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Uso de cartão para preparar viagem de Lula é investigado
Funcionário pagou 22 diárias de pessoas que não constavam da comitiva oficial
Checagem de 2006 revelou
que o hotel cobrava preços
menores: a hospedagem da
comitiva deveria ter custado
R$ 10.208, e não R$ 23.830
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério Público do Distrito Federal abriu, há duas semanas, um inquérito para apurar suspeita de irregularidades
no uso de cartões de crédito da
secretaria de Administração da
Casa Civil da Presidência. Incluem as despesas de hospedagem de comitiva precursora de
uma viagem de Lula.
Deu-se em 2 de maio de
2003. Nesse dia, Lula visitou os
municípios paulistas de Ribeirão Preto e Sertãozinho. Inaugurou uma termelétrica e compareceu a uma feira agrícola.
Para organizar a viagem, o Planalto enviara um "escalão
avançado" -agentes de segurança e equipe de apoio técnico.
Hospedaram-se em dois hotéis.
Descobriu-se que, com cartão de crédito do Planalto, um
funcionário pagou R$ 3.030
por 22 diárias de pessoas que
não constavam da lista de integrantes da comitiva oficial. Pagou também R$ 1.475 em diárias que excederam ao período
de permanência de alguns dos
membros da comitiva.
Constatou-se um indício de
superfaturamento. Em 2003, o
cartão de crédito do Planalto
deixou no hotel de Sertãozinho
R$ 23.830. Checagem feita em
2006 constatou que o mesmo
hotel cobrava preços bem menores: a mesma comitiva custaria R$ 10.208, uma diferença de
R$ 13.622 em relação ao valor
pago quatro anos antes. Somando-se a estadia de pessoas
estranhas à comitiva, as diárias
excedentes e o valor que extrapolou os preços de mercado,
chega-se a um gasto supostamente irregular de R$ 18.127.
Todas essas informações
constam de um relatório do
Tribunal de Contas da União,
anexado ao inquérito do Ministério Público. As impropriedades apontadas pelos auditores
referem-se aos primeiros dois
anos e meio da gestão Lula.
Os auditores partiram da
análise de um arquivo eletrônico que continha 22.915 registros de despesas. Selecionaram,
por amostragem, 254 notas fiscais. No curso da investigação,
acabaram inspecionando 648
notas. Enviaram-se ofícios às
receitas dos Estados e dos municípios onde as despesas foram realizadas. Com base nas
informações dos fiscos locais, o
TCU constatou que o Planalto
transacionou com várias empresas em situação irregular.
Há casos de firmas não-localizadas, de notas fiscais emitidas sem autorização do órgão
fiscal, de falta de recolhimento
de tributos e de notas "calçadas" (com um valor na via do
cliente e outro menor na via do
talonário). O Planalto facultou
aos auditores do TCU acesso às
prestações de contas levadas
aos seus arquivos. Ali, as compras têm aparência regular. Há
comprovantes da prestação de
serviços e da entrega de produtos e do efetivo pagamento.
No relatório do TCU, os auditores esclarecem que o tribunal
não tem poderes para aprofundar a apuração: não pode determinar a quebra de sigilos. Por
isso o tribunal optou por enviar
as informações ao Ministério
Público, à Receita e aos fiscos
estaduais e municipais.
Entre as transações suspeitas está o aluguel de veículos
em Ponta Porã (MS). Consultado, o fisco municipal disse que
não autorizara a emissão das 25
notas da prestação do Planalto.
Somam R$ 206.640,07. Anotam dois endereços diferentes.
Num deles, o TCU não encontrou vestígio da firma. Noutro,
"encontraram-se evidências da
existência da empresa à época
da emissão das notas fiscais".
JOSIAS DE SOUZA
escreve o blog "Josias de Souza
- Nos Bastidores do Poder" no
endereço www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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