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União indeniza 7 perseguidas por ditadura militar no Brasil
Em sessão comemorativa ao Dia Internacional da Mulher, Comissão de Anistia concede benefícios; Clara Charf, viúva de Marighela, receberá R$ 2.520 ao mês
Alan Marques/Folha Imagem
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Clara Charf, Maria do Socorro, Beatriz Arruda, Estrella Dalva, Ana Wilma e Halue Yamaguti, indenizadas pela Comissão de Anistia
ANGELA PINHO
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma sessão comemorativa ao Dia Internacional da Mulher, a Comissão de Anistia do
Ministério da Justiça aprovou
ontem o pagamento de indenizações a sete mulheres perseguidas pelo regime militar, que
vigorou entre 1964 e 1985.
Entre as beneficiadas estão
Clara Charf, viúva do líder
guerrilheiro Carlos Marighela,
assassinado em 1969, e Nancy
Mangabeira Unger, irmã do ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto
Mangabeira Unger.
Charf, 82, que foi presa pela
repressão, exilou-se em Cuba
nos anos 70 e depois ajudou na
fundação do PT, receberá mensalmente a quantia de R$ 2.520
até o fim da vida. Também será
pago o valor mensal retroativo
aos últimos cinco anos.
Já Nancy, que militou no antigo PCBR (Partido Comunista
Brasileiro Revolucionário), terá direito a R$ 100 mil, em parcela única. Ao ser presa, em Recife, teve o polegar direito decepado por um tiro de fuzil.
Outras cinco mulheres haviam sido declaradas anistiadas: Ana Wilma Oliveira Moraes, ligada à Aliança Libertadora Nacional (ALN), Estrella
Dalva Bohadana Bursztyn, do
POC (Partido Operário Comunista), Halue Yamaguti de Melo, do PCB (Partido Comunista
Brasileiro), Beatriz Arruda, que
foi casada com um deputado do
antigo MDB e teve de se exilar
com ele, e Maria do Socorro de
Magalhães, que participava do
movimento estudantil em Pernambuco. A sessão da comissão
foi aberta ao público.
Todos os casos foram aprovados por unanimidade pelas
seis conselheiras que participaram do julgamento.
"Só num regime democrático
pode ocorrer uma sessão como
essa. Democracia não é só o direito de votar, é o direito de saber a verdade", declarou Charf.
A irmã do ministro Mangabeira Unger declarou que a geração de 1968, que iniciou a resistência à ditadura, não fracassou. "O que traz a grandeza não
são somente os resultados palpáveis, mas aquilo por que lutamos. A geração de 68 era de
acrobatas sem rede", declarou.
A sessão teve momentos de
emoção. Charf e Arruda, por
exemplo, choraram. Também
houve críticas ao governo.
"O Estado brasileiro ainda
não pediu desculpas pelos crimes que cometeu. Não estou
falando só de Lula, ou de FHC,
mas do Estado", disse Iara Xavier Pereira, ex-perseguida política que discursou no evento.
Os grupos guerrilheiros de
esquerda também praticaram
atos terroristas durante a ditadura e foram responsáveis pela
morte de civis e militares.
Pelos critérios da comissão,
há dois tipos de indenização: se
o beneficiado tinha emprego fixo quando começou a ser perseguido, ele recebe um valor
mensal baseado numa projeção
de onde sua carreira estaria
agora. Se não tinha emprego,
recebe de uma única vez um valor de 30 salários mínimos por
ano de perseguição, com o limite de R$ 100 mil.
No caso de Ana Wilma, por
exemplo, a indenização será de
R$ 2.000 por mês. Em 1969, ela
trabalhava como secretária da
empresa Folha da Manhã, que
edita a Folha, quando foi presa
e perdeu o emprego. "É incrível
entrar no Ministério da Justiça
para ser homenageada. Eu
sempre entrei nos órgãos do
governo encapuzada", afirmou
Ana Wilma.
O presidente da comissão,
Paulo Abrão, disse que as sete
mulheres foram escolhidas por
serem "representativas" das
demais que pleiteiam o benefício e por terem o processo concluído. Nos últimos cinco anos,
30 mil casos foram julgados pela comissão e, em cerca de 50%,
os pedidos de foram aceitos.
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