São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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DOMINGUEIRA
O Rio é aqui

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo


Algumas áreas de opinião de São Paulo alimentam a idéia de que morar no Rio de Janeiro é conviver cotidianamente com o caos.
O incêndio no aeroporto, os apagões da Ligth, o desmoronamento do edifício da Barra e a imagem de violência, que ainda perdura, servem para confirmar a convicção e reconfortar o paulistano: ele não mora numa bela cidade, não tem uma linda paisagem, não vê o mar, mas as coisas, ao menos, funcionam.
Esta semana, a quimera foi tristemente demolida pelas águas de março, que acentuaram os problemas que já vinham se acumulando na cidade: apagões em diversos bairros, lixo, buracos nas ruas, engarrafamentos infindáveis etc.
Sob chuva, São Paulo transformou-se numa selva urbana. Sinais apagados, automóveis subindo uns sobre os outros, túneis alagados, regiões inteiras sem energia elétrica, as pessoas com medo de sair às ruas.
A paulatina degradação da cidade, levada à falência pela irresponsabilidade confessa da dupla Maluf e Pitta (que o humor paulistano já apelidou de Pittanic), vai chegando ao estágio de calamidade.
Nada leva a crer que o prefeito, condenado pela Justiça e pela opinião pública, envolvido em casos mais do que suspeitos, sem carisma e sem autoridade, possa renovar as esperanças dos paulistanos de viver melhor.
Claro que, provavelmente, haverá tempo para as maquiagens de praxe: um "lençol asfáltico" aqui, um "fura-fila" ali, uma jardinagem acolá. Talvez possa ser o suficiente para, mais uma vez, seduzir um eleitorado que -diga-se- parece merecer os governantes que tem.

Enquanto isso, Brasília continua confundindo as bolas. Num show de oportunismo e demagogia, mostrou, ao prometer indenização às vítimas do Palace, sua concepção de "social" -certamente mais para o colunismo do que para qualquer outra coisa.
No Brasil, um berro da classe média vale mais do que mil uivos do populacho.
A propósito, não deveria a prefeitura, essa sim responsável pela tragédia, indenizar as vítimas do temporal de São Paulo? Como ficam as pessoas que tiveram suas vidas ameaçadas e seus bens arruinados em ruas e túneis que deveriam dar vazão à chuva?





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