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QUESTÃO INDÍGENA
Estradas de acesso à capital de Roraima continuam bloqueadas no 2º dia de protestos contra reserva
Isolada, Boa Vista sofre falta de combustível
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
A cidade de Boa Vista começou
ontem a enfrentar a falta de combustíveis em razão do bloqueio
das estradas do Estado pelos manifestantes que protestam contra
a homologação da terra indígena
Raposa/ Serra do Sol, em Roraima. Fazendeiros e garimpeiros do
Estado condenam a homologação. Os índios estão divididos.
Ao final do segundo dia de protestos, 90% dos cerca de 40 postos
da capital já estavam sem combustível, segundo o presidente interino do Sindicato do Comércio
Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Roraima, Abel
Mesquita. O centro de distribuição da Petrobras fica em Caracaraí, a 134 km de Boa Vista. Com o
bloqueio, os caminhões não conseguem alcançar a capital.
Os comerciantes de Boa Vista
baixaram as portas em apoio aos
manifestantes, tal como já haviam
feito no dia anterior. As sedes da
Funai (Fundação Nacional do Índio) e do Incra (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária) permaneciam invadidas por
manifestantes. Até a conclusão
desta edição, um missionário e
dois padres tomados anteontem
como reféns continuavam detidos, segundo a Polícia Federal.
Ontem pela manhã, um grupo
com cerca de 20 indígenas tentou
invadir o prédio da catedral de
Boa Vista, mas não teve êxito. Segundo o padre Edson Damian, os
índios entraram na igreja e o
ameaçaram. "Eles disseram que
voltariam, com mais gente, e invadiriam a igreja", declarou.
Após ser ameaçado, o padre
chamou a polícia, que interceptou
o grupo -que viajava em duas
camionetes- nos arredores da
catedral. Os indígenas foram levados para a Funai.
Protestos
Os protestos começaram anteontem, 15 dias depois que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, anunciou que será realizada ainda neste mês a homologação da terra indígena Raposa/
Serra Sol -uma área que compreende uma extensão de terra de
1,75 milhão de hectares, equivalente a quase 12 vezes o território
do município de São Paulo.
Dentro da área, vivem, segundo
dados do Censo 2000, 19 mil pessoas, sendo 7.000 não-índios. De
acordo com o Ministério da Justiça, ao todo, há hoje 14.719 índios
na área. A principal queixa dos
manifestantes é que a proposta do
Ministério da Justiça vai homologar a área como contínua, ou seja,
incluindo as cidades e plantações
(sobretudo de arroz) dentro de
seus limites. Com isso, os não-índios -fazendeiros e garimpeiros- terão de ser removidos.
Alguns índios são contrários à
homologação da reserva como
contínua porque alegam que as
comunidades indígenas ficariam
isoladas dentro da reserva.
"Manipulação"
Outros índios, favoráveis à medida, acham que o isolamento
não ocorrerá e que eles serão beneficiados com a homologação.
O chefe de divisão de assistência
da Funai em Boa Vista, Manoel
Tavares, disse que os índios que
são contrários à homologação da
reserva são manipulados pelos
produtores de arroz do Estado.
"Esses protestos são orquestrados pelos produtores de arroz,
que manipulam as lideranças indígenas", declarou Tavares. Segundo Tavares, a Funai aguarda
que a polícia retire os manifestantes do prédio da sede do órgão.
Para o coordenador do CIR
(Conselho Indígena de Roraima),
Jaci José de Souza, que é favorável
à homologação da terra indígena
como uma área contínua, a culpa
pelos protestos é do governo federal: "Se era para homologar a área,
o governo federal tinha de ter feito
isso, e não avisado antes. Com o
aviso por parte do ministro da
Justiça, as pessoas que são contrárias à homologação tiveram tempo para se organizar", disse.
Colaborou ALESSANDRA KORMANN,
da Agência Folha
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