São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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TRAUMA NA TRANSIÇÃO

Após reunião com Armínio Fraga, presidente eleito já admite hipótese de manter atual titular no cargo

Sem nome no BC, PT estuda opções a Bodin

DO PAINEL S.A.
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de passar sete horas reunido ontem com a cúpula do PT na Granja do Torto, em Brasília, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, segue sem a definição de quem será o presidente do Banco Central do governo petista.
Há pelo menos três possibilidades em estudo. A primeira, e que voltou a ganhar força nos últimos dias, é a de insistir no convite feito ao economista Pedro Luiz Bodin de Moraes, presidente do Banco Icatu.
Outra possibilidade é a de manter Armínio Fraga na presidência do BC pelo menos por alguns meses, embora Lula tenha negado essa hipótese há alguns dias. O economista José Júlio Senna, sócio da MCM Consultores Associados, é outro nome que figura na lista de possibilidades do PT.
A hipótese de manter Armínio por mais tempo passou a ser considerada por Lula após se reunir, na quinta-feira, com o presidente do BC no hangar de uma companhia aérea, em Brasília.
Lula, que nunca havia estado pessoalmente com Armínio, saiu bastante impressionado com o economista, e passou a aceitar a hipótese de sua permanência no Banco Central. O assunto foi discutido ontem na reunião.
No encontro de quinta, o próprio presidente do BC se prontificou a ajudar o PT no trabalho de fazer mais um esforço para convencer Bodin [pronuncia-se Bodã] a aceitar o cargo.
Bodin, 46, é muito amigo de Armínio. Os dois são cariocas e foram contemporâneos na Faculdade de Economia da PUC e diretores do BC em 91 e 92, no governo Collor. Ambos são liberais, discretos e defensores da tese de independência do Banco Central.
As resistências de Bodin em aceitar o convite do PT são muito grandes. Ele quer, em primeiro lugar, a garantia de que o BC terá autonomia para atuar, como goza atualmente Armínio Fraga. As lideranças do PT decidiram, ontem, fazer novos esforços para convencê-lo.
Bodin está nesta semana com a mulher, Suzana, numa praia na Bahia. Ele desembarca hoje, no Rio, e deverá ter uma nova conversa, dessa vez definitiva, com as lideranças do PT. A amigos, Bodin tem afirmado que, pelo menos num primeiro momento, não irá para o governo. Ele quer ver os primeiros passos do PT para saber que rumo será dado para a política econômica.
Dessa forma, a Folha apurou que não está descartada a possibilidade de Armínio continuar a frente do BC por um período, para Bodin, mais a frente, assumir a presidência da instituição.
O coordenador da equipe de transição do PT, Antônio Palocci Filho, disse ontem não conhecer casos de recusas a convites para integrar a equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
"Sinceramente, eu digo a vocês que não conheço nenhum caso de alguém que tenha recusado um convite do presidente Lula", afirmou Palocci a jornalistas que o questionavam sobre a indefinição a respeito do futuro presidente do BC. Nas entrelinhas, está a confusão armada em torno de Bodin. Anteontem, a cúpula petista decidiu insistir com Bodin, e a perspectiva de um "sim" ajudou a derrubar ontem o dólar.
Palocci minimizou os movimentos dos investidores: "Assim como ontem [anteontem] o dólar subiu, hoje [ontem] caiu". E negou divergências na área econômica entre os petistas: "Há, isso sim, uma discussão de nomes".
Na confusa entrevista que concedeu no prédio do Banco do Brasil que abriga os trabalhos da transição, Palocci não quis responder por que, se não houve recusas, o próximo presidente do BC permanecia indefinido. Repetiu, em diversos momentos, que questões em torno de nomes deveriam ser dirigidas a Lula.
O PT terá de correr se quiser viabilizar a troca no BC antes da posse, porque o nome precisa ser aprovado pelo Senado.


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