São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Em Goiás, Alckmin disse que entendimento no partido está próximo; para serristas, chances de o prefeito disputar cresceram

Serra está mais perto da disputa presidencial

CATIA SEABRA
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

VERA MAGALHÃES
ENVIADA ESPECIAL A PALMEIRAS (GO)

O prefeito de São Paulo, José Serra, deu ontem a seus interlocutores sinais de que pretende disputar a Presidência da República. A crise no sistema de transportes da capital paulista paralisou temporariamente a agenda política do prefeito, alimentando rumores de desistência. Seus interlocutores afirmam, no entanto, que ele continua na corrida pela condição de candidato do PSDB à Presidência e que deve anunciar sua decisão até o fim de semana.
O concorrente de Serra pela indicação do partido, Geraldo Alckmin, também deu sinais de que a disputa está perto do fim. Em Goiás, onde esteve pela manhã para as comemorações do aniversário do governador tucano Marconi Perillo, Alckmin descartou a realização de prévias contra o prefeito e garantiu que o entendimento entre os dois está próximo.
"Não dá para retirar candidatura. O que eu quero dizer de maneira clara é que aquele que o partido escolher terá meu apoio entusiasmado. Tenho fidelidade partidária e compromisso com o Brasil", afirmou Alckmin.
Anteontem, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), disse que caberá aos próprios Serra e Alckmin chegar a um consenso. A Folha apurou que o governador e o prefeito já tiveram pelo menos uma conversa reservada desde que Serra voltou de Buenos Aires, na sexta-feira passada.
Foi aventada a possibilidade de que Serra abdicasse da candidatura ao Planalto para concorrer ao governo de São Paulo, o que ontem foi negado por Alckmin. "Isso não foi discutido, a candidatura ao governo vai ficar para depois, agora é a Presidência."

Sacrifício
O prefeito teria sinalizado a disposição de concorrer na noite de segunda, ao apontar Mario Covas como um modelo de político que sacrifica seu conforto pessoal em nome do partido. Serra estaria justificando o que tem chamado de "dolorosa" decisão de abrir mão da prefeitura para concorrer.
Ontem, Serra cancelou sua ida a Goiás para o aniversário de Perillo para lidar com a ameaça dos empresários de transporte de abandonar a concessão que garante o serviço na cidade. Com a reclusão de Serra, surgiram boatos de que teria decidido ficar no cargo. "De jeito nenhum", reagiu Jutahy Jr. (BA), líder do PSDB na Câmara.
Líderes do partido, entre eles os próprios aliados do prefeito, não escondem o desconforto causado pela indefinição. "Já está cansando. É uma novela", desabafou o secretário-geral Eduardo Paes.
O deputado serrista Alberto Goldman (SP) admite que, enquanto Serra não se declarar, Alckmin continuará investindo. "O Geraldo tem uma posição definida, que é candidato. O Serra tem a de que só será candidato se houver um apelo partidário. Nada mudou."

Recuo
Alckmin, que antes sugeria prévias caso não houvesse consenso na escolha do candidato, ontem afastou a idéia. "Não creio que haverá necessidade de prévias e talvez nem haja disputa. Acho que caminharemos para um bom entendimento, para servir ao país."
Também disse que a decisão sobre a escolha é "partidária", se contrapondo aos que o acusam de levar sua pré-candidatura adiante como um projeto pessoal.
"Esta será uma decisão coletiva, partidária. Deixei clara a todas as instâncias minha disposição de trabalhar pelo país. Eu e o companheiro José Serra temos, em primeiro lugar, o sentimento de servir ao Brasil, depois a fidelidade partidária e o espírito público", disse, tratando o prefeito por um termo mais usual entre petistas.
O tom conciliador não mudou a agenda de pré-candidato. Depois de passar cerca de duas horas em Palmeiras (GO), onde inaugurou 12 km de uma estrada e até uma ponte sobre um córrego, o governador visitou João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba.
Na capital do Estado, recebeu o título de "cidadão paraibano", concedido pela Assembléia Legislativa "por serviços prestados à Paraíba". O governador lembrou que nasceu em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba. "De certa forma, eu já era paraibano."
Antes, em Goiás, ele havia lembrado que viveu no Estado por 45 dias em 1975, como voluntário do Projeto Rondon.
Estiveram no evento em João Pessoa presidentes de assembléias legislativas, dirigentes regionais do partido e outras lideranças do PSDB, que o receberam aos gritos de "presidente".
Em Campina Grande, onde proferiu palestra sobre "ética e eficiência na administração pública", Alckmin disse que a tendência no partido é escolher o candidato "sem diputa". Confrontado com o fato de que um dos dois terá de ceder, respondeu: "É óbvio. Mas não precisa ser já, pode ser na semana que vem, ou mais para a frente."
A palestra foi organizada pela associação comercial da cidade e originalmente estava programada para o anfiteatro da instituição, com 200 lugares. Contudo, por causa da procura de interessados em ouvir o governador, a palestra ocorreu no teatro municipal, que tem 800 lugares, todos ocupados.


A repórter Vera Magalhães viajou, no trecho entre Goiânia e Palmeiras, em avião cedido pelo governo de Goiás

Colaboraram CHICO DE GOIS, enviado especial a Campina Grande, e KAMILA FERNANDES, da Agência Folha, em João Pessoa


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