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Relator estranha projeto previdenciário
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Escolhido pelo governo para ser
o relator da reforma da Previdência na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), 53, é contrário a pontos vitais da proposta
de reforma defendida até agora
pela equipe do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. "Sou contra a
cobrança de inativos", diz.
O deputado evita comentar que
tenha sido eleito para a relatoria
da reforma. A Folha apurou que o
nome do deputado já está certo,
embora ainda faltem quase dois
meses para assumir a relatoria.
A previsão do governo é que a
proposta de reforma chegue ao
Congresso no final de abril ou início de maio, quando será criada
uma comissão especial para tratar
do tema e será nomeado o relator.
Além de resistir à taxação dos
inativos, o deputado defende que
o PL-9 (projeto de lei número 9,
enviado pelo governo anterior para criar um regime único de aposentadoria para novos servidores)
seja discutido no conjunto da reforma -como passou a declarar
o governo nos últimos dias.
Ligado aos ministros Ricardo
Berzoini (Previdência) e Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), Chinaglia conseguiu emplacar na
presidência do INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social) o engenheiro mecânico Taiti Inenami.
Leia trechos da entrevista.
Folha - O sr. deve ser o relator da
reforma da Previdência na Câmara?
Arlindo Chinaglia - Não está decidido, mas está previsto. É uma
discussão complicada. O que se
constituiu até agora foi uma daquelas quatro comissões criadas
pelo presidente da Casa e nessa
daí o relator é o José Pimentel [deputado federal do PT no Ceará].
Folha - O que o sr. acha da idéia
do governo de taxar os inativos?
Chinaglia - Nunca ouvi falar que
o governo tem essa intenção. Em
nenhuma conversa que eu tive
com gente do governo isso foi colocado. Eu sou contra a cobrança
de inativos. A Constituição não
permite. Isso é bobagem porque o
governo anterior tentou seis vezes
e não conseguiu.
Folha - Mas a reforma pode alterar a Constituição.
Chinaglia - Os valores que virão
da cobrança de inativos são bem
modestos diante daquilo que convencionalmente vem sendo trabalhado como o déficit da Previdência.
Folha - O sr. é contra taxar os
atuais inativos. A cobrança dos futuros aposentados (com pagamento do salário líquido) seria viável?
Chinaglia - Isso é um cipoal jurídico. Existe o conceito de direito
construído e direito em construção. Acho que começar o debate
por aí é o pior caminho. Uma coisa são aqueles governantes de Estados e municípios que, de maneira imprevidente ou incompetente ou uma combinação disso
tudo, não cuidaram dos seus regimes de Previdência.
Folha - Então o sr. acha que isso é
um pleito dos Estados e municípios?
Chinaglia - O governo federal,
não sei se existe essa possibilidade
jurídica, pode autorizar a criação
da cobrança. O Fernando Henrique, ao insistir nisso, arrebentou
com os Estados que já cobravam.
No limite, o governo pode autorizar. Para que o Lula vai bancar um
desgaste para ele próprio tão
grande e viabilizar a cobrança de
aposentado? Isso não me convence, não.
Folha - Militares devem ter tratamento diferenciado na discussão?
Chinaglia - Acho que sim. Agora
isso não significa que eles devam
estar fora do debate.
Folha - O que o sr. acha do PL-9?
Chinaglia - Não sei se o governo
vai discutir, votar e aprovar antes
do debate da reforma. Eu preferiria que fosse no conjunto da reforma. Acho que fica esquisito para a bancada do PT, que resistiu,
que fez uma série de observações,
começar um nova legislatura e
aqueles deputados, ou outros,
irem lá e passar a defender aquilo
que estavam contra. É muito estranho, para dizer o mínimo. O
que não significa que todas as
propostas que estão no projeto sejam naturalmente ruins. Uma vez
estabelecido que pode ter previdência complementar, o grande
debate é: benefício definido ou
contribuição definida?
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