São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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OMBUDSMAN
A ingenuidade à sua disposição

RENATA LO PRETE

Das conversas que tive com leitores e colegas desde que aceitei o convite para ser ombudsman da Folha, há uma frase em especial que não me sai da cabeça. "Para assumir essa função, é preciso ser um pouco ingênuo", disse-me Caio Túlio Costa, o primeiro a ocupar o cargo no jornal.
Dele e dos outros ombudsmen ouvi ainda palavras de estímulo e demonstrações sinceras de apreço pela instituição que consolidaram.
Mas não é difícil descobrir o que Costa quer dizer. No meio do caminho entre o jornal e o leitor, o ombudsman existe para apresentar ao primeiro falhas e arbitrariedades apontadas pelo segundo.
A pressa com que é feito condena o jornal a uma certa dose de erros e distorções. Muitos jornalistas consideram que essa imposição tudo desculpa e os exime de dar explicações ao público.
Já foi pior. Hoje, alvo da mesma intensidade crítica que dedica aos outros, a imprensa -ou ao menos parte dela- revê procedimentos e busca o aperfeiçoamento.
A Folha está nesse caminho, o que é um bom começo. Por meio de programa de qualidade, comissões e seminários internos, seus profissionais refletem cada vez mais sobre os limites de sua atividade e as formas de prestar um serviço de melhor qualidade.
Mas não é o bastante. O jornal comete mais erros do que seria saudável aceitar. Vão de pequenas incorreções, que poderiam ser evitadas com um pouco de aplicação e humildade, a falhas graves.
"O jornalismo terá de fazer frente a uma exigência qualitativa muito superior à do passado, refinando sua capacidade de selecionar, didatizar e analisar", diz a Folha no ambicioso projeto editorial que apresentou em agosto.
O leitor percebe que esse patamar de qualidade ainda aparece de forma incipiente nas páginas do jornal.
Mas, se há muito por ser feito, a Folha tem o mérito de expor suas fraquezas ao público como nenhum outro veículo da imprensa brasileira.
A instituição do ombudsman, que em setembro completa nove anos no jornal, é uma das manifestações dessa política.
Em minha primeira semana de contato com os leitores, percebi que está longe de haver unanimidade quanto à eficácia da função.
Há quem reclame da arrogância nas respostas de alguns jornalistas. Não há como discordar.
Muitos não entendem por que as explicações às vezes demoram tanto a chegar. Nem eu, que estive por 12 anos na Redação.
Quero, aliás, assumir publicamente o compromisso de encurtar esse caminho, bem como o de não deixar ninguém sem resposta.
Agradeço a todos os que me desejaram boa sorte. Vou precisar. Quanto a você, leitor, minha ingenuidade está à sua disposição.



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