendo o benefício
apenas para alguns crimes. Ao
final, teria "aceitado" universalizar os direitos: "Foi a anistia
de mão dupla", disse Aquino.
A lei concedeu anistia para
aqueles que tiveram os direitos
políticos suspensos ou foram
punidos com base em leis do regime, de um lado, e também para os que cometeram crimes
políticos e delitos conexos, de
outro. Agora o principal debate
jurídico sobre a lei refere-se à
inclusão da prática da tortura
entre esses "crimes conexos".
Segundo Aquino, é inevitável
que se discuta revisões na lei:
"Pode levar mais tempo e, assim, ser mais doloroso, mas é
inevitável". A cientista política
Glenda Mezarobba diz que o
texto legal iniciou o processo de
acerto de contas sobre a ditadura, o que teria contrariado a
vontade do regime. Ela sustenta ainda que o regime concedeu
uma auto-anistia, o que não é
aceitável mundialmente.
O professor da USP Fábio
Konder Comparato, autor da
petição da ação apresentada ao
STF pelo Conselho Federal da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), para pedir que o tribunal declare que a Lei da Anistia
não beneficia torturadores, usa
um argumento semelhante. Segundo ele, leis internacionais
proíbem a criação de leis de
"auto-anistia" por governos para beneficiar seus agentes.
De posição contrária, Miguel
Reale Júnior, da USP, que participou do grupo da OAB que
propôs emendas à lei, diz que
ela abrange quem torturou. O
advogado afirma que seria preferível que os torturadores pudessem ser punidos, mas essa
previsão legal foi necessária para atender "aos interesse de pacificação social" da época.
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