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ÍNTEGRA
"O mundo voltou a acreditar no Brasil"
DA REDAÇÃO
Leia a seguir a íntegra do
pronunciamento de Luiz
Inácio Lula da Silva.
Meus amigos e minhas amigas:
Há pouco mais de três meses, tomei posse
como presidente da República. E, apesar de
muito pouco tempo, acredito que vocês já
começam a sentir que hoje o Brasil tem um
governo diferente. Um governo que conhece
muito bem o tamanho das nossas dificuldades, mas que acredita num futuro bem melhor para nosso país e para nosso povo.
Ao longo do meu governo quero, de quando em quando, conversar com vocês diretamente, como faço neste momento. Quero
que vocês saibam sempre, exatamente, o que
pensa o seu presidente em cada momento da
vida nacional.
Vamos começar essa conversa de hoje pela grave crise econômica que o nosso país enfrentava quando assumi a Presidência. Todos vocês sabem que, quando tomei posse, a
economia brasileira vivia um momento dramático. O dólar chegando a quatro reais. O
risco Brasil disparando. A inflação voltando
a crescer, e o crédito internacional, para as
empresas brasileiras, praticamente a zero.
Alguns diziam que o Brasil estava à beira da
falência.
Vejam, não estou reclamando, esse não é o
meu estilo. Até porque eu e minha equipe já
sabíamos o que viria pela frente e tínhamos
consciência de que fomos eleitos para mudar
tudo isto.
Quando falo para vocês desses três primeiros meses, é importante falar com clareza:
não se trata de jogar a culpa em ninguém.
Trata-se apenas de deixar bem claro como
recebemos o país. Para que vocês possam
compreender, de verdade, a dimensão do esforço e a importância do trabalho que fizemos para mudar esse quadro. Acreditem,
não é exagero afirmar que o futuro do país e
praticamente de todo o meu governo dependia desse começo.
Com as viagens internacionais que fiz,
mostrei ao mundo que tínhamos um projeto
de governo sério e responsável, capaz de replanejar o Brasil não apenas para os próximos quatro anos, mas, sim, para os próximos 20 ou 30 anos. Sobretudo, mostrei que o
Brasil é o país do carnaval e do futebol, sim, e
com muito orgulho, mas que somos, também, o país da indústria, da agricultura, do
comércio e do turismo. Enfim, um país
imenso, com grande potencial de crescimento. E, o mais importante, com um povo sério
e trabalhador.
Ao mesmo tempo, internamente tomamos medidas firmes que, creiam, me custaram algumas noites de sono: aumentar juros,
cortar despesas. Mas o sacrifício não está
sendo em vão. O dólar caiu, o risco Brasil
caiu mais da metade, a inflação está caindo,
os títulos brasileiros lá fora recuperaram
muito do seu valor, e o crédito externo para
as nossas empresas já está de volta. O mundo
voltou a acreditar no Brasil. Foi um remédio
amargo? Eu sei que foi. Mas, para mudar o
país, de verdade, muitas vezes o remédio
amargo é a única alternativa. Agora é seguir
em frente, com cuidado, sem otimismo exagerado, com os pés no chão, mas com a certeza de que dias melhores virão.
Não vejo a hora de os juros baixarem e a
economia retomar seu crescimento. E como
eu gostaria de dar já, agora, um aumento
maior para o salário mínimo. Mas R$ 240,
neste momento, creio, é o máximo que a
prudência e a cautela me recomendavam.
Mas quero repetir a vocês o que disse durante toda a campanha: até o final do meu governo vamos dobrar o poder de compra do
salário mínimo.
Começamos o Fome Zero. Esse é o maior
programa contra a fome que já foi feito no
Brasil. É verdade que tivemos alguns tropeços no início, mas esse é um programa complexo, que implica várias mudanças estruturais no país. É por isso que nunca foi feito antes.
Quero aproveitar para agradecer a todos
os que nos têm ajudado. Já disse, e não me
canso de repetir: ficarei realizado se, ao terminar o meu governo, nenhum brasileiro ou
brasileira depender de doação de cesta básica para se alimentar. Mas, vocês sabem, não
se consegue isso sem muita luta.
A reforma tributária e a reforma da Previdência são fundamentais para o Brasil. Durante os próximos meses vou falar sobre elas,
faço questão de que o povo brasileiro entenda, exatamente, por que elas são tão necessárias para o nosso futuro.
Com as reformas, vamos corrigir distorções, combater a corrupção e incentivar o
desenvolvimento, única forma de gerar os
empregos de que tanto precisamos.
Os projetos dessas reformas serão encaminhados, ainda neste mês, ao Congresso Nacional. E eles estão sendo feitos de forma absolutamente democrática, ouvindo todos os
setores organizados da sociedade, numa perfeita sintonia com governadores e prefeitos
de todos os partidos. O nome disso é mudança. Mudança de estilo, mudança de forma de
agir.
Mudança importante, também, é dar prioridade às empresas nacionais. Foi isso que levou a Petrobrás a rever a concorrência para a
construção das plataformas P-51 e P-52, iniciadas no governo passado.
Antes, os termos da concorrência não davam nenhuma chance às empresas brasileiras, que levavam, para fora do nosso país,
milhões de dólares e milhares de empregos.
A nova concorrência garante que, pelo menos, 65% da construção das plataformas sejam feitas aqui, gerando milhares de empregos aqui no Brasil e não lá fora.
É esse tipo de mudança que quero para o
nosso país. Mudança de atitude, mudança de
mentalidade do poder público, que pode e
deve ajudar a construir um país mais forte,
mais competitivo.
É importante acabar, de uma vez por todas, no Brasil, com a prática de deixar obras
paradas pela metade. Muitas delas apenas
porque foram iniciadas por um outro governo. Um verdadeiro absurdo! Milhões de
reais gastos em estradas, pontes, viadutos e
túneis, alguns quase prontos.
Mandei fazer um estudo detalhado de cada uma dessas obras e corrigir o que tiver de
ser corrigido.
E já determinei a retomada de centenas
delas, principalmente algumas estradas importantes, que se encontram em estado de
verdadeira calamidade.
Na segurança pública, também estamos
começando a mudar. Sem dúvida, essa é
uma área muito complexa. Junto com a
maioria dos governos estaduais e, também,
muitas prefeituras, estamos trabalhando para implantar um sistema único de segurança
pública.
Será a primeira vez que todas as forças policiais do país trabalharão em conjunto,
compartilhando cadastros, sistemas de informação e técnica de investigação. Afinal,
para combater o crime organizado, precisamos de uma polícia mais organizada ainda.
Determinei, também, a construção de cinco presídios federais de segurança máxima.
E o primeiro estará pronto ainda neste ano.
Enviei ao Congresso medida provisória,
aumentando em quase 70% o atual efetivo
da Polícia Federal. Hoje, temos 7.000 agentes, e vamos para 11.500 policiais federais em
todo o país.
Como todos sabem, chegamos ao governo
num momento muito complicado para o
Brasil. Mas não há de ser nada. As coisas já
estão mudando e vão mudar muito mais.
Com a força de vocês, com o trabalho dos
meus ministros, o apoio do Congresso, dos
governadores e dos prefeitos, vamos vencer
todos os desafios.
Afinal, estamos apenas começando. E eu
estou muito otimista com o futuro do nosso
país. O mundo inteiro acha que estamos no
caminho certo. Portanto, só tenho uma coisa
a pedir: continuem confiando no seu presidente. E, o mais importante: continuem confiando no seu país. Vem de vocês a energia
que precisamos. É ela que me dá força e coragem para mudar o Brasil.
Muito obrigado e boa noite a todos.
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