São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIPLOMACIA

Presidente e ministros almoçaram ontem no Palácio de Buckingham

Pontual, Lula encontra rainha após andar em carruagem real

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Luiz Inácio Lula da Silva completou ontem, 50 anos depois, a viagem para o mundo -que começou em um caminhão pau-de-arara, símbolo da pobreza- em um veículo que é o seu exato oposto: a carruagem real, ao lado da rainha Elizabeth.
Eram 12h29 (9h29 em Brasília) de uma terça-feira bem britânica, gelada e chuvosa, quando o presidente do Brasil subiu à carruagem (fechada, por causa do tempo) de teto de anjos dourados e uma coroa para sair do "Horse Guards", o palácio que abriga a guarda montada da rainha, rumo ao Palácio de Buckingham, dois quilômetros adiante e residência da realeza britânica desde 1837.
Com Lula, estavam a rainha Elizabeth e o intérprete, Sérgio Ferreira, que acompanha Lula desde quando podia chamá-lo apenas de Lula, não de presidente.
Atrás, mais seis carruagens, levando, pela ordem: a primeira-dama Marisa Letícia com o Duque de Edimburgo, o príncipe Philip; o príncipe Edward Antony Richard Louis e sua mulher, Sophie Rhys-Jones, condessa de Wessex; os ministros Celso Amorim (e a mulher) e Antonio Palocci; os ministros Fernando Haddad (Educação), Gilberto Gil (Cultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento); os ministros Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e Marco Aurélio Garcia, "senior advisor" para política externa do presidente Lula, tal como apresentado pelo cerimonial britânico; o embaixador brasileiro em Londres, José Maurício Bustani, sua mulher, e o presidente do BNDES, Guido Mantega.
Todos com cara de absoluto deslumbramento pelo espetáculo que a realeza oferece a seus hóspedes de honra. Todos menos Lula, compenetrado, Amorim e Bustani, diplomatas curtidos nas pompas da profissão.
Haviam se passado apenas nove minutos desde que o automóvel Bentley que conduzia Lula, Marisa, o príncipe Edward (filho mais novo da rainha) e sua mulher passara por trás da guarda de honra, formada pelo 1º Batalhão da Guarda Irlandesa, a cavalo, para se aproximar do estrado em que a rainha o esperava desde 12h12.
O príncipe Philip aproveitava o tempo para conversar com as outras autoridades, desenhando círculos no chão de carpete vermelho com o guarda-chuva.
Lula desce do carro, de sobretudo escuro e cachecol. Marisa Letícia também veste casaco escuro que cobre o vestido creme, deixando à mostra apenas o bordado da gola e, naturalmente, o chapéu creme, adornado com plumas, muito elegante.
Cumprimentos de praxe, o Hino Nacional Brasileiro, também como de praxe, e o grito forte do comandante da guarda:
"- Guarda de Honra pronta para a inspeção".
Lula desce do estrado para a chuva, acompanhado do marido da rainha que o protege com o guarda-chuva. O presidente ergue a cabeça, que baixara para fugir da chuva, estufa o peito e faz a inspeção de cerimônia das duas fileiras de guarda.
Terminada a segunda fileira, Lula volta-se, como manda o cerimonial, faz uma paradinha e surpreende Philip, que continua andando, ar de eternamente distraído, com seu guarda-chuva.
Os capacetes da guarda -aqueles de pêlo alto que os turistas adoram fotografar- já estão encharcados, mas ninguém perde a pose quando as carruagens vão se aproximando, cada uma puxada por duas duplas de cavalos.
O cortejo toma o rumo do "Mall", a avenida que liga o palácio da guarda, também entrada oficial de Buckingham, ao próprio palácio. No chão fica apenas um montinho de estrume, bem diante do estrado oficial, deixado por um dos nada cerimoniosos cavalos da parada.
As sete carruagens cruzam o portão do palácio às 12h35 (9h35 em Brasília). Cumprindo à risca a mais britânica das instituições, a pontualidade, os dois casais entram no prédio principal às 12h40, como o programado.
De novo, são recebidos pela guarda montada da rainha, enquanto a banda toca no pátio o Hino Nacional Brasileiro.
O primeiro a sair da carruagem é o intérprete de Lula, Sérgio Ferreira, seguido pelo presidente e pela rainha. Foi o primeiro momento em que o presidente relaxou, para soltar um sonoro "bom dia" para os jornalistas que faziam o tradicional plantão, a grande maioria brasileiros.
O presidente e boa parte da comitiva começaram então a tomar contato com o palácio, a residência temporária em que ficam até quinta-feira. "Vou precisar de um mapa", diria depois Furlan.
Após o almoço, sempre no palácio, Lula, a rainha, o príncipe-consorte e os ministros foram à "Picture Gallery", que, como o nome diz, guarda os quadros da coleção real, para visitar uma exposição especial de peças brasileiras do acervo.
Entre elas, foto da rainha e o marido com Pelé e Gerson, no Maracanã, tirada há 38 anos, quando da visita do casal ao Brasil. Foi após vitória dos paulistas sobre os cariocas por 3 a 2.
Lula, que adora futebol e metáforas futebolísticas, manteve a circunspecção e não fez nenhum comentário. A rainha, sim, o fez, mas para o ministro Furlan, ao mostrar foto de um desfile da Mangueira, na mesma ocasião, especial para ela. "E nem era Carnaval", fez questão de dizer -a visita foi em novembro.


Texto Anterior: Saiba mais: Governo reduziu desmatamento da Amazônia em 30%
Próximo Texto: Discursos em banquete no palácio são marcados por gafes, rock e futebol
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.