São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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SÃO PAULO

Avaliação do PSDB é que trocar título de governador pelo de candidato abalaria a atual unanimidade no partido

Tucano se preserva, mas flerta com 2002

DA REPORTAGEM LOCAL

As evasivas de Geraldo Alckmin quando o assunto é a sucessão estadual têm, além da incógnita jurídica que ainda cerca a questão, dois outros motivos básicos, segundo tucanos paulistas.
Primeiro: ele é hoje uma unanimidade no partido, e não há mais ninguém disposto a enfrentá-lo internamente. Portanto, desde que tenha uma boa avaliação no governo, não precisa ter pressa de iniciar a corrida eleitoral.
Segundo: a credibilidade de um candidato assumido é sempre menor do que a de um governador. Ou seja: admitir que estará na disputa de 2002 poderá fazer com que o anúncio de propostas do governo -como a da desativação da Casa de Detenção- passe a soar como promessa eleitoral.
Os tucanos afirmam que o segundo motivo é a tradução do que Alckmin quer dizer quando repete a frase: "Antecipar a sucessão encurta, atrapalha o governo".
A sucessão foi tema da maior parte das perguntas dirigidas a Alckmin nesse primeiro mês, mas foi também o assunto para o qual ele menos deu respostas.
Ela é sempre a mesma: "A minha tarefa é completar o governo Mário Covas. Quanto à eleição, acho essa discussão totalmente fora de hora. Sucessão não deve ser antecipada. Antecipar encurta o governo. Além disso, candidatura majoritária não é fruto de voluntarismo, de vontade pessoal".
Para o deputado estadual Walter Feldman, presidente da Assembléia Legislativa e coordenador da campanha de Alckmin à Prefeitura de São Paulo (2000), a resposta resume o estilo Alckmin: "absolutamente previsível".
"Com Alckmin não há surpresas. Ele não cria fatos. Portanto, temos a previsibilidade do sucesso do governo", disse Feldman.
Sucesso esse já admitido pelos potenciais adversários. O deputado federal José Genoino, por exemplo, pré-candidato do PT ao governo, já disse publicamente que Alckmin será seu "maior obstáculo", mas emendou elogios ao governador, dizendo que os dois terão um debate de alto nível. Criticar o novo titular é hoje uma tarefas para poucos na oposição.
Alckmin é tido como o "tesouro" dos tucanos, segundo Feldman. E preservar essa cômoda posição passa, Alckmin sabe, por evitar exposição excessiva por intermédio das polêmicas que marcam a vida de quem está na linha de frente -sobretudo com o PT, considerado o principal adversário tucano nas eleições de 2002.
Para perguntas "picantes", evasivas e brincalhonas. "Como cidadão, como o sr. avalia os primeiros três meses da administração de Marta Suplicy (PT)?", perguntou a Folha ao governador.
"É prematuro. E fui adversário dela. Podem achar que é coisa de quem perdeu", respondeu.
"Governador não pode falar como cidadão?"
"Melhor não."
Alckmin e Marta Suplicy têm enfrentado um período de turbulência nas relações institucionais. Primeiro, a petista cobrou publicamente um prometido policiamento no centro. Alckmin revidou de forma discreta, sugerindo que ela usasse os policiais do trânsito, que hoje aplicam multas.
Marta disse mais: está tendo problemas nas parcerias com o Estado. O governador desconversou: "Os terrenos que eles apresentaram não são adequados para a construção dos piscinões".
Não foi diferente quando os jornalistas perguntaram a Alckmin se ele achava que Pedro Malan (Fazenda) tem a cara do PSDB. "Pode crescer o bico", rebateu.
(SÍLVIA CORRÊA)

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