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MEMÓRIA
Publicação questiona relevância da Inconfidência Mineira e de Tiradentes
PSDB lança série polêmica sobre a história do Brasil
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PSDB, partido do presidente
Fernando Henrique Cardoso, está
recontando a história do Brasil. E
de forma polêmica. Logo no primeiro capítulo, a nova história
demole um dos maiores mitos da
história oficial, Joaquim José da
Silva Xavier, o Tiradentes.
O Instituto Teotônio Vilela, órgão de pesquisas e estudos do partido, está publicando a coleção
"Sociedade e História do Brasil",
composta de 15 volumes, que
conta por meio de um texto simples -enriquecido por curiosidades, perguntas para reflexões, fatos do cotidiano dos principais
personagens e ilustrações-, a
história brasileira dos séculos 18,
19 e 20.
A obra patrocinada pelos tucanos desmistifica a Inconfidência
Mineira e reabilita a Inconfidência Baiana de 1798 (movimento
que alcança destaque muito menor nos livros didáticos que o mineiro) como uma verdadeira revolução social.
Enquanto a primeira é descrita
como movimento da elite provincial descontente com Portugal, a
segunda é vista como movimento
popular. E recomenda a seguinte
reflexão: ""Por que a Inconfidência
Baiana, enraizada no ideário de liberdade e igualdade, não alcançou, na história oficial, o destaque
da Inconfidência Mineira?"
Mais adiante, os fascículos descrevem a censura à imprensa e a
corrupção desenfreada dos primeiros anos da República.
O presidente João Goulart, derrubado pelo Movimento Militar
de 1964, é tratado como um ""banana", segundo o historiador
Marco Antonio Villa, professor
da Universidade Federal de São
Carlos, responsável pelo texto.
Goulart será personagem de um
dos fascículos ainda inéditos.
Entre os seis fascículos já editados, há trechos de Olavo Bilac
que, como funcionário do governo do Estado do Rio de Janeiro,
dava despachos nos processos em
forma de versos.
Certa vez, em pedido de licença
médica da professora Ana Maldonado, Bilac escreveu:
""Se dona Ana Maldonado/ For
uma bela mulher,/ Tenha o dobro
do ordenado/ E do Tempo que requer./ Mas se for velha e metida,/
O que se chama um canhão,/ Seja
logo demitida,/ Sem maior contemplação."
Piada
Em sua maior parte, o texto é
bem-humorado. Há uma piada
sobre Deodoro da Fonseca, divulgada pelos jornais da época em
que ele era presidente do Governo
Provisório e houve a separação
entre a Igreja Católica e o Estado.
Na anedota, um padre pergunta
ao presidente se o governo iria
manter a côngrua, pensão que se
concedia aos padres. E o presidente mostra ignorar o assunto.
""O governo conserva a côngrua? Deodoro olhou vagarosamente para o seu interlocutor e
respondeu sem convicção: "Então
não havia de conservar? Conserva, sim senhor". Bom...respondeu
o padre.
Quando o padre ia se retirando,
Deodoro perguntou-lhe: Padre...Não repare na minha pergunta, mas estou intrigado. Que
coisa é côngrua? E o sacerdote esfregou o polegar no índex e explicou que se tratava do pagamento
pelos trabalhos eclesiásticos.
Imediatamente, o presidente
respondeu: "Ah! É isso? Não conserva, não senhor! Julguei que fosse outra coisa!"."
Tiradentes
Logo no primeiro volume, Tiradentes perde o posto de líder da
Inconfidência Mineira (1789),
que, por sua vez, é relatado como
um movimento de elite, que visava o perdão dos devedores da Fazenda Real.
O alferes Joaquim José da Silva
Xavier nunca teria feito parte da
liderança da Inconfidência Mineira e teria sido morto e esquartejado só para servir de exemplo e ridicularizar o movimento, arquitetado de fato pela elite de Minas
Gerais, que enfrentava dificuldades em pagar impostos atrasados
à Coroa.
""Nascia uma vítima e também
um herói. Essa foi a imagem legada pela história oficial", diz um
trecho.
A coleção completa chega até o
segundo governo Fernando Henrique Cardoso. Nesse ponto, Villa reconhece que o trabalho é
mais jornalístico do que histórico.
Segundo ele, a proximidade dos
fatos impede uma análise histórica sobre o significado de FHC e de
seu governo para o país.
Por isso, no fascículo que trata
de suas duas gestões -ainda inédito- os fatos serão relatados
sob o ponto de vista do governo e
da oposição, ""deixando o leitor
ter a posição que desejar, lendo as
duas versões", disse Villa.
Especulação financeira
A leitura aponta a inflação e a
especulação financeira como coisas antigas na história do país. Villa destaca o fenômeno econômico chamado de ""encilhamento",
provocado com o novo sistema financeiro estabelecido por Rui
Barbosa, na pasta da Fazenda, entre 1889 e 1892.
Com o objetivo de estimular a
economia republicada, o crédito
foi facilitado, os bancos ganharam liberdade e foi emitida grande quantidade de papel moeda. O
resultado foi um desenfreado jogo de especulação financeira e inflação desordenada, com taxas
cambiais favorecendo as moedas
estrangeiras.
No fascículo, o leitor atento vai
encontrar informações curiosas,
como a insólita homenagem a
Deodoro da Fonseca, promovido
a ""generalíssimo" por aclamação
popular, que estendeu a promoção para todos os ministros civis,
dando-lhes a patente de general
de brigada.
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