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QUESTÃO AGRÁRIA
Para o líder João Paulo Rodrigues, presidente terá de mostrar serviço neste ano na reforma agrária
MST condiciona apoio à reeleição de Lula a resultados de 2005
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) deu
um ultimato ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. O ano de
2005 será a última chance que o
petista terá para "mostrar serviço" na reforma agrária.
Caso decepcione novamente o
movimento, como ocorreu nos
últimos dois anos, quando o governo federal não cumpriu as metas de assentamentos, ele deverá
perder, pela primeira vez, o apoio
entusiasmado dos sem-terra em
uma campanha presidencial -a
provável disputa pela reeleição no
ano que vem.
"Este ano é a última oportunidade para o governo Lula mostrar
que está realmente comprometido com a reforma agrária. Se isso
não acontecer, chegaremos a 2006
com a conclusão de que a chance
que ele recebeu em 2002 foi perdida", afirma João Paulo Rodrigues,
um dos principais líderes nacionais do movimento.
A discussão no MST sobre como se comportar em 2006 ainda é
cautelosa. O movimento não quer
romper prematuramente com
Lula, em quem defendeu o voto
em suas quatro campanhas presidenciais anteriores (1989, 1994,
1998 e 2002).
Decepção
Mas a decepção com os rumos
do governo é evidente. Rodrigues
chega a dizer que é preciso haver
uma campanha urgente de "resgate da reforma agrária".
O MST vê uma mobilização
ideológica para desacreditar a
bandeira, inclusive no governo.
"A reforma agrária está sob
ameaça. Há uma campanha para
difamar a eficiência e a relevância
social desse instrumento", afirma
o dirigente.
Tal campanha seria capitaneda
pelos interesses do agronegócio e,
dentro do governo, teria como representantes os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) e, principalmente, Roberto Rodrigues (Agricultura).
Fora da meta
Em 2004, o governo federal assentou apenas 81.254 famílias de
sem-terra, abaixo da meta de 115
mil -que, na avaliação do MST,
já era modesta.
Em 2003, foram 36 mil famílias,
também abaixo da meta, que era
de 60 mil. Por isso o MST menciona 2005 como "a última chance de
Lula" -o objetivo, novamente, é
assentar 115 mil famílias.
Se novamente decepcionar os
sem-terra, o apoio à reeleição de
Lula, na avaliação de Rodrigues,
vai ficar virtualmente impossível.
"A insatisfação nos acampamentos é muito grande", diz.
O MST tradicionalmente é dividido em uma facção mais radicalizada, concentrada nos acampamentos, e a direção nacional, mais
propensa ao diálogo.
Apesar de tudo, o presidente
ainda é considerado um aliado
pelo movimento. Rodrigues diz
que seria precipitado ir para o
confronto absoluto com Lula.
"Temos um aliado no Palácio
do Planalto, só estamos esperando que cumpra o que prometeu.
Nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso [1994-2002] tínhamos um inimigo como presidente, então eu sempre lembro isso a
alguns companheiros mais sectários", afirma.
O líder do MST não admite com
todas as letras, mas, em caso de
nova decepção em 2005, parte
considerável do movimento deve
desembarcar publicamente da
candidatura à reeleição de Lula e
procurar outra opção entre partidos de esquerda.
A senadora alagoana Heloisa
Helena (ex-PT, hoje no PSOL) seria uma alternativa natural. Por
seus laços históricos com o PT, dificilmente o movimento apoiará
oficialmente um candidato de
oposição a Lula, no entanto.
Pressão
No início do ano, João Pedro
Stedile, também coordenador nacional do MST, prometeu "grandes mobilizações" para este ano.
"2005 será marcado por grandes
mobilizações sociais, não contra o
governo, mas que forcem o governo a mudar a política econômica", disse, há cerca de um mês no
Pontal do Paranapanema, em São
Paulo. Stedile afirmou na mesma
ocasião que o governo Lula "está
em dívida" com o movimento.
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