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Itamaraty eliminará leitura obrigatória
Decisão de acabar com livros recomendados a diplomatas se deve, diz Amorim, a "mal entendidos" explicitados por ex-embaixador
Em entrevista a revista, Roberto Abdenur classificou leituras forçadas fora da estrutura dos cursos do Itamaraty como vexatórias
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) disse ontem à Folha que vai modificar
o sistema de leitura obrigatória
de livros, imposto pelo vice-chanceler Samuel Pinheiro
Guimarães e que foi duramente atacado pelo ex-embaixador
do Brasil em Washington Roberto Abdenur, em entrevista
publicada no fim de semana na
revista "Veja".
Abdenur acha "uma coisa vexatória" o fato de que "diplomatas de categoria" sejam "forçados a certas leituras quando
entram ou saem de Brasília".
A entrevista de Abdenur foi
avalizada pelo antecessor de
Amorim, Celso Lafer, que considerou as leituras uma "lavagem cerebral", em declarações
ao "Estado de S. Paulo".
Amorim cita alguns dos livros recomendados por seu secretário-geral como prova de
que não há um viés ideológico
no método.
Um dos livros é do embaixador Álvaro Lins e trata do Barão do Rio Branco, o patrono da
diplomacia brasileira. Nada
tem, portanto, de esquerdista
ou de texto de um simpatizante
do atual governo (Álvaro Lins
morreu em 1975).
Outro dos livros recomendados é "Chutando a Escada", do
acadêmico chinês Ha-Joon
Chang, hoje na Cambridge
University, do Reino Unido,
que não é exatamente um templo esquerdista. A "escada" do
título são ações protecionistas
adotadas pelos países hoje ricos, na escalada para a riqueza,
mas que, agora, "chutam" para
impedir que os países em desenvolvimento as utilizem.
Amorim acha que o ruído
despertado pelas recomendações de Guimarães se deve a
um livro de Luiz Alberto Moniz
Bandeira, professor emérito da
Universidade de Brasília, o único dos recomendados que teria
um viés esquerdista.
O motivo pelo qual o chanceler quer acabar com o sistema
de livros recomendados pelo
secretário-geral é o de que se
presta ao que ele considera
"mal entendidos" explicitados
na entrevista de Abdenur.
O Itamaraty adota indicações de leitura em todas as etapas do curso de preparação para a carreira diplomática, desde
o Instituto Rio Branco até o
curso de Altos Estudos, uma
espécie de segundo vestibular,
indispensável para ascender na
hierarquia. Por isso, recomendações fora da estrutura dos
cursos são contraproducentes.
Alinhamento ideológico
O chanceler comentou também outro ponto polêmico da
entrevista de Abdenur, segundo quem as promoções no Itamaraty passaram a ser feitas
por alinhamento ideológico.
"Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são
alinhados", declarou Abdenur.
Nesse ponto, Amorim reage
com fúria: "É um absurdo e é
até difamatório". Cita, em seguida, uma lista grande de diplomatas que haviam ocupado
funções no governo Fernando
Henrique Cardoso e que foram
promovidos em sua gestão ou
ganharam postos relevantes.
Chefe-de-gabinete de Lafer,
Fernando de Mello Barreto,
acaba de ser indicado para embaixador na Austrália.
O embaixador Otto Agripino
Maia, irmão do líder do PFL no
Senado, José Agripino Maia,
acaba de ser chamado para o
gabinete de Amorim.
Dois embaixadores que apareciam em 90% das imagens
durante visitas de FHC ao exterior, por serem chefes do cerimonial -Walter Pecly e Frederico Cezar de Araujo- estão
respectivamente em Assunção
e La Paz, postos que a ênfase
nas relações com a América Latina torna relevantes.
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