|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEMÓRIA
Para Marco Antonio Villa, a meta é mostrar interpretação da história
Historiador diz que série busca visão independente
Eduardo Knapp - 17.jul.97/Folha Imagem
|
O historiador Marcos Antonio Villa, responsável pela empreitada |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O professor Marco Antonio Villa, responsável pela nova versão
da história do Brasil contada pelo
PSDB, não é filiado ao partido.
Satisfeito com o resultado (ele
temia ser simplista ou panfletário), Villa espera que os fascículos
possam ajudar o debate da história nas salas de aula, tornando a
disciplina mais agradável.
Segundo ele, o leitor vai encontrar no texto ""uma interpretação"
independente da história do Brasil e não ""a" interpretação.
Diante de reflexões e opiniões
contraditórias de sociólogos, historiadores, economistas e outros,
o leitor será motivado a ter sua
própria compreensão dos fatos.
Leia, a seguir, trechos da entrevista do historiador Villa à Folha.
(RAQUEL ULHÔA)
Folha - No primeiro fascículo, o sr.
demoliu o mito de Tiradentes. Há
outros casos, ao longo da coleção?
Marco Antonio Villa - Tem sim. A
historiografia acabou consagrando que o Império era atraso, e a
República, o progresso. Procuramos demonstrar que não é tão
simples assim. A República significa um golpe militar reacionário
e conservador e teve um significado anti-negro muito forte.
Folha - Quais seriam os principais
personagens da nossa história?
Villa - D. Pedro 1º é um personagem contraditório.
Faz um discurso liberal e teve
uma prática autoritária, o que representa muito uma tendência no
Brasil até hoje.
A grande figura do século 19 é d.
Pedro 2º. Ficou 50 anos como
chefe de Estado. Nunca foi acusado de um ato de corrupção e tinha
séria preocupação com os negócios públicos.
Logo após o 15 de Novembro,
vem uma corrupção deslavada. A
política do encilhamento é terrível, porque há um enriquecimento ilícito de muita gente. A República, paradoxalmente, acabou
transformando a coisa pública em
coisa privada.
Folha - Na história mais recente,
quais os personagens que o sr. destaca?
Villa - Teotônio Vilela, que tem
um câncer terrível e passa a ter
um papel fundamental na abertura democrática. Ulysses Guimarães, que tem um papel importante na luta contra a ditadura.
Eu tenho a simpatia pessoal por
todos aqueles que se posicionam
contra a ditadura: (Carlos) Lamarca, (Carlos) Marighella, tantos outros...Cito todos esses...Os
estudantes de 68 também...
Folha - Como o sr. trata esse período do regime militar?
Villa - É um assunto espinhoso
esse. A história é um problema. É
um terreno pantanoso. É difícil
tratar. Tudo tem implicação com
o presente. E esse é um passado
muito recente.
Também é o caso de 64. Na história, não existe o condicional
""se", mas em 64 talvez não tivéssemos o golpe se o presidente não
fosse um banana como era o João
Goulart, um inconsequente, incapacitado para o cargo.
Nesse tema personagens, se d.
Pedro 2º é o mito do século 19, o
grande mito do século 20 é Getúlio Vargas.
Se, de um lado, há conquistas
importantes dos trabalhadores no
longo período varguista, por outro, a gente não pode esquecer a
barbárie do Estado Novo. A repressão, a censura, quantos não
foram assassinados nas prisões? O
suicídio acaba sendo um gesto
que impede o golpe de Estado que
a UDN estava montando. Você
pode dizer que ele atrasou o golpe
de Estado em dez anos.
Folha - E o governo atual, como o
sr. trata?
Villa - Esse é um outro ponto delicado, pela proximidade histórica. Então preferi apenas colocar
os fatos, deixando a interpretação
para o leitor.
No caso das privatizações, por
exemplo, coloquei a versão do governo e a da oposição.
Texto Anterior: Memória: PSDB lança série polêmica sobre a história do Brasil Próximo Texto: Questão agrária: Jungmann suspeita de cartórios no AM Índice
|