São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

Texto Anterior | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Deus salve

Reprodução

Ao vivo, na Band News, cenas do banquete. Mas aquela que ficou, do dia de Lula em Londres, foi mesmo a faixa do Greenpeace na BBC (acima) durante a passagem da carruagem de Elizabeth 2ª:
- Deus salve a Amazônia.
Foi um dia para se diferenciar dos anteriores, de eterno amor ao brasileiro na imprensa.
Não que a cobertura tenha mudado, a começar do próprio canal de notícias da BBC, mas ao menos as ONGs contrastaram.
A BBC Brasil, serviço on-line e audiovisual da corporação, com eco em sites e emissoras brasileiras, destacou desde cedo que elas surgiram primeiro no jornal "Independent", de esquerda.
Um anúncio publicitário de página inteira do Greenpeace, um artigo da representante da Anistia Internacional no Reino Unido e uma reportagem com base na Observatório Social abordaram, respectivamente, desmatamento, violência contra pobres e trabalho infantil.
Segundo a BBC Brasil, outras ONGs, como Oxfam e Survival International, voltadas à fome e aos índios, pediram audiência com Lula, sem sucesso.
Nos sites das mesmas, viam-se suas mensagens, como na home page do Greenpeace.org, "Diga a Lula: Salve a Amazônia".
Curiosamente, o texto remete a outro também do Greenpeace, com elogios a uma decisão de Lula em fevereiro -contra o desmatamento da Amazônia.
 
Mas a cobertura londrina priorizou ontem o caso Jean Charles. Do canal BBC:
- A visita vem depois de um período de relações tensas que se seguiu à morte do inocente brasileiro pela polícia, em julho.
O "Times" sublinhou que "a memória da morte controversa será reavivada [nesta quarta] com a divulgação do relatório sobre a política antiterrorismo de atirar-para-matar".
A política já era questionada ontem, nos sites britânicos e no programa de TV "Panorama". Mas era nos tablóides, como sempre acontece, que o episódio renascia com estardalhaço.
O "Sun" deu como notícia "exclusiva" que Sir Ian Blair, o chefe da polícia metropolitana, alvo maior da família de Jean Charles, "foi cortado" à tarde da recepção oficial a Lula. A fonte do jornal entregou o motivo:
- A grande preocupação era que o presidente se recusasse a cumprimentar Sir Ian, gerando um incidente diplomático.
Ele estaria depois no banquete do palácio, mas também então "mantido à distância" de Lula.
 
Ontem, por fim, foi também dia de se iniciarem as pressões comerciais. Como comentou o canal BBC, sobre a presença de Tony Blair como figurante na recepção da rainha a Lula:
- Esta visita de Estado é sinal da importância crescente do Brasil para os líderes europeus. Já um poder regional, sua força econômica também vive alta... Para conversas significativas, o presidente Lula veio com uma equipe muito forte, com nada menos do que sete ministros e 200 líderes empresariais.
Mais ONG. A agência Reuters noticiou o "alerta a Lula" dado pela ActionAid, "Mantenha-se firme". Era um "chamamento" para não ceder à crescente "pressão das nações ricas" por abertura nos serviços, nas tais "conversas significativas".

Ninguém suporta
Na submanchete da Folha Online, ontem no final da tarde, "Tasso Jereissati se desencontra de Geraldo Alckmin, mas vê José Serra". Daí para o título em tom de desabafo, ontem no blog de Jorge Bastos Moreno:
- Ninguém suporta mais!
E daí ao título do comentário on-line de Gilberto Dimenstein:
- Ninguém agüenta mais a novela tucana.
Pergunta e resposta feitas pelo primeiro, no Globo Online:
- Existe assunto mais chato do que a indefinição do PSDB? Mas não há outro remédio...

Ou agüenta
Os dois ecoam, curiosamente, um título no blog de Ricardo Noblat, poucos dias atrás:
- Ninguém agüenta mais.
Falava da CPI dos Correios, que, como anuncia o blog de Fernando Rodrigues, o PFL quer prorrogar, "mas o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral, não quer nem saber".

Ano eleitoral
Nem ressurreição eleitoral da CPI nem o cabo-de-guerra dos tucanos -o dia de ontem na campanha ficará marcado pela TV digital (leia em Dinheiro).
Antes mesmo de se divulgar a decisão, sites engajados como NovaE, em manchete, Ibase e Indymedia já criticavam, com o texto "TV digital brasileira, do sonho ao ralo". E tome ataques à "pressa", aos "interesses".
Também em sites setorizados como o Pay-TV "a definição foi duramente criticada" durante a abertura de um evento. Grupos da sociedade civil lamentavam a decisão em "ano eleitoral".

Escalada
Ontem nas manchetes do "JN", finalmente, a viagem:
- Começa a visita oficial do presidente Lula à Inglaterra.
William Bonner notou que Lula sorriu e "pareceu se divertir na conversa com a rainha".

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


Texto Anterior: Discursos em banquete no palácio são marcados por gafes, rock e futebol
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.