São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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SUCESSÃO PRESIDENCIAL
Só o presidente e o senador apresentam interesses e estratégias definidos na disputa de hoje
FHC e Sarney protagonizam a convenção

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


A Convenção Nacional do PMDB hoje em Brasília tem apenas dois protagonistas e um monte de atores coadjuvantes.
Os protagonistas são o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o ex-presidente e hoje senador José Sarney (PMDB-AP).
Os outros -Itamar Franco, Paes de Andrade, Orestes Quércia, Michel Temer etc.- estão sendo usados em papéis secundários. Esperam ficar com alguma sobra da vitória de José Sarney ou de FHC.
Na barganha que precedeu a convenção, só FHC e Sarney jogaram como profissionais da política -com objetivos claros e definidos à frente. Para isso, não hesitaram em instrumentalizar aliados.
A seguir, a estratégia e a expectativa de FHC, Sarney, Itamar e Paes de Andrade na disputa de hoje:
1) FHC - o presidente da República distribuiu promessas para seus aliados dentro do PMDB. Ofereceu desde cargos até apoio durante a campanha eleitoral.
Em troca, FHC quer duas coisas: o tempo de TV do PMDB e o apoio de Sarney e de Itamar.
Se a convenção decidir contra a candidatura própria do PMDB, a vitória de FHC só estará completa no caso de Sarney e Itamar declararem apoio imediato ao governo federal. Caso contrário, o presidente terá de negociar até junho;
2) Sarney - o ex-presidente sabe que suas chances eleitorais numa campanha presidencial são limitadas. Mas que elas existem e incomodam o Palácio do Planalto.
No fundo, Sarney adoraria disputar mais um mandato de presidente. Realista, considera ser melhor esperar até o último momento para decidir o rumo a tomar.
O primeiro passo da estratégia de Sarney foi reforçar o deputado Paes de Andrade (CE) na presidência do PMDB. Isso garante uma certa independência do partido em relação ao governo federal.
Sarney se complicou no final do ano passado, quando começaram a ser recorrentes suas declarações sobre uma possível candidatura à Presidência. Só que Itamar o salvou dizendo que pleiteava o posto de candidato. Mais do que depressa, Sarney instrumentalizou Itamar, declarando-lhe apoio.
Essa ação de Sarney o livrou de ficar obrigado a cabalar votos a favor da tese da candidatura própria. O máximo que faz é dizer que é simpático à idéia. Mas não mexe uma palha para convencer os delegados do Amapá e do Maranhão.
Sarney preparou o terreno de tal forma que só perde em uma única circunstância: no caso de vencer a tese da aliança e Itamar Franco declarar apoio imediato a FHC.
Isso deixaria Sarney obrigado a tomar uma decisão que espera adotar apenas na última hora legal, no final de junho.
Por essa razão, ficou irritado com uma declaração de anteontem de Itamar -que acenou com a possibilidade de um acordo de para o PMDB apoiar FHC no caso de derrota da candidatura própria;
3) Itamar - o ex-presidente não tem uma atuação de peso no PMDB. Tem seguidores apenas pelo fato de ter nas pesquisa taxas próximas dos 10%.
O problema de Itamar é que não consegue ter certeza de sucesso numa disputa presidencial. Nem para o governo de Minas Gerais ou para uma vaga ao Senado.
Interessa a Itamar, portanto, esticar ao máximo a corda da possível candidatura própria. Pelo menos pode tentar negociar uma saída mais adiante.
4) Paes de Andrade - o presidente nacional da sigla está sem saída. Só sobrevive no cargo se vencer a tese da candidatura própria. Se perder amanhã, fica sem condições de dirigir o partido.
Além disso, mesmo vencendo a candidatura própria, Paes dependeria da existência de um candidato com chances mínimas -o que é incerto e será decidido apenas numa convenção em junho.



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