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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO TUCANA
Empresário recebeu R$ 1,4 milhão de agências do publicitário por gastos referentes à campanha do senador ao governo de Minas em 98
Valério pagou empresa por serviço a Azeredo
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A área técnica da CPI dos Correios detectou que as empresas do
publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza pagaram R$ 1,4 milhão para um empresário mineiro que prestou serviços na reta final da campanha
de reeleição do senador Eduardo
Azeredo (PSDB) ao governo de
Minas Gerais em 1998.
O empresário José Vicente Fonseca confirmou ter sido contratado em 1998 "pelo PSDB" por meio
do então tesoureiro de Azeredo,
Cláudio Mourão. O objetivo do
contrato seria "alocar mão-de-obra" para a campanha.
Os repasses ao empresário José
Fonseca são a primeira evidência
de um pagamento direto de Valério para a campanha do senador.
Além de fornecedor, Fonseca
também foi doador da campanha
tucana. Disse ter contribuído oficialmente, com registro na Justiça
Eleitoral, "com cerca de R$ 700
mil" por meio da empresa Sertec,
a mesma que foi contratada por
Mourão com recursos de Valério.
Fonseca disse não saber o motivo pelo qual os depósitos em sua
conta pessoal têm como origem
as empresas DNA Propaganda e
SMPB Comunicação no Banco
Rural, e não a conta da campanha
de reeleição do então governador.
"Eu só chego à conclusão de que
esses depósitos deveriam ter sido
feitos na conta da empresa. Se eles
não foram feitos, e fizeram na minha conta de pessoa física, é porque ou eles não entendem de contabilidade ou porque pensavam
em não contabilizar", disse.
Segundo o empresário, os recebimentos foram registrados na
contabilidade da Sertec.
Fonseca disse que seu grupo
tem 15 mil empregados e faturamento médio anual de R$ 160 milhões. Suas empresas têm contratos com a Prefeitura de Belo Horizonte, administrada pelo PT, com
o governo estadual, gerido pelo
PSDB, e com a Câmara dos Deputados, em Brasília.
Azeredo informou, por meio de
sua assessoria, que desconhecia o
assunto e que Mourão era o responsável pelas finanças da campanha. A lei 9.504/97, já em vigor
na época da disputa de 98, prevê,
no artigo 21, que "o candidato é o
único responsável pela veracidade das informações financeiras e
contábeis de sua campanha".
Os quatro depósitos para Fonseca ocorreram no final da campanha de 1998, num curto espaço
de tempo - embora o empresário alegue ter trabalhado durante
"dois ou três meses" na campanha eleitoral.
O primeiro repasse da conta da
SMPB Comunicação ocorreu no
dia 30 de setembro de 1998, no valor de R$ 653,5 mil. Um dia depois, ocorreram dois depósitos,
um de R$ 40 mil, da DNA, e outro
de R$ 607 mil, da SMPB. Em 7 de
outubro, dois dias depois do final
da campanha, entraram mais
R$ 100 mil da SMPB na conta pessoal de Fonseca.
A prestação de contas da campanha de Azeredo apontou uma
arrecadação oficial de R$ 8,5 milhões, segundo a declaração entregue ao TRE (Tribunal Regional
Eleitoral).
No decorrer do escândalo do
"mensalão", contudo, as investigações da CPI dos Correios e da
Polícia Federal apontaram a existência de um caixa dois de pelo
menos R$ 9 milhões na campanha de Azeredo formado por recursos das empresas de Valério.
Ele tomou empréstimos no Banco
Rural e os repassou à campanha
de Azeredo - a exemplo do que
viria a fazer, a partir de 2003, com
a direção nacional do PT. Uma lista investigada pela PF diz que o
caixa dois pode ter sido ainda
maior, de R$ 91,5 milhões. Valério
e Mourão confirmaram a prática
de caixa dois.
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