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QUESTÃO AGRÁRIA
Ministro crê na existência de "rede criminosa" que estaria favorecendo grileiros na região amazônica
Jungmann suspeita de cartórios no AM
MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma "rede criminosa de cartórios" estaria atuando de má-fe na
Amazônia para favorecer grileiros na apropriação indevida de
terras públicas usando documentos falsos. A constatação é do próprio ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann.
Segundo ele, "só isso justifica
que os cartórios possam estar fornecendo a grileiros documentos
que são comprovadamente falsos". Jungmann afirma que o Incra já identificou cerca de 50 cartórios envolvidos com grilagem
de terras públicas em todo o país,
boa parte deles naquela região.
Só no Estado do Amazonas,
considerado pelo Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) "o ambiente ideal para a grilagem", quase um terço do
território, ou 55 milhões de hectares, está nas mãos de grileiros.
O dado consta do "Livro Branco
da Grilagem", levantamento divulgado pelo Incra em outubro, e
dá apenas uma idéia da extensão
do problema na região que tem o
maior latifundiário do país, o
acreano Falb Saraiva de Farias.
Na semana passada, a Folha revelou que Farias é citado como
detentor de 10 milhões de hectares na Amazônia. O empresário
Cecílio do Rego Almeida, com 7
milhões de hectares, era até então
o maior latifundiário brasileiro.
Segundo Jungmann, as investigações da procuradoria do Incra
no Amazonas indicam que Farias
é apenas um testa-de-ferro de organizações ou pessoas que usam a
especulação ilegal de terras para
lavar dinheiro do narcotráfico no
país, justificando com as transações as injeções de recursos em
contas bancárias no Brasil.
As investigações mostram que
Farias trabalha em colaboração
com os cartórios, que, segundo
Jungmann, ignoram as recomendações do Incra e adulteram certidões de posse para caraterizar a
propriedade dos grileiros.
A principal suspeita do Incra é
que a ONG Fundação Amazonas
Forever Green seja a fachada das
operações ilegais de Farias. O megalatifundiário diz ser um dos
fundadores da ONG e que doou
100 mil hectares a ela para contribuir na preservação da selva.
Jungmann diz não acreditar que
os 10 milhões de hectares registrados em cartório em nome de Farias realmente existam. Segundo
ele, as investigações do Incra já
comprovaram que há pessoas cuja extensão das terras num determinado Estado é maior que o seu
território inteiro, o que prova que
as terras só existem no papel.
Para tentar resolver o problema,
Jungmann irá ao Amazonas nesta
semana junto com o ministro da
Segurança Institucional, general
Alberto Cardoso, e o diretor-geral
adjunto da Polícia Federal, Wilson Damásio. Jungmann irá reunir-se com representantes da Receita Federal, do Ministério Público e do Judiciário, a quem ele atribui "uma certa leniência e, em alguns casos, até mais do que isso,
no tratamento da questão". Segundo ele, muitos títulos de grileiros teriam sido reconhecidos pela
Justiça mesmo após o governo ter
dito que as terras pertenciam à
União. Parte dessas terras já teve
seus títulos cancelados por uma
portaria que anulou os cadastros
rurais de todas as propriedades
com mais de 10 mil hectares. Muitos proprietários não apareceram
para recadastrar as terras.
Outro problema, diz Jungmann, é o fato de alguns dos compradores serem ONGs internacionais. Para o ministro, "é um absurdo" considerar a possibilidade
de entrar em disputa com entidades por áreas públicas muitas vezes localizadas nas fronteiras.
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