São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A melhor janela já passou", diz Furlan

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
DE LONDRES

O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) admitiu ontem que "a melhor janela [de oportunidades para o Brasil] já passou", mas conformou-se com a idéia de que "ainda há outras abertas" para o país.
Furlan fez o comentário depois da visita da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às peças brasileiras da coleção real, expostas especialmente em um dos salões do Palácio de Buckingham. Visita, aliás, que Furlan fez questão de fotografar pessoalmente, armado de uma pequena câmara digital, que substitui o celular que ele usava até há pouco.
O lamento é praticamente igual ao que o ministro fizera em janeiro, ao participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, no qual reconheceu que o Brasil perdera "o momento" representado pela excepcional fase de estabilidade e crescimento da economia mundial, claramente atropelado pela China e pela Índia.
Agora, Furlan desenvolve a paradoxal teoria de que uma vantagem brasileira "vem do fato de que tem muita coisa a ser feita", como se tarefas não-executadas ajudassem, em vez de atrapalhar, o progresso de qualquer país.
A Folha estranhou, e Furlan saiu-se então com a frase: "É bom porque há países que estão contra a parede, não têm para onde ir".

Japoneses
Usou o Japão como exemplo, citando a estagnação da economia japonesa, que já dura duas décadas. Só esqueceu de lembrar que, ainda assim, o Japão continua sendo a segunda economia mais rica do planeta, ao passo que o Brasil patina há mais de duas décadas, crescendo e parando, parando e crescendo.
O mesmo raciocínio tipo prêmio de consolação foi usado para falar do magro crescimento de 2,3% no ano passado. O ministro preferiu mencionar o fato de que muitas empresas cresceram bem mais do que os 2,3%, usando a velhíssima frase a respeito das estatísticas: "Se o sujeito está com os pés no forno e a cabeça no freezer, pode-se dizer que a temperatura média é boa, mas esse número não diz tudo".
Talvez escaldado por declarações anteriores em que criticou o excesso de valorização do real e a taxa de juros, Furlan desta vez evitou comentários mesmo quando provocado pela Folha: "Se você ainda fosse presidente da Sadia (grande exportadora), o que diria do câmbio".
"Não sou mais presidente da Sadia há três anos, dois meses e sete dias (período em que está no governo) nem volto mais a ela", fugiu o ministro.

Fábrica no Brasil
Otimista por convicção, Furlan continua vendendo o Brasil no exterior. Saiu cedo do hotel em que passou a noite, antes de instalar-se no Palácio de Buckingham, para reunir-se com os representantes do laboratório GlaxoSmithKline, com o qual negocia a instalação no Brasil de uma fábrica de vacinas contra a dengue e o hanta vírus, que causa a HPS (sigla em inglês para Síndrome Pulmonar Hantavirus).
O valor previsto é de US$ 350 milhões. O Brasil disputa a fábrica com México, Cingapura e Taiwan, principalmente estas duas últimas. Para fechar o acordo, falta combinar qual a porcentagem da produção que próprio governo comprará. O laboratório quer que seja 30%, mas o governo prefere baixar algo. (CR e FV)


Texto Anterior: Diplomacia: Greenpeace faz protesto contra Lula em Londres
Próximo Texto: Londrinas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.