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Fiscais localizam 1.500 em situação precária
Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, é sócio de empresa que foi alvo de ação do Ministério do Trabalho em GO e em MT
Foram resgatados 17 em condições degradantes; procurador diz que serão ajuizadas três ações civis públicas contra a empresa
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
O grupo móvel do Ministério
do Trabalho encontrou em
Goiás e Mato Grosso mais de
1.500 trabalhadores contratados pela Brenco, empresa do
ramo de biocombustíveis, em
moradias precárias. Dezessete
deles foram resgatados, sob o
argumento de estarem em condições degradantes.
Bill Clinton, ex-presidente
dos EUA, é um dos investidores
da empresa, que tem entre seus
fundadores Stephen Case, fundador da AOL, James Wolfensohn, ex-presidente do Banco
Mundial, e Vinod Khosla, indiano radicado nos EUA e fundador da Sun Microsystems
(leia texto nesta página).
A empresa, que planeja ter
dez usinas no país, produz álcool combustível. Ela chegou
ao Brasil há um ano.
A operação dos fiscais passou
por três cidades para apurar as
denúncias contra a Brenco:
Campo Alegre de Goiás, Mineiros (GO) e Alto Taquari (MT).
No primeiro município, eles
foram até uma casa alugada por
um "gato" (aliciador de mão-de-obra) que trabalhava para a
empresa, segundo o Ministério
Público do Trabalho.
Ali, os 17 trabalhadores que
foram resgatados comiam o
que o aliciador lhes dava e reclamaram de fome, segundo o
procurador do trabalho Antônio Carlos Cavalcante, que participou da ação. Devido à chuva
e à precariedade do local, dormiam em colchões molhados.
Campo Alegre de Goiás não
tem nenhuma propriedade da
Brenco, mas era, de acordo com
o procurador, um "entreposto"
para os trabalhadores que iam a
Mineiros. Nesta cidade, a empresa colocou em um hotel no
centro 116 homens que iam
participar do plantio da cana-de-açúcar. Lá, a infra-estrutura
também era precária. O maior
problema era a superlotação,
segundo o Ministério Público
do Trabalho.
Depois, os fiscais foram para
o alojamento da empresa, chamado de Urtigão 1.
Feito de lona, ele tinha condições aceitáveis, mas quem estava nele tinha dificuldades de
sair à noite, de acordo com Cavalcante. "Os "gatos" não deixavam o pessoal sair nem beber
cachaça, para aumentar a produtividade", disse ele.
Interdição
Ainda em Mineiros, o grupo
encontrou diversas irregularidades em uma das frentes de
trabalho, na fazenda Laranjeiras, arrendada pela empresa.
De acordo com a coordenadora do grupo móvel, Jacqueline Carrijo, foi feita a interdição
do plantio da cana. "Havia falta
de abrigo para as refeições e de
instalações sanitárias. Não tinha também papel higiênico e
sabão para que eles pudessem
lavar as mãos", disse ela.
Em Alto Taquari, cerca de
1.400 trabalhadores, divididos
em dois alojamentos, foram encontrados em situação precária. "A fiação estava exposta e
havia fezes boiando no banheiro", afirma Cavalcante. Os banheiros dos dois locais foram
interditados por não apresentar nenhuma condição de uso.
Sem ter para onde levar os
trabalhadores, o resgate não foi
efetuado, mas os próprios trabalhadores cobraram a rescisão
do contrato -a maioria de Maranhão, Piauí e Ceará.
Segundo Carrijo, cerca de
250 já haviam conseguido,
além de acertar o término do
contrato, receber as passagens
de volta para as cidades de origem pagas pela Brenco.
"Eles tiveram a promessa de
ficar bem alojados, ganhar muito pelo metro da cana, mas cansaram de esperar naquelas condições. Houve precipitação da
empresa", disse ela.
Carrijo afirmou que os alojamentos estavam inacabados e
espera que a empresa realoque
as pessoas.
O procurador disse que vai
ajuizar três ações civis públicas,
cada uma no valor de R$ 5 milhões, por danos morais coletivos contra a empresa. Segundo
ele, o objetivo é que o dinheiro
seja destinado às comunidades
das três cidades.
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