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SUCESSÃO PRESIDENCIAL
Só o presidente e o senador apresentam interesses e estratégias definidos na disputa de hoje
FHC e Sarney protagonizam a convenção
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
A Convenção
Nacional do
PMDB hoje em
Brasília tem
apenas dois
protagonistas e
um monte de
atores coadjuvantes.
Os protagonistas são o presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) e o ex-presidente e hoje senador José Sarney (PMDB-AP).
Os outros -Itamar Franco, Paes
de Andrade, Orestes Quércia, Michel Temer etc.- estão sendo usados em papéis secundários. Esperam ficar com alguma sobra da vitória de José Sarney ou de FHC.
Na barganha que precedeu a
convenção, só FHC e Sarney jogaram como profissionais da política
-com objetivos claros e definidos
à frente. Para isso, não hesitaram
em instrumentalizar aliados.
A seguir, a estratégia e a expectativa de FHC, Sarney, Itamar e Paes
de Andrade na disputa de hoje:
1) FHC - o presidente da República distribuiu promessas para
seus aliados dentro do PMDB.
Ofereceu desde cargos até apoio
durante a campanha eleitoral.
Em troca, FHC quer duas coisas:
o tempo de TV do PMDB e o apoio
de Sarney e de Itamar.
Se a convenção decidir contra a
candidatura própria do PMDB, a
vitória de FHC só estará completa
no caso de Sarney e Itamar declararem apoio imediato ao governo
federal. Caso contrário, o presidente terá de negociar até junho;
2) Sarney - o ex-presidente sabe
que suas chances eleitorais numa
campanha presidencial são limitadas. Mas que elas existem e incomodam o Palácio do Planalto.
No fundo, Sarney adoraria disputar mais um mandato de presidente. Realista, considera ser melhor esperar até o último momento para decidir o rumo a tomar.
O primeiro passo da estratégia
de Sarney foi reforçar o deputado
Paes de Andrade (CE) na presidência do PMDB. Isso garante
uma certa independência do partido em relação ao governo federal.
Sarney se complicou no final do
ano passado, quando começaram
a ser recorrentes suas declarações
sobre uma possível candidatura à
Presidência. Só que Itamar o salvou dizendo que pleiteava o posto
de candidato. Mais do que depressa, Sarney instrumentalizou Itamar, declarando-lhe apoio.
Essa ação de Sarney o livrou de
ficar obrigado a cabalar votos a favor da tese da candidatura própria. O máximo que faz é dizer que
é simpático à idéia. Mas não mexe
uma palha para convencer os delegados do Amapá e do Maranhão.
Sarney preparou o terreno de tal
forma que só perde em uma única
circunstância: no caso de vencer a
tese da aliança e Itamar Franco declarar apoio imediato a FHC.
Isso deixaria Sarney obrigado a
tomar uma decisão que espera
adotar apenas na última hora legal, no final de junho.
Por essa razão, ficou irritado
com uma declaração de anteontem de Itamar -que acenou com
a possibilidade de um acordo de
para o PMDB apoiar FHC no caso
de derrota da candidatura própria;
3) Itamar - o ex-presidente não
tem uma atuação de peso no
PMDB. Tem seguidores apenas
pelo fato de ter nas pesquisa taxas
próximas dos 10%.
O problema de Itamar é que não
consegue ter certeza de sucesso
numa disputa presidencial. Nem
para o governo de Minas Gerais ou
para uma vaga ao Senado.
Interessa a Itamar, portanto, esticar ao máximo a corda da possível candidatura própria. Pelo menos pode tentar negociar uma saída mais adiante.
4) Paes de Andrade - o presidente nacional da sigla está sem saída.
Só sobrevive no cargo se vencer a
tese da candidatura própria. Se
perder amanhã, fica sem condições de dirigir o partido.
Além disso, mesmo vencendo a
candidatura própria, Paes dependeria da existência de um candidato com chances mínimas -o que
é incerto e será decidido apenas
numa convenção em junho.
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