São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ INVESTIGAÇÃO

Parlamentares querem estender comissões dos Correios e dos Bingos; Serraglio recua e diz apoiar continuação de investigações

Oposição pede prorrogação de duas CPIs

FERNANDA KRAKOVICS
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A oposição decidiu pedir a prorrogação de duas CPIs: a dos Correios e a dos Bingos. Apesar de avaliar que não terá as assinaturas necessárias na Câmara para estender a CPI dos Correios, a oposição diz possuir as assinaturas para prorrogar a do Bingos.
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), afirmou que já conseguiu as 27 assinaturas necessárias, mas espera ampliar esse número para 35 ou 40, como margem de segurança, antes de protocolar o requerimento. A CPI avalia se seria melhor ampliar por 30 ou 60 dias.
Já o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), recuou e declarou que vai apoiar a prorrogação para não ser acusado de impedir investigações sobre o suposto envolvimento de 55 dos 81 deputados de seu partido com o "mensalão".
No dia anterior, Serraglio havia se posicionado contra a ampliação do prazo da comissão. Seu argumento era de que a proximidade das eleições contaminaria os trabalhos e poderia prejudicar a aprovação do relatório final.
Se houver prorrogação, Serraglio diz que pedirá a escolha de outro relator para investigar as denúncias contra o PMDB.
"Existe uma figura jurídica chamada impedimento por suspeita", afirmou.
No caso da CPI dos Correios, que é mista, são necessárias 27 assinaturas de senadores e 171 de deputados para prorrogá-la.
Quanto à CPI dos Bingos, a situação da oposição é confortável, porque é preciso apenas o apoio de 27 senadores. Atualmente, o prazo previsto para encerrar a CPI dos Correios é 10 de abril e a dos Bingos, dia 25 do mesmo mês.
"Eu acho precipitado falar em prorrogação. Esse assunto exige uma avaliação melhor, até para que não atrapalhe a elaboração e a votação de um relatório final", afirmou o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS).
Ao prorrogar a CPI dos Bingos, senadores do PSDB e do PFL pretendem chamar um advogado para elaborar um novo pedido de quebra do sigilo bancário do presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto. A medida foi negada pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, para quem o requerimento estava mal fundamentado.
Okamotto afirmou ter pago um empréstimo de R$ 29,4 mil concedido pelo PT ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A explicação, no entanto, não convenceu parlamentares da oposição, que investigam se a dívida foi quitada com dinheiro do caixa dois do partido, operado pelo então tesoureiro Delúbio Soares e pelo publicitário Marcos Valério de Souza.

Novas investigações
No caso da CPI dos Correios, a proposta da oposição é prorrogá-la por 30 dias. O argumento é de que esse tempo seria necessário para investigar novas denúncias que surgiram no último fim de semana e para analisar os documentos com a movimentação financeira do publicitário Duda Mendonça no exterior.
Além da suposta ampliação da lista do "mensalão" para o PMDB, a revista "Veja" desta semana aponta a usina de Itaipu como uma das supostas fontes de recursos para o caixa dois dos aliados do governo, com uma propina de US$ 6 milhões. Outra acusação é de que o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, foi pago para elogiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-prefeita Marta Suplicy na campanha de 2002.
A decisão do PSDB e do PFL, no entanto, foi política. O objetivo é tentar desgastar o governo em um momento em que o presidente Lula se recuperou nas pesquisas de intenção de voto.
Parlamentares da oposição avaliam que a ampliação do prazo da CPI dos Correios depende de uma clara sinalização de Serraglio de que realmente quer continuar as investigações, o que levaria parte da bancada do PMDB na Câmara a assinar o requerimento.

Discussão
A CPI dos Bingos foi palco ontem de discussão entre Efraim, o presidente da comissão, e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Os ânimos se acirraram depois que Efraim anunciou que tentaria prorrogar os trabalhos da CPI.
Depois do anúncio de Efraim, o senador Tião Viana (PT-AC) disse que a medida tem objetivo "eleitoral".
"Se eles [da oposição] querem esticar a corda, nós não vamos concordar. Eles deviam saber que denuncismo não está mais dando votos", ironizou o senador.
"Não tem cara de pizza e não vai ter pizza aqui, não. Nem vai ter acordão. Esta CPI vai apurar", disse Efraim Morais, na sessão de ontem da CPI, em resposta a uma crítica da senadora Ideli.
Ao apontar suposta falta de embasamento técnico para um requerimento que a atingia indiretamente, a senadora disse que na CPI "nada tem a ver com nada".
"Respeite a CPI, eu não aceito esse tipo de referência à CPI", reagiu Efraim. "Parece que essa CPI perturba o governo, esta CPI faz medo ao partido de Vossa Excelência", disse o senador.
A discussão ocorreu pouco antes do início do depoimento do bacharel em direito Evaldo Rui Vicentini, ex-tesoureiro do PPS de São Paulo, que alegou ter ouvido, de dirigentes do PT, a descrição de um suposto esquema de internação de US$ 4 milhões para o partido.
O depoimento de Vicentini foi baseado em uma coleção de matérias publicadas pela imprensa ao longo dos últimos anos sobre quase todos os casos rumorosos que envolvem o PT. A respeito das poucas novidades que acrescentou -como supostamente ter ouvido relatos de compra de apoio do PPS, em 2003, pelo governo federal- não apresentou nenhuma prova documental.


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