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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ INVESTIGAÇÃO
Parlamentares querem estender comissões dos Correios e dos Bingos; Serraglio recua e diz apoiar continuação de investigações
Oposição pede prorrogação de duas CPIs
FERNANDA KRAKOVICS
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A oposição decidiu pedir a prorrogação de duas CPIs: a dos Correios e a dos Bingos. Apesar de
avaliar que não terá as assinaturas
necessárias na Câmara para estender a CPI dos Correios, a oposição diz possuir as assinaturas
para prorrogar a do Bingos.
O presidente da CPI dos Bingos,
senador Efraim Morais (PFL-PB),
afirmou que já conseguiu as 27 assinaturas necessárias, mas espera
ampliar esse número para 35 ou
40, como margem de segurança,
antes de protocolar o requerimento. A CPI avalia se seria melhor ampliar por 30 ou 60 dias.
Já o relator da CPI dos Correios,
deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), recuou e declarou
que vai apoiar a prorrogação para
não ser acusado de impedir investigações sobre o suposto envolvimento de 55 dos 81 deputados de
seu partido com o "mensalão".
No dia anterior, Serraglio havia
se posicionado contra a ampliação do prazo da comissão. Seu argumento era de que a proximidade das eleições contaminaria os
trabalhos e poderia prejudicar a
aprovação do relatório final.
Se houver prorrogação, Serraglio diz que pedirá a escolha de
outro relator para investigar as
denúncias contra o PMDB.
"Existe uma figura jurídica chamada impedimento por suspeita", afirmou.
No caso da CPI dos Correios,
que é mista, são necessárias 27 assinaturas de senadores e 171 de
deputados para prorrogá-la.
Quanto à CPI dos Bingos, a situação da oposição é confortável,
porque é preciso apenas o apoio
de 27 senadores. Atualmente, o
prazo previsto para encerrar a
CPI dos Correios é 10 de abril e a
dos Bingos, dia 25 do mesmo mês.
"Eu acho precipitado falar em
prorrogação. Esse assunto exige
uma avaliação melhor, até para
que não atrapalhe a elaboração e a
votação de um relatório final",
afirmou o presidente da CPI dos
Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS).
Ao prorrogar a CPI dos Bingos,
senadores do PSDB e do PFL pretendem chamar um advogado para elaborar um novo pedido de
quebra do sigilo bancário do presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto.
A medida foi negada pelo presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), Nelson Jobim, para
quem o requerimento estava mal
fundamentado.
Okamotto afirmou ter pago um
empréstimo de R$ 29,4 mil concedido pelo PT ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. A explicação,
no entanto, não convenceu parlamentares da oposição, que investigam se a dívida foi quitada com
dinheiro do caixa dois do partido,
operado pelo então tesoureiro
Delúbio Soares e pelo publicitário
Marcos Valério de Souza.
Novas investigações
No caso da CPI dos Correios, a
proposta da oposição é prorrogá-la por 30 dias. O argumento é de
que esse tempo seria necessário
para investigar novas denúncias
que surgiram no último fim de semana e para analisar os documentos com a movimentação financeira do publicitário Duda
Mendonça no exterior.
Além da suposta ampliação da
lista do "mensalão" para o PMDB,
a revista "Veja" desta semana
aponta a usina de Itaipu como
uma das supostas fontes de recursos para o caixa dois dos aliados
do governo, com uma propina de
US$ 6 milhões. Outra acusação é
de que o apresentador Carlos
Massa, o Ratinho, foi pago para
elogiar o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e a ex-prefeita Marta
Suplicy na campanha de 2002.
A decisão do PSDB e do PFL, no
entanto, foi política. O objetivo é
tentar desgastar o governo em um
momento em que o presidente
Lula se recuperou nas pesquisas
de intenção de voto.
Parlamentares da oposição avaliam que a ampliação do prazo da
CPI dos Correios depende de uma
clara sinalização de Serraglio de
que realmente quer continuar as
investigações, o que levaria parte
da bancada do PMDB na Câmara
a assinar o requerimento.
Discussão
A CPI dos Bingos foi palco ontem de discussão entre Efraim, o
presidente da comissão, e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Os ânimos se acirraram depois
que Efraim anunciou que tentaria
prorrogar os trabalhos da CPI.
Depois do anúncio de Efraim, o
senador Tião Viana (PT-AC) disse que a medida tem objetivo
"eleitoral".
"Se eles [da oposição] querem
esticar a corda, nós não vamos
concordar. Eles deviam saber que
denuncismo não está mais dando
votos", ironizou o senador.
"Não tem cara de pizza e não vai
ter pizza aqui, não. Nem vai ter
acordão. Esta CPI vai apurar",
disse Efraim Morais, na sessão de
ontem da CPI, em resposta a uma
crítica da senadora Ideli.
Ao apontar suposta falta de embasamento técnico para um requerimento que a atingia indiretamente, a senadora disse que na
CPI "nada tem a ver com nada".
"Respeite a CPI, eu não aceito
esse tipo de referência à CPI", reagiu Efraim. "Parece que essa CPI
perturba o governo, esta CPI faz
medo ao partido de Vossa Excelência", disse o senador.
A discussão ocorreu pouco antes do início do depoimento do
bacharel em direito Evaldo Rui
Vicentini, ex-tesoureiro do PPS
de São Paulo, que alegou ter ouvido, de dirigentes do PT, a descrição de um suposto esquema de
internação de US$ 4 milhões para
o partido.
O depoimento de Vicentini foi
baseado em uma coleção de matérias publicadas pela imprensa
ao longo dos últimos anos sobre
quase todos os casos rumorosos
que envolvem o PT. A respeito
das poucas novidades que acrescentou -como supostamente ter
ouvido relatos de compra de
apoio do PPS, em 2003, pelo governo federal- não apresentou
nenhuma prova documental.
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