São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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ELIO GASPARI

O MaracuLight 4.0 precisa do BNDES

Está em curso o MaracuLight versão 4.0. Destina-se a resgatar o patrimônio dos acionistas da Electricité de France com o dinheiro dos trabalhadores guardados no BNDES du Brésil.
Querem converter em ações a dívida da Light com o banco, coisa de várias centenas de milhões de dólares. Uma reestatização do capital, para garantir a privatização do lucro. Foi isso que "nosso guia" fez com as ferrovias falidas do tucanato. Um aspecto do novo MaracuLight permite que a patuléia avalie o que vem por aí. Pretende-se dar ao governo do Rio de Janeiro um assento no Conselho Administrativo da Light.
Para medir o alcance dessa idéia basta que cada cidadão escolha duas das pessoas listadas abaixo para o conselho do seu condomínio:
1) Rosinha Matheus
2) Benedita da Silva
3) Anthony Garotinho
4) Marcelo Alencar
Quem não conseguiu escolher dois nomes para um conselho de condomínio, pode imaginar o que seria botar semelhantes luminares (ou seus representantes) no conselho de uma concessionária de distribuição de energia. É assim que funciona a rapina. Privatiza-se, esculhamba-se, e, diante da esculhambação, reestatiza-se, para depois privatizar de novo. Planeja-se jogar a distribuidora de energia na comunidade de interesses que domina a política do Rio Janeiro.
Se a EDF quer vender a Light, que vá ao Largo da Carioca, abra sua barraquinha e apregoe o produto, como fazem os laboriosos camelôs que trabalham em frente ao BNDES. O banco não devia ter se tornado acionista da Light em 1996. Nem deveria ter emprestado dinheiro para uma estatal francesa que apostou num câmbio maluco. Tendo emprestado, não deveria ter se metido no processo de repactuação do espeto da empresa. Tendo feito tudo errado, deveria deixar que o capitalismo seguisse seu curso.
A versão 4.0 do programa Maraculight é a cena recente de uma tunga que se renova há décadas. O Maraculight 3.0 rodou em 1996. O tucanato privatizou a empresa com a ajuda de um edital ortopédico. Em vez de induzir os interessados a se adaptar ao edital, os sábios adaptaram o edital aos interessados. O negócio só ficou em pé porque o velho e bom BNDES ficou com 9,14% das ações da concessionária. Isso e mais um empréstimo de R$ 1 bilhão. Em três anos de vacas gordas, a EDF arruinou 4.000 postos de trabalho, compartilhou um apagão e passou R$ 722 bilhões aos felizes acionistas (25% do que pagaram pela empresa).
A versão 2.0 do Maraculight é de 1978. A Viúva estatizou a empresa e pagou US$ 380 milhões por uma concessão que devia US$ 1,1 bilhão e caducaria em 12 anos. (A matriz canadense soube demonstrar sua gratidão, mas pediu recibos no valor da despesa.) Antes disso, em 1976, houve o Maraculight 1.0, destruído pelo vírus ACM. Numa espetacular reunião com o presidente Ernesto Geisel, o então presidente da Eletrobrás, Antonio Carlos Magalhães, transformou-o em seu aliado e detonou uma ação entre amigos chamada Embrapar.
Tratava-se de dar a Light de presente à plutocracia carioca. Os maganos pagariam a conta com o dinheiro do caixa.
A EDF tomou decisões ruinosas, chegou a dever US$ 1,5 bilhão a 17 bancos, deixou de pagar contas em dia para Furnas, recorreu ao anabolizante do BNDES (US$ 350 milhões). Hoje, deve R$ 1,5 bilhão. Coisas que acontecem numa economia de mercado, que tanto deve à destruição criadora capaz de tirar os bois da linha.


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