São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Viagem "não é uma competição", dizem EUA sobre Chávez

Bush inicia hoje, pelo Brasil, viagem à América Latina sob sombra da influência do presidente venezuelano na região

Governo americano volta a descartar queda da tarifa do álcool, desejada pelo Brasil, e diz que país não teria como atender a demanda interna


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Não, os Estados Unidos não querem neutralizar o venezuelano Hugo Chávez e esse não é um dos motivos da viagem à América Latina do presidente George W. Bush, que começa hoje, no fim da tarde, quando o americano desembarcar no aeroporto de Guarulhos (SP).
Quem informa é o responsável do Departamento de Estado pela região, Thomas Shannon. Instado a comparar as cifras de ajuda externa que os EUA destinam à região -US$ 1,5 bilhão, segundo o orçamento do ano fiscal de 2008, que começa em outubro- e os investimentos que o venezuelano faz -Chávez gastou o mesmo total só em compras de títulos da Argentina-, o diplomata respondeu: "Isso não é uma competição".
O sistema de ajuda dos EUA à região, disse, "não é via favores ou criando relações de dependência, que é o que o presidente Chávez tenta fazer". "Queremos capacitar governos para ter parceiros fortes e independentes, mas democráticos e comprometidos com os valores políticos que nós temos."
Citaria dez tratados de livre-comércio feitos durante a gestão de Bush na região e duas propostas de tratado, "mais do que qualquer governo anterior". "Não se trata só de ajuda externa, mas de abrir nosso mercado à região e usar a ligação entre os mercados para aumentar o crescimento econômico e a criação de empregos", afirmou, em entrevista ontem, em Washington, horas antes de embarcar para o Brasil.
Shannon diria ainda que a mensagem de Chávez para a região é de "confronto, conflito, tem uma pesada dose de antiamericanismo, o que não consideramos positivo para aumentar o entendimento mútuo".
Antes, indagado sobre as críticas freqüentes e mais ou menos unânimes, vindas de ambos os lados do espectro político, segundo as quais o governo do republicano havia relegado a região a segundo plano desde o ataque terrorista de 11 de Setembro, Shannon respondeu: "Quando se trata de não dar atenção à região, sim, estão todos errados. É óbvio, não?".
Na segunda-feira, Bush anunciou um plano para a região com ações assistencialistas que lembram as de Chávez. Por mais que sua equipe e o próprio presidente neguem, ele faz seu giro latino-americano numa luta por "corações e mentes", como qualificou o jornal "The Washington Post", de um continente que vê crescer a influência do venezuelano.
Influência que Chávez conquista com seu discurso antiamericano e suas ações assistencialistas e populistas, por ironia movidas a petrodólares que obtém ao vender o produto ao governo do mesmo George W. Bush -a Venezuela é o quarto maior país exportador de petróleo dos EUA; por sua vez, o país ao norte é o maior cliente do governo de Caracas.
Em entrevista dada ontem à CNN espanhola, quando indagado se a viagem não significava também um esforço de conter o avanço de Chávez, Bush respondeu: "Essa viagem é realmente para lembrar às pessoas que nós nos importamos".
É a terceira ida do presidente norte-americano à região. É também a segunda vez que visita o Brasil em seis anos de mandato. Bush esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2005, em Brasília, onde foi recebido com churrasco na Granja do Torto. No dia 31 de março, retribui a gentileza, ao receber Lula e Marisa em Camp David (Maryland), para um fim de semana no retiro presidencial.
Indagado se não faltaria assunto aos dois presidentes, com dois encontros tão próximos um do outro e inéditos na diplomacia brasileira, Shannon respondeu: "Nossa relação com o Brasil é tão grande que não teremos dificuldade em achar assuntos sobre o que conversar".
Shannon descartaria, porém, a queda da tarifa do álcool, um dos pontos defendidos por Lula nas discussões do memorando bilateral de biocombustíveis, que os dois presidentes devem anunciar amanhã. "Eu salientaria o fato de que o Brasil tem sido tão bem-sucedido em promover automóveis e motores "flexfuel" que, tomando pelo que os exportadores brasileiros nos dizem, o Brasil não conseguirá nem satisfazer sua demanda interna", afirmou.


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