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JANIO DE FREITAS
Iguais diferentes
Mais de 3.000 pessoas "de baixa renda", como dizem os higiênicos economistas, estavam desabrigadas pela enchente em
São Paulo, sem merecer ao menos uma palavrinha de curiosidade presidencial sobre a tragédia, enquanto o presidente da
República decidia, reunido com
Antonio Carlos Magalhães e
Michel Temer, que o governo
indenizará as vítimas cariocas
do seu aliado político Sérgio
Naya.
A decisão, a rigor, foi de Antonio Carlos, que mais de 24 horas antes da reunião com Fernando Henrique já dizia, publicamente, o que o governo devia
fazer. Com base em que leis,
não disse. Nem Fernando Henrique ousou questionar, antes
de cumprir a opinião recebida.
Sem decisão
Compra de votos para aprovar o projeto de reeleição. Compra de votos para que o PMDB,
logo mais, diga preferir o apoio
a Fernando Henrique a ter um
candidato peemedebista. A
próxima: compra de votos no
eleitorado pobre, para tentar a
vitória no primeiro turno, sem
os riscos previstos no segundo.
Eleição no Brasil é jogo baixo,
de sujeira que já deu até em
revolução, mas de lá para cá
nunca foi tão imundo. E talvez
nunca o tenha sido também
antes.
O uso político de verbas públicas, as chantagens e demais
falcatruas motivadas pela convenção do PMDB buscam uma
decisão que tem a peculiaridade de não decidir. A convenção
que dirá, oficialmente, quem é
o candidato presidencial do
PMDB ocorrerá em junho. Hoje, em vez da decisão propalada
pelos meios de comunicação, o
PMDB oferecerá uma certa definição de tendências, até aqui
obscurecidas pela despersonificação do peemedebismo.
Fernando Henrique e seus
aliados sabem que, em caso de
derrota hoje, têm ainda três
meses para usar e multiplicar
os seus recursos habituais - ou
os nossos, mal guardados nos
cofres públicos - em assédios
que o façam escolhido em junho.
Essa possibilidade de Fernando Henrique significa uma fragilidade dos favoráveis a um
candidato peemedebista, mesmo que vitoriosos hoje. Mas, em
contrapartida, o seu êxito tenderia a injetar no PMDB borocoxô um novo ânimo briosamente peemedebista. E isso reduziria a área do partido suscetível ao som metálico das ofertas fernandistas.
Mentira
Anuncia-se que os ministros,
convocados pelo presidente da
República, reúnem-se nesta semana por causa do aumento do
desemprego, segundo estatística
do próprio governo, a altitude
recordista. Devem todos oferecer soluções urgentes.
Há um mês, as notícias e comentários sobre o aumento do
desemprego foram dados por
Fernando Henrique como
"mentiras, invenção de oposicionistas, porque o emprego está estável".
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