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ELIO GASPARI
O MaracuLight 4.0 precisa do BNDES
Está em curso o MaracuLight versão 4.0. Destina-se
a resgatar o patrimônio dos
acionistas da Electricité de
France com o dinheiro dos trabalhadores guardados no
BNDES du Brésil.
Querem converter em ações a
dívida da Light com o banco,
coisa de várias centenas de milhões de dólares. Uma reestatização do capital, para garantir
a privatização do lucro. Foi isso
que "nosso guia" fez com as ferrovias falidas do tucanato. Um
aspecto do novo MaracuLight
permite que a patuléia avalie o
que vem por aí. Pretende-se dar
ao governo do Rio de Janeiro
um assento no Conselho Administrativo da Light.
Para medir o alcance dessa
idéia basta que cada cidadão escolha duas das pessoas listadas
abaixo para o conselho do seu
condomínio:
1) Rosinha Matheus
2) Benedita da Silva
3) Anthony Garotinho
4) Marcelo Alencar
Quem não conseguiu escolher
dois nomes para um conselho de
condomínio, pode imaginar o
que seria botar semelhantes luminares (ou seus representantes) no conselho de uma concessionária de distribuição de energia. É assim que funciona a rapina. Privatiza-se, esculhamba-se, e, diante da esculhambação,
reestatiza-se, para depois privatizar de novo. Planeja-se jogar a
distribuidora de energia na comunidade de interesses que domina a política do Rio Janeiro.
Se a EDF quer vender a Light,
que vá ao Largo da Carioca,
abra sua barraquinha e apregoe
o produto, como fazem os laboriosos camelôs que trabalham
em frente ao BNDES. O banco
não devia ter se tornado acionista da Light em 1996. Nem deveria ter emprestado dinheiro
para uma estatal francesa que
apostou num câmbio maluco.
Tendo emprestado, não deveria
ter se metido no processo de repactuação do espeto da empresa. Tendo feito tudo errado, deveria deixar que o capitalismo
seguisse seu curso.
A versão 4.0 do programa Maraculight é a cena recente de
uma tunga que se renova há décadas. O Maraculight 3.0 rodou
em 1996. O tucanato privatizou
a empresa com a ajuda de um
edital ortopédico. Em vez de induzir os interessados a se adaptar ao edital, os sábios adaptaram o edital aos interessados. O
negócio só ficou em pé porque o
velho e bom BNDES ficou com
9,14% das ações da concessionária. Isso e mais um empréstimo
de R$ 1 bilhão. Em três anos de
vacas gordas, a EDF arruinou
4.000 postos de trabalho, compartilhou um apagão e passou
R$ 722 bilhões aos felizes acionistas (25% do que pagaram pela empresa).
A versão 2.0 do Maraculight é
de 1978. A Viúva estatizou a empresa e pagou US$ 380 milhões
por uma concessão que devia
US$ 1,1 bilhão e caducaria em 12
anos. (A matriz canadense soube demonstrar sua gratidão,
mas pediu recibos no valor da
despesa.) Antes disso, em 1976,
houve o Maraculight 1.0, destruído pelo vírus ACM. Numa
espetacular reunião com o presidente Ernesto Geisel, o então
presidente da Eletrobrás, Antonio Carlos Magalhães, transformou-o em seu aliado e detonou
uma ação entre amigos chamada Embrapar.
Tratava-se de dar a Light de
presente à plutocracia carioca.
Os maganos pagariam a conta
com o dinheiro do caixa.
A EDF tomou decisões ruinosas, chegou a dever US$ 1,5 bilhão a 17 bancos, deixou de pagar contas em dia para Furnas,
recorreu ao anabolizante do
BNDES (US$ 350 milhões). Hoje, deve R$ 1,5 bilhão. Coisas que
acontecem numa economia de
mercado, que tanto deve à destruição criadora capaz de tirar
os bois da linha.
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