|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIPLOMACIA
Presidente e ministros almoçaram ontem no Palácio de Buckingham
Pontual, Lula encontra rainha
após andar em carruagem real
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Luiz Inácio Lula da Silva completou ontem, 50 anos depois, a
viagem para o mundo -que começou em um caminhão pau-de-arara, símbolo da pobreza- em
um veículo que é o seu exato
oposto: a carruagem real, ao lado
da rainha Elizabeth.
Eram 12h29 (9h29 em Brasília)
de uma terça-feira bem britânica,
gelada e chuvosa, quando o presidente do Brasil subiu à carruagem
(fechada, por causa do tempo) de
teto de anjos dourados e uma coroa para sair do "Horse Guards",
o palácio que abriga a guarda
montada da rainha, rumo ao Palácio de Buckingham, dois quilômetros adiante e residência da
realeza britânica desde 1837.
Com Lula, estavam a rainha Elizabeth e o intérprete, Sérgio Ferreira, que acompanha Lula desde
quando podia chamá-lo apenas
de Lula, não de presidente.
Atrás, mais seis carruagens, levando, pela ordem: a primeira-dama Marisa Letícia com o Duque de Edimburgo, o príncipe
Philip; o príncipe Edward Antony
Richard Louis e sua mulher, Sophie Rhys-Jones, condessa de
Wessex; os ministros Celso Amorim (e a mulher) e Antonio Palocci; os ministros Fernando Haddad
(Educação), Gilberto Gil (Cultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento); os ministros Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e Matilde Ribeiro (Igualdade
Racial) e Marco Aurélio Garcia,
"senior advisor" para política externa do presidente Lula, tal como
apresentado pelo cerimonial britânico; o embaixador brasileiro
em Londres, José Maurício Bustani, sua mulher, e o presidente do
BNDES, Guido Mantega.
Todos com cara de absoluto
deslumbramento pelo espetáculo
que a realeza oferece a seus hóspedes de honra. Todos menos Lula,
compenetrado, Amorim e Bustani, diplomatas curtidos nas pompas da profissão.
Haviam se passado apenas nove
minutos desde que o automóvel
Bentley que conduzia Lula, Marisa, o príncipe Edward (filho mais
novo da rainha) e sua mulher passara por trás da guarda de honra,
formada pelo 1º Batalhão da
Guarda Irlandesa, a cavalo, para
se aproximar do estrado em que a
rainha o esperava desde 12h12.
O príncipe Philip aproveitava o
tempo para conversar com as outras autoridades, desenhando círculos no chão de carpete vermelho com o guarda-chuva.
Lula desce do carro, de sobretudo escuro e cachecol. Marisa Letícia também veste casaco escuro
que cobre o vestido creme, deixando à mostra apenas o bordado
da gola e, naturalmente, o chapéu
creme, adornado com plumas,
muito elegante.
Cumprimentos de praxe, o Hino Nacional Brasileiro, também
como de praxe, e o grito forte do
comandante da guarda:
"- Guarda de Honra pronta
para a inspeção".
Lula desce do estrado para a
chuva, acompanhado do marido
da rainha que o protege com o
guarda-chuva. O presidente ergue
a cabeça, que baixara para fugir
da chuva, estufa o peito e faz a inspeção de cerimônia das duas fileiras de guarda.
Terminada a segunda fileira,
Lula volta-se, como manda o cerimonial, faz uma paradinha e surpreende Philip, que continua andando, ar de eternamente distraído, com seu guarda-chuva.
Os capacetes da guarda -aqueles de pêlo alto que os turistas
adoram fotografar- já estão encharcados, mas ninguém perde a
pose quando as carruagens vão se
aproximando, cada uma puxada
por duas duplas de cavalos.
O cortejo toma o rumo do
"Mall", a avenida que liga o palácio da guarda, também entrada
oficial de Buckingham, ao próprio palácio. No chão fica apenas
um montinho de estrume, bem
diante do estrado oficial, deixado
por um dos nada cerimoniosos
cavalos da parada.
As sete carruagens cruzam o
portão do palácio às 12h35 (9h35
em Brasília). Cumprindo à risca a
mais britânica das instituições, a
pontualidade, os dois casais entram no prédio principal às 12h40,
como o programado.
De novo, são recebidos pela
guarda montada da rainha, enquanto a banda toca no pátio o
Hino Nacional Brasileiro.
O primeiro a sair da carruagem
é o intérprete de Lula, Sérgio Ferreira, seguido pelo presidente e
pela rainha. Foi o primeiro momento em que o presidente relaxou, para soltar um sonoro "bom
dia" para os jornalistas que faziam o tradicional plantão, a
grande maioria brasileiros.
O presidente e boa parte da comitiva começaram então a tomar
contato com o palácio, a residência temporária em que ficam até
quinta-feira. "Vou precisar de um
mapa", diria depois Furlan.
Após o almoço, sempre no palácio, Lula, a rainha, o príncipe-consorte e os ministros foram à
"Picture Gallery", que, como o
nome diz, guarda os quadros da
coleção real, para visitar uma exposição especial de peças brasileiras do acervo.
Entre elas, foto da rainha e o
marido com Pelé e Gerson, no
Maracanã, tirada há 38 anos,
quando da visita do casal ao Brasil. Foi após vitória dos paulistas
sobre os cariocas por 3 a 2.
Lula, que adora futebol e metáforas futebolísticas, manteve a circunspecção e não fez nenhum comentário. A rainha, sim, o fez,
mas para o ministro Furlan, ao
mostrar foto de um desfile da
Mangueira, na mesma ocasião,
especial para ela. "E nem era Carnaval", fez questão de dizer -a
visita foi em novembro.
Texto Anterior: Saiba mais: Governo reduziu desmatamento da Amazônia em 30% Próximo Texto: Discursos em banquete no palácio são marcados por gafes, rock e futebol Índice
|