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TRAUMA NA TRANSIÇÃO
Após reunião com Armínio Fraga, presidente eleito já admite hipótese de manter atual titular no cargo
Sem nome no BC, PT estuda opções a Bodin
DO PAINEL S.A.
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de passar sete horas reunido ontem com a cúpula do PT
na Granja do Torto, em Brasília, o
presidente eleito, Luiz Inácio Lula
da Silva, segue sem a definição de
quem será o presidente do Banco
Central do governo petista.
Há pelo menos três possibilidades em estudo. A primeira, e que
voltou a ganhar força nos últimos
dias, é a de insistir no convite feito
ao economista Pedro Luiz Bodin
de Moraes, presidente do Banco
Icatu.
Outra possibilidade é a de manter Armínio Fraga na presidência
do BC pelo menos por alguns meses, embora Lula tenha negado essa hipótese há alguns dias. O economista José Júlio Senna, sócio da
MCM Consultores Associados, é
outro nome que figura na lista de
possibilidades do PT.
A hipótese de manter Armínio
por mais tempo passou a ser considerada por Lula após se reunir,
na quinta-feira, com o presidente
do BC no hangar de uma companhia aérea, em Brasília.
Lula, que nunca havia estado
pessoalmente com Armínio, saiu
bastante impressionado com o
economista, e passou a aceitar a
hipótese de sua permanência no
Banco Central. O assunto foi discutido ontem na reunião.
No encontro de quinta, o próprio presidente do BC se prontificou a ajudar o PT no trabalho de
fazer mais um esforço para convencer Bodin [pronuncia-se Bodã] a aceitar o cargo.
Bodin, 46, é muito amigo de Armínio. Os dois são cariocas e foram contemporâneos na Faculdade de Economia da PUC e diretores do BC em 91 e 92, no governo
Collor. Ambos são liberais, discretos e defensores da tese de independência do Banco Central.
As resistências de Bodin em
aceitar o convite do PT são muito
grandes. Ele quer, em primeiro
lugar, a garantia de que o BC terá
autonomia para atuar, como goza
atualmente Armínio Fraga. As lideranças do PT decidiram, ontem, fazer novos esforços para
convencê-lo.
Bodin está nesta semana com a
mulher, Suzana, numa praia na
Bahia. Ele desembarca hoje, no
Rio, e deverá ter uma nova conversa, dessa vez definitiva, com as
lideranças do PT. A amigos, Bodin tem afirmado que, pelo menos num primeiro momento, não
irá para o governo. Ele quer ver os
primeiros passos do PT para saber que rumo será dado para a
política econômica.
Dessa forma, a Folha apurou
que não está descartada a possibilidade de Armínio continuar a
frente do BC por um período, para Bodin, mais a frente, assumir a
presidência da instituição.
O coordenador da equipe de
transição do PT, Antônio Palocci
Filho, disse ontem não conhecer
casos de recusas a convites para
integrar a equipe do presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
"Sinceramente, eu digo a vocês
que não conheço nenhum caso de
alguém que tenha recusado um
convite do presidente Lula", afirmou Palocci a jornalistas que o
questionavam sobre a indefinição
a respeito do futuro presidente do
BC. Nas entrelinhas, está a confusão armada em torno de Bodin.
Anteontem, a cúpula petista decidiu insistir com Bodin, e a perspectiva de um "sim" ajudou a derrubar ontem o dólar.
Palocci minimizou os movimentos dos investidores: "Assim
como ontem [anteontem] o dólar
subiu, hoje [ontem] caiu". E negou divergências na área econômica entre os petistas: "Há, isso
sim, uma discussão de nomes".
Na confusa entrevista que concedeu no prédio do Banco do Brasil que abriga os trabalhos da
transição, Palocci não quis responder por que, se não houve recusas, o próximo presidente do
BC permanecia indefinido. Repetiu, em diversos momentos, que
questões em torno de nomes deveriam ser dirigidas a Lula.
O PT terá de correr se quiser
viabilizar a troca no BC antes da
posse, porque o nome precisa ser
aprovado pelo Senado.
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