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Viagem "não é uma competição", dizem EUA sobre Chávez
Bush inicia hoje, pelo Brasil, viagem à América Latina sob sombra da influência do presidente venezuelano na região
Governo americano volta a descartar queda da tarifa do álcool, desejada pelo Brasil, e diz que país não teria como atender a demanda interna
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Não, os Estados Unidos não
querem neutralizar o venezuelano Hugo Chávez e esse não é
um dos motivos da viagem à
América Latina do presidente
George W. Bush, que começa
hoje, no fim da tarde, quando o
americano desembarcar no aeroporto de Guarulhos (SP).
Quem informa é o responsável do Departamento de Estado
pela região, Thomas Shannon.
Instado a comparar as cifras de
ajuda externa que os EUA destinam à região -US$ 1,5 bilhão,
segundo o orçamento do ano
fiscal de 2008, que começa em
outubro- e os investimentos
que o venezuelano faz -Chávez gastou o mesmo total só em
compras de títulos da Argentina-, o diplomata respondeu:
"Isso não é uma competição".
O sistema de ajuda dos EUA à
região, disse, "não é via favores
ou criando relações de dependência, que é o que o presidente
Chávez tenta fazer". "Queremos capacitar governos para
ter parceiros fortes e independentes, mas democráticos e
comprometidos com os valores
políticos que nós temos."
Citaria dez tratados de livre-comércio feitos durante a gestão de Bush na região e duas
propostas de tratado, "mais do
que qualquer governo anterior". "Não se trata só de ajuda
externa, mas de abrir nosso
mercado à região e usar a ligação entre os mercados para aumentar o crescimento econômico e a criação de empregos",
afirmou, em entrevista ontem,
em Washington, horas antes de
embarcar para o Brasil.
Shannon diria ainda que a
mensagem de Chávez para a região é de "confronto, conflito,
tem uma pesada dose de antiamericanismo, o que não consideramos positivo para aumentar o entendimento mútuo".
Antes, indagado sobre as críticas freqüentes e mais ou menos unânimes, vindas de ambos
os lados do espectro político,
segundo as quais o governo do
republicano havia relegado a
região a segundo plano desde o
ataque terrorista de 11 de Setembro, Shannon respondeu:
"Quando se trata de não dar
atenção à região, sim, estão todos errados. É óbvio, não?".
Na segunda-feira, Bush
anunciou um plano para a região com ações assistencialistas que lembram as de Chávez.
Por mais que sua equipe e o
próprio presidente neguem, ele
faz seu giro latino-americano
numa luta por "corações e
mentes", como qualificou o jornal "The Washington Post", de
um continente que vê crescer a
influência do venezuelano.
Influência que Chávez conquista com seu discurso antiamericano e suas ações assistencialistas e populistas, por ironia
movidas a petrodólares que obtém ao vender o produto ao governo do mesmo George W.
Bush -a Venezuela é o quarto
maior país exportador de petróleo dos EUA; por sua vez, o
país ao norte é o maior cliente
do governo de Caracas.
Em entrevista dada ontem à
CNN espanhola, quando indagado se a viagem não significava também um esforço de conter o avanço de Chávez, Bush
respondeu: "Essa viagem é
realmente para lembrar às pessoas que nós nos importamos".
É a terceira ida do presidente
norte-americano à região. É
também a segunda vez que visita o Brasil em seis anos de mandato. Bush esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
no final de 2005, em Brasília,
onde foi recebido com churrasco na Granja do Torto. No dia
31 de março, retribui a gentileza, ao receber Lula e Marisa em
Camp David (Maryland), para
um fim de semana no retiro
presidencial.
Indagado se não faltaria assunto aos dois presidentes,
com dois encontros tão próximos um do outro e inéditos na
diplomacia brasileira, Shannon
respondeu: "Nossa relação com
o Brasil é tão grande que não teremos dificuldade em achar assuntos sobre o que conversar".
Shannon descartaria, porém,
a queda da tarifa do álcool, um
dos pontos defendidos por Lula
nas discussões do memorando
bilateral de biocombustíveis,
que os dois presidentes devem
anunciar amanhã. "Eu salientaria o fato de que o Brasil tem
sido tão bem-sucedido em promover automóveis e motores
"flexfuel" que, tomando pelo
que os exportadores brasileiros
nos dizem, o Brasil não conseguirá nem satisfazer sua demanda interna", afirmou.
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