São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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JANIO DE FREITAS
Iguais diferentes

Mais de 3.000 pessoas "de baixa renda", como dizem os higiênicos economistas, estavam desabrigadas pela enchente em São Paulo, sem merecer ao menos uma palavrinha de curiosidade presidencial sobre a tragédia, enquanto o presidente da República decidia, reunido com Antonio Carlos Magalhães e Michel Temer, que o governo indenizará as vítimas cariocas do seu aliado político Sérgio Naya.
A decisão, a rigor, foi de Antonio Carlos, que mais de 24 horas antes da reunião com Fernando Henrique já dizia, publicamente, o que o governo devia fazer. Com base em que leis, não disse. Nem Fernando Henrique ousou questionar, antes de cumprir a opinião recebida.

Sem decisão
Compra de votos para aprovar o projeto de reeleição. Compra de votos para que o PMDB, logo mais, diga preferir o apoio a Fernando Henrique a ter um candidato peemedebista. A próxima: compra de votos no eleitorado pobre, para tentar a vitória no primeiro turno, sem os riscos previstos no segundo.
Eleição no Brasil é jogo baixo, de sujeira que já deu até em revolução, mas de lá para cá nunca foi tão imundo. E talvez nunca o tenha sido também antes.
O uso político de verbas públicas, as chantagens e demais falcatruas motivadas pela convenção do PMDB buscam uma decisão que tem a peculiaridade de não decidir. A convenção que dirá, oficialmente, quem é o candidato presidencial do PMDB ocorrerá em junho. Hoje, em vez da decisão propalada pelos meios de comunicação, o PMDB oferecerá uma certa definição de tendências, até aqui obscurecidas pela despersonificação do peemedebismo.
Fernando Henrique e seus aliados sabem que, em caso de derrota hoje, têm ainda três meses para usar e multiplicar os seus recursos habituais - ou os nossos, mal guardados nos cofres públicos - em assédios que o façam escolhido em junho.
Essa possibilidade de Fernando Henrique significa uma fragilidade dos favoráveis a um candidato peemedebista, mesmo que vitoriosos hoje. Mas, em contrapartida, o seu êxito tenderia a injetar no PMDB borocoxô um novo ânimo briosamente peemedebista. E isso reduziria a área do partido suscetível ao som metálico das ofertas fernandistas.

Mentira
Anuncia-se que os ministros, convocados pelo presidente da República, reúnem-se nesta semana por causa do aumento do desemprego, segundo estatística do próprio governo, a altitude recordista. Devem todos oferecer soluções urgentes.
Há um mês, as notícias e comentários sobre o aumento do desemprego foram dados por Fernando Henrique como "mentiras, invenção de oposicionistas, porque o emprego está estável".



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