São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NA ANTÁRTIDA

Ministro da Defesa participa da comemoração dos 20 anos do programa brasileiro de pesquisa no pólo Sul

Em dia de corte, Viegas festeja base de R$ 20 mi

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL À ANTÁRTICA

O ministro da Defesa, José Viegas, e os três comandantes das Forças Armadas participaram anteontem da comemoração dos 20 anos da base brasileira na Antártica, a Estação Comandante Ferraz, pólo de um programa que custa ao Brasil perto de R$ 20 milhões por ano, de diferentes fontes, inclusive militar.
No mesmo dia, o governo anunciava em Brasília -a 5.200 km da estação- um contingenciamento (bloqueio preventivo) de metade dos R$ 12 bilhões previstos para investimentos neste ano. Viegas soube por jornalistas e reagiu à notícia como diplomata que é: "O presidente sabe o que faz. Dias melhores virão".
Os comandantes Francisco Albuquerque, do Exército, Luiz Carlos Bueno, da Aeronáutica, e Roberto Guimarães Carvalho, da Marinha, reagiram como militares que são: acham que suas áreas já estão "no osso", ficaram preocupados, mas não quiseram dar declarações.
O Orçamento previsto para a Defesa neste ano é de R$ 28 milhões, e apenas R$ 1,075 milhão é para investimento. Não há especificação, ainda, se e em que áreas haverá cortes.
Viegas e os três comandantes voaram cerca de 9 horas e meia para chegar à base na Antártica e previam mais outro tanto para voltar, ontem, a Brasília. Foram seis horas no "Sucatão" (o Boeing 707 que serve aos presidentes nas viagens internacionais) até Punta Arenas, no extremo sul do Chile.
Depois, mais três horas até a base chilena, Eduardo Frei, num Hércules C-130 -avião militar de transportes de tropas, mas adaptado com 22 poltronas de aviões de carreira. E, enfim, cerca de meia hora de helicóptero para a base brasileira.
Foi o dia mais quente deste "verão austral" (entre outubro e março), com um grau negativo na base chilena e aproximadamente 5 graus positivos na brasileira. Com o sol claro, o mais impressionante nem foram as bases, mas a natureza, com pequenos blocos de gelo sobre o oceano, cercado por montanhas nevadas.
A Estação Comandante Ferraz (oficial de Marinha que foi expert em oceanografia) fica na baía do Almirantado, na ilha Rei George, 130 km a oeste a península Antártica. Tem 2.250 m2 de área construída e comporta até 46 pessoas por vez. São várias pequenas construções no meio do nada.
Foi inaugurada em 6 de fevereiro de 1984 com oito módulos de pesquisa. Hoje, tem 64, em três blocos: atmosfera, terra e vida. Entre as pesquisas de efeito mais imediato estão as de clima, camada de ozônio e variações ionosféricas -algumas com dados lançados diariamente para o Brasil.
O Brasil também mantém três "refúgios" (bases alternativas e menores) nas ilhas Elefante, Nelson e Rei George. Tem, ainda, o navio de apoio oceanográfico Ary Rongel, com dois helicópteros Esquilo (usados pelo ministro e pelos comandantes), laboratórios e 27 pesquisadores.
Na estação há permanentemente dez militares da Marinha, grupos de pesquisadores que variam de cinco (no inverno austral) a 24 (no verão austral) e pessoal de apoio (como médico e cozinheiro). A estada dos militares é de um ano corrido, e eles passam por severos testes psicológicos antes da indicação.
"Mas a vida aqui é maravilhosa. Leio muito, reflito, estudo", contou o chefe da estação, o oficial Antonio Costa Guilherme, que está de volta ao Rio, onde mora seu filho de 10 anos. O contato é via internet, telefone e rádio.
A base também dispõe de mantimentos para 12 meses. Durante o inverno, há ainda a entrega de comida por pára-quedas.
Entre os pesquisadores que estão lá nesta época, há três mulheres, todas biólogas. Além de duas moças da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 24 anos, a veterana Theresinha Absher (que não revelou a idade), da Universidade Federal do Paraná. Ela estuda os ciclos de vida e a reprodução dos invertebrados, como moluscos. Há 12 anos freqüenta a base.
Os gastos com pessoal ultrapassam os US$ 2 milhões (cerca de R$ 6 milhões) por ano, um terço para a equipe da estação e dois terços para a do navio. Os pilotos são treinados na Cordilheira dos Andes, para pousar no gelo.
Programa Antártico, multiministerial, prevê mais R$ 1,535 milhão na logística neste ano, o Ministério do Meio Ambiente e o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas) investem tem torno de R$ 2 milhões, e a manutenção do navio e dos helicópteros é estimada em R$ 2,5 milhões.
Além disso, há despesas não mensuradas, como combustível. A Petrobras cede algo em torno de 4 milhões de litros de diferentes tipos de combustível, incluindo um tipo de gasolina especial, que não congela.
Viegas e os militares fizeram uma visita rápida às duas bases. E, apesar da comemoração, se esquivaram de prometer novos recursos para o projeto.


A jornalista Eliane Cantanhêde viajou à Antártica a convite do Ministério da Defesa

Texto Anterior: Outro lado: Pastas reconhecem dificuldades e aguardam melhora de estrutura
Próximo Texto: Ajuste petista: Ministros podem reclamar de Dirceu, diz Lula
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.