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"A melhor janela já passou", diz Furlan
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
DE LONDRES
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior) admitiu ontem que "a melhor janela [de
oportunidades para o Brasil] já
passou", mas conformou-se com
a idéia de que "ainda há outras
abertas" para o país.
Furlan fez o comentário depois
da visita da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às peças brasileiras da coleção real, expostas especialmente em um dos
salões do Palácio de Buckingham.
Visita, aliás, que Furlan fez questão de fotografar pessoalmente,
armado de uma pequena câmara
digital, que substitui o celular que
ele usava até há pouco.
O lamento é praticamente igual
ao que o ministro fizera em janeiro, ao participar do encontro
anual do Fórum Econômico
Mundial em Davos, no qual reconheceu que o Brasil perdera "o
momento" representado pela excepcional fase de estabilidade e
crescimento da economia mundial, claramente atropelado pela
China e pela Índia.
Agora, Furlan desenvolve a paradoxal teoria de que uma vantagem brasileira "vem do fato de
que tem muita coisa a ser feita",
como se tarefas não-executadas
ajudassem, em vez de atrapalhar,
o progresso de qualquer país.
A Folha estranhou, e Furlan
saiu-se então com a frase: "É bom
porque há países que estão contra
a parede, não têm para onde ir".
Japoneses
Usou o Japão como exemplo, citando a estagnação da economia
japonesa, que já dura duas décadas. Só esqueceu de lembrar que,
ainda assim, o Japão continua
sendo a segunda economia mais
rica do planeta, ao passo que o
Brasil patina há mais de duas décadas, crescendo e parando, parando e crescendo.
O mesmo raciocínio tipo prêmio de consolação foi usado para
falar do magro crescimento de
2,3% no ano passado. O ministro
preferiu mencionar o fato de que
muitas empresas cresceram bem
mais do que os 2,3%, usando a velhíssima frase a respeito das estatísticas: "Se o sujeito está com os
pés no forno e a cabeça no freezer,
pode-se dizer que a temperatura
média é boa, mas esse número
não diz tudo".
Talvez escaldado por declarações anteriores em que criticou o
excesso de valorização do real e a
taxa de juros, Furlan desta vez evitou comentários mesmo quando
provocado pela Folha: "Se você
ainda fosse presidente da Sadia
(grande exportadora), o que diria
do câmbio".
"Não sou mais presidente da Sadia há três anos, dois meses e sete
dias (período em que está no governo) nem volto mais a ela", fugiu o ministro.
Fábrica no Brasil
Otimista por convicção, Furlan
continua vendendo o Brasil no
exterior. Saiu cedo do hotel em
que passou a noite, antes de instalar-se no Palácio de Buckingham,
para reunir-se com os representantes do laboratório GlaxoSmithKline, com o qual negocia a
instalação no Brasil de uma fábrica de vacinas contra a dengue e o
hanta vírus, que causa a HPS (sigla em inglês para Síndrome Pulmonar Hantavirus).
O valor previsto é de US$ 350
milhões. O Brasil disputa a fábrica
com México, Cingapura e Taiwan, principalmente estas duas
últimas. Para fechar o acordo, falta combinar qual a porcentagem
da produção que próprio governo
comprará. O laboratório quer que
seja 30%, mas o governo prefere
baixar algo.
(CR e FV)
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