São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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AJUSTE PETISTA

Presidente faz declaração em reunião ministerial, após afirmar que "todo mundo é igual", em referência ao "gerente"

Ministros podem reclamar de Dirceu, diz Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Todo mundo é igual", disse anteontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos ministros na primeira reunião da equipe no ano, ao explicar o papel de "gerente" do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Segundo relato de ministros à Folha, o presidente Lula deixou claro que Dirceu não será um interventor.
"Quero que vocês não entendam isso [a maior dedicação de Dirceu ao gerenciamento] como intromissão indevida. Podem continuar a se encontrar comigo e a me telefonar, até para reclamar do Zé Dirceu", disse Lula, em tom descontraído.
O presidente afirmou que dividiu as atribuições da Casa Civil, dando ao deputado federal Aldo Rebelo a articulação política, para que Dirceu se concentre na coordenação de ações dos ministérios.
"Quero um gerenciamento mais ágil. Quero o Zé Dirceu sentado só em cima disso", afirmou o presidente, sempre de acordo com a versão de ministros.
Antes, Lula havia dito que o chefe da Casa Civil estaria mais disponível para conversas com ministros e recomendado essa prática a todos.
Apesar do tom de brincadeira, os ministros entenderam a declaração de Lula como um recado para que Dirceu -que terá, sim, mais poder para coordenar ações de ministério- não se comporte como presidente.
Durante a última viagem ao exterior, Lula ficou contrariado com o estilo "primeiro-ministro" assumido por Dirceu e o enquadrou.
O presidente repetiu na reunião ministerial que deseja que seu auxiliar "trabalhe mais para dentro do governo".
Lula disse aos ministros que escolherá alguns projetos prioritários e que deseja "que todos joguem os recursos para valer nesses projetos". "Se não der para fazer tudo, vamos fazer direito o que for prioridade."
Numa semana marcada por disputas de bastidores entre Dirceu e o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), o presidente disse:
"Não quero ver as divergências do governo expostas na imprensa. Elas devem ser resolvidas dentro do governo".
Feita essa ressalva, pediu que os ministros, de forma geral, falem mais com a imprensa.

Meirelles e Palocci
No início da reunião, Lula passou a palavra para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que fez uma exposição para reiterar o argumento de que está "contratado" um crescimento de pelo menos 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.
Repetiu que a taxa de juro real é a menor praticada no país nos últimos dez anos. "É um vitória que ninguém pode questionar", disse.
O presidente do BC afirmou que "o governo não pode titubear" na hora de usar os juros altos para combater a inflação e sinalizou que a taxa básica (Selic) voltará a cair, sem dar detalhes.
Palocci falou após Meirelles. Repetiu que a pior fase na economia já passou, mas apontou que "o Brasil atravessou uma fase delicada" e, por isso, é preciso haver cautela na condução da política econômica.
Admitindo efeitos negativos da turbulência financeira na economia, afirmou que "a vulnerabilidade externa diminuiu" com o rigor fiscal e monetário adotado em 2003 e que seria maior hoje se o governo não tivesse agido assim. Citou como exemplo de diminuição dessa vulnerabilidade o alongamento de parte da dívida pública e a troca de títulos com correção cambial por títulos em reais. Isso faz com que a dívida seja menos afetada por uma eventual valorização do dólar.
Lula interveio algumas vezes durante as falas de Palocci e Meirelles, sempre demonstrando apoio aos dois.

Central de compras
Terminada a discussão econômica, o ministro Dirceu explicou seu novo papel no governo e tratou do contingenciamento (bloqueio de recursos) de R$ 6 bilhões no Orçamento de 2004.
Falou que o governo pouparia cortes nos R$ 12 bilhões previstos para investimentos e que bloquearia R$ 3 bilhões dos gastos de custeio (manutenção da máquina pública) e outros R$ 3 bilhões em emendas parlamentares.
Dirceu afirmou que o governo deverá, no prazo de alguns meses, ter uma central de compras para toda a administração, a fim de economizar em custeio.
Também disse, assim como o presidente da República, que o contingenciamento poderá ser revisto se o crescimento econômico confirmar receitas para o Orçamento aprovado no Congresso Nacional.
A reunião terminou com um jantar. No cardápio, havia peixe, salada, legumes com queijo e arroz. De bebida, o de sempre: vinho, cerveja, uísque, sucos e refrigerantes.
O encontro foi marcado por um clima descontraído. De bom humor, o presidente Lula brincou com todos.
Exemplo: com Miro Teixeira, que deixou o Ministério das Comunicações pela liderança do governo na Câmara, e com Aldo Rebelo, que saiu deste posto para ministro da Coordenação Política e Assuntos Institucionais.
"Trocaram de lugar", afirmou o presidente.



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