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ELIO GASPARI
O alto comando da banca
Houve uma época em que
o Brasil esteve sob a supervisão do alto comando do Exército. Finada a velha praga, apareceu uma nova, semelhante. É
o Copom, o Comitê de Política
Monetária do Banco Central.
Como ocorria no alto comando
da ditadura, alguns de seus
membros extrapolam suas atribuições e ofendem os poderes da
República.
Usurpam prerrogativas e compartilham um governo de anarquia. Na ditadura, a anarquia
era militar. No governo de "nosso guia", é financeira. Nele, o
melhor pedaço do andar de cima pode tomar o dinheiro da
Viúva a 9% ao ano, atravessar a
rua e emprestá-lo à mesma senhora a 17,25%.
O novo alto comando quer a
defesa do dogma de sua infalibilidade. Estimaram um crescimento de 4% para o PIB de 2005
e agora viram que vai dar menos de 3% . Confrontados com a
ruína, pedem colo ao governo.
Conversa velha: "Queremos
uma reparação imediata", dizia
o porta-voz da bagunça militar
em 1975.
O Copom foi criado em 1996,
num ato da burocracia interna
do Banco Central. Atribuiu-se a
tarefa de estabelecer uma taxa
para os juros. Essa é uma prerrogativa do Poder Executivo, não
de oito profissionais do segundo
escalão, dois dos quais, ex-diretores de bancos privados. Deles
pode partir uma recomendação,
nada mais. A cada três meses, os
generais do alto comando preparam uma lista de promoções e
ela vai ao presidente da República. Ele a respeita (tem sido assim
nos últimos 42 anos), mas não
está obrigado a isso.
O alto comando do BC comporta-se como se Lula não tivesse alternativa senão fazer o que
seu mestre mandar. Disso resulta a desqualificação da Presidência. O Poder Executivo deve
reconhecer a competência da
burocracia do Estado, mas não
pode ceder à usurpação de prerrogativas.
Quando cede, provoca desgraças. Em 1969, por exemplo, o alto
comando do Exército atribuiu-se o poder de escolher o sucessor
do marechal Costa e Silva. Até
chegar ao nome do general Emilio Medici, produziu uma patética anarquia militar. Lula produz a anarquia financeira.
O governo do "nosso guia" tem
duas taxas de juros: a Selic do
BC (17,25%) para a freguesia da
banca e a TJLP (9%) para a
clientela do BNDES. A turma da
Selic diz que a taxa da TJLP é
coisa de maluco. A da TJLP diz o
contrário. Nenhuma das duas
turmas denuncia pública e sistematicamente que coisa de maluco é um governo com taxas tão
divergentes.
Os generais do alto comando
diziam que defendiam a estabilidade política do regime. Amparavam-se num aparelho repressivo cujo núcleo fora financiado pela banca. Os doutores
do Copom dizem que defendem
a estabilidade da moeda, sempre com o apoio da banca. (Registro devido: o pessoal do BC
atua no Estado democrático de
Direito, enquanto os generais do
alto comando do Exército condecoravam e acobertavam torturadores e assassinos.)
No tempo dos generais, esperava-se com ansiedade pelas
reuniões do alto comando. Agora aguarda-se o Copom. A anarquia está na usurpação e na
ameaça de crises financeiras decorrentes de suicídio coletivo de
diretores do Banco Central, na
tentativa de emparedamento do
governo.
Dizendo que vocalizava o sentimento do alto comando, o general Silvio Frota, ministro do
Exército, ameaçava com a "tropa indo para a rua". Um dia, o
presidente Ernesto Geisel, de caso pensado, pagou para ver. Era
blefe.
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