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QUESTÃO INDÍGENA
Denúncias de abusos sexuais de índias e de alcoolismo após contato com militares motivam decisão
Juiz proíbe posto militar perto de reserva
ANDRÉA DE LIMA
DA AGÊNCIA FOLHA
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
A Justiça Federal de Roraima
proibiu, em decisão provisória, a
construção de um pelotão do
Exército em regiões de fronteira
nas imediações de reservas indígenas. O motivo são as constantes
denúncias de abuso sexual de índias e alcoolismo provocado pelo
contato com os militares.
A liminar foi concedida a pedido das comunidades indígenas do
Uiramutã, localizada na reserva
Raposa Serra do Sol. Nas proximidades, os militares estão construindo bases do 6º PEF (Pelotão
Especial de Fronteira).
Na reserva, de 1,6 milhão de
hectares, vivem 12.600 índios das
etnias macuxi, wapixana, taurepang, ingaricó e patamona, em 86
comunidades.
A área já foi demarcada, mas
não ainda não foi homologada
pelo governo federal.
Prostituição e alcoolismo
O juiz substituto da 2ª Vara Federal, Helder Girão Barreto, alegou ter tomado a decisão a partir
de depoimentos dos índios, que
relataram casos de prostituição e
alcoolismo no contato com os militares, e da publicação, a partir de
outubro passado, de reportagens
sobre o tema na Folha.
A decisão afeta uma das áreas de
fronteira ocupadas dentro dos
planos do Projeto Calha Norte, de
defesa da região amazônica brasileira.
O projeto recebeu um reforço
no ano passado para fazer frente à
ameaça de invasão do território
do país por narcotraficantes e
guerrilheiros devido à ação do
Plano Colômbia, esforço antidrogas do governo colombiano que
tem apoio dos Estados Unidos.
O juiz contesta a argumentação
dos militares sobre a necessidade
de pelotões na região por questões de segurança nacional.
"Achei melhor, por cautela, impedir a construção desse pelotão
próximo à reserva. Os índios reclamam da proximidade das instalações militares de suas aldeias,
mas não são contrários a elas nas
zonas de fronteiras", declarou
Barreto.
O Ministério da Defesa afirma
não ter sido notificado sobre a decisão (leia texto nesta página).
De acordo com a Justiça Federal, o processo ainda vai ser instruído.
"A Advocacia Geral da União já
foi notificada e deve contestar essa minha decisão. Devo requisitar
uma perícia na área. Esse processo deve tramitar durante um ano.
De imediato, esse despacho impede a continuidade das obras", disse o juiz.
"Luta árdua"
Para o coordenador do CIR
(Conselho Indígena de Roraima),
o índio macuxi Jerônimo Pereira,
a decisão judicial é um exemplo
de uma "luta árdua" contra o envolvimento de índias com os militares.
"Eles se engraçam pelas índias e
depois vão embora, deixando elas
sozinhas com os filhos."
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