São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA

Para o líder João Paulo Rodrigues, presidente terá de mostrar serviço neste ano na reforma agrária

MST condiciona apoio à reeleição de Lula a resultados de 2005

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) deu um ultimato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ano de 2005 será a última chance que o petista terá para "mostrar serviço" na reforma agrária.
Caso decepcione novamente o movimento, como ocorreu nos últimos dois anos, quando o governo federal não cumpriu as metas de assentamentos, ele deverá perder, pela primeira vez, o apoio entusiasmado dos sem-terra em uma campanha presidencial -a provável disputa pela reeleição no ano que vem.
"Este ano é a última oportunidade para o governo Lula mostrar que está realmente comprometido com a reforma agrária. Se isso não acontecer, chegaremos a 2006 com a conclusão de que a chance que ele recebeu em 2002 foi perdida", afirma João Paulo Rodrigues, um dos principais líderes nacionais do movimento.
A discussão no MST sobre como se comportar em 2006 ainda é cautelosa. O movimento não quer romper prematuramente com Lula, em quem defendeu o voto em suas quatro campanhas presidenciais anteriores (1989, 1994, 1998 e 2002).

Decepção
Mas a decepção com os rumos do governo é evidente. Rodrigues chega a dizer que é preciso haver uma campanha urgente de "resgate da reforma agrária".
O MST vê uma mobilização ideológica para desacreditar a bandeira, inclusive no governo.
"A reforma agrária está sob ameaça. Há uma campanha para difamar a eficiência e a relevância social desse instrumento", afirma o dirigente.
Tal campanha seria capitaneda pelos interesses do agronegócio e, dentro do governo, teria como representantes os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e, principalmente, Roberto Rodrigues (Agricultura).

Fora da meta
Em 2004, o governo federal assentou apenas 81.254 famílias de sem-terra, abaixo da meta de 115 mil -que, na avaliação do MST, já era modesta.
Em 2003, foram 36 mil famílias, também abaixo da meta, que era de 60 mil. Por isso o MST menciona 2005 como "a última chance de Lula" -o objetivo, novamente, é assentar 115 mil famílias.
Se novamente decepcionar os sem-terra, o apoio à reeleição de Lula, na avaliação de Rodrigues, vai ficar virtualmente impossível. "A insatisfação nos acampamentos é muito grande", diz.
O MST tradicionalmente é dividido em uma facção mais radicalizada, concentrada nos acampamentos, e a direção nacional, mais propensa ao diálogo.
Apesar de tudo, o presidente ainda é considerado um aliado pelo movimento. Rodrigues diz que seria precipitado ir para o confronto absoluto com Lula.
"Temos um aliado no Palácio do Planalto, só estamos esperando que cumpra o que prometeu. Nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso [1994-2002] tínhamos um inimigo como presidente, então eu sempre lembro isso a alguns companheiros mais sectários", afirma.
O líder do MST não admite com todas as letras, mas, em caso de nova decepção em 2005, parte considerável do movimento deve desembarcar publicamente da candidatura à reeleição de Lula e procurar outra opção entre partidos de esquerda.
A senadora alagoana Heloisa Helena (ex-PT, hoje no PSOL) seria uma alternativa natural. Por seus laços históricos com o PT, dificilmente o movimento apoiará oficialmente um candidato de oposição a Lula, no entanto.

Pressão
No início do ano, João Pedro Stedile, também coordenador nacional do MST, prometeu "grandes mobilizações" para este ano. "2005 será marcado por grandes mobilizações sociais, não contra o governo, mas que forcem o governo a mudar a política econômica", disse, há cerca de um mês no Pontal do Paranapanema, em São Paulo. Stedile afirmou na mesma ocasião que o governo Lula "está em dívida" com o movimento.


Texto Anterior: Sem-terra atribui crime a quadrilha
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.