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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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"O mundo voltou a acreditar no Brasil"

DA REDAÇÃO

Leia a seguir a íntegra do pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva.
 
Meus amigos e minhas amigas:
Há pouco mais de três meses, tomei posse como presidente da República. E, apesar de muito pouco tempo, acredito que vocês já começam a sentir que hoje o Brasil tem um governo diferente. Um governo que conhece muito bem o tamanho das nossas dificuldades, mas que acredita num futuro bem melhor para nosso país e para nosso povo.
Ao longo do meu governo quero, de quando em quando, conversar com vocês diretamente, como faço neste momento. Quero que vocês saibam sempre, exatamente, o que pensa o seu presidente em cada momento da vida nacional.
Vamos começar essa conversa de hoje pela grave crise econômica que o nosso país enfrentava quando assumi a Presidência. Todos vocês sabem que, quando tomei posse, a economia brasileira vivia um momento dramático. O dólar chegando a quatro reais. O risco Brasil disparando. A inflação voltando a crescer, e o crédito internacional, para as empresas brasileiras, praticamente a zero. Alguns diziam que o Brasil estava à beira da falência.
Vejam, não estou reclamando, esse não é o meu estilo. Até porque eu e minha equipe já sabíamos o que viria pela frente e tínhamos consciência de que fomos eleitos para mudar tudo isto.
Quando falo para vocês desses três primeiros meses, é importante falar com clareza: não se trata de jogar a culpa em ninguém. Trata-se apenas de deixar bem claro como recebemos o país. Para que vocês possam compreender, de verdade, a dimensão do esforço e a importância do trabalho que fizemos para mudar esse quadro. Acreditem, não é exagero afirmar que o futuro do país e praticamente de todo o meu governo dependia desse começo.
Com as viagens internacionais que fiz, mostrei ao mundo que tínhamos um projeto de governo sério e responsável, capaz de replanejar o Brasil não apenas para os próximos quatro anos, mas, sim, para os próximos 20 ou 30 anos. Sobretudo, mostrei que o Brasil é o país do carnaval e do futebol, sim, e com muito orgulho, mas que somos, também, o país da indústria, da agricultura, do comércio e do turismo. Enfim, um país imenso, com grande potencial de crescimento. E, o mais importante, com um povo sério e trabalhador.
Ao mesmo tempo, internamente tomamos medidas firmes que, creiam, me custaram algumas noites de sono: aumentar juros, cortar despesas. Mas o sacrifício não está sendo em vão. O dólar caiu, o risco Brasil caiu mais da metade, a inflação está caindo, os títulos brasileiros lá fora recuperaram muito do seu valor, e o crédito externo para as nossas empresas já está de volta. O mundo voltou a acreditar no Brasil. Foi um remédio amargo? Eu sei que foi. Mas, para mudar o país, de verdade, muitas vezes o remédio amargo é a única alternativa. Agora é seguir em frente, com cuidado, sem otimismo exagerado, com os pés no chão, mas com a certeza de que dias melhores virão.
Não vejo a hora de os juros baixarem e a economia retomar seu crescimento. E como eu gostaria de dar já, agora, um aumento maior para o salário mínimo. Mas R$ 240, neste momento, creio, é o máximo que a prudência e a cautela me recomendavam. Mas quero repetir a vocês o que disse durante toda a campanha: até o final do meu governo vamos dobrar o poder de compra do salário mínimo.
Começamos o Fome Zero. Esse é o maior programa contra a fome que já foi feito no Brasil. É verdade que tivemos alguns tropeços no início, mas esse é um programa complexo, que implica várias mudanças estruturais no país. É por isso que nunca foi feito antes.
Quero aproveitar para agradecer a todos os que nos têm ajudado. Já disse, e não me canso de repetir: ficarei realizado se, ao terminar o meu governo, nenhum brasileiro ou brasileira depender de doação de cesta básica para se alimentar. Mas, vocês sabem, não se consegue isso sem muita luta.
A reforma tributária e a reforma da Previdência são fundamentais para o Brasil. Durante os próximos meses vou falar sobre elas, faço questão de que o povo brasileiro entenda, exatamente, por que elas são tão necessárias para o nosso futuro.
Com as reformas, vamos corrigir distorções, combater a corrupção e incentivar o desenvolvimento, única forma de gerar os empregos de que tanto precisamos.
Os projetos dessas reformas serão encaminhados, ainda neste mês, ao Congresso Nacional. E eles estão sendo feitos de forma absolutamente democrática, ouvindo todos os setores organizados da sociedade, numa perfeita sintonia com governadores e prefeitos de todos os partidos. O nome disso é mudança. Mudança de estilo, mudança de forma de agir.
Mudança importante, também, é dar prioridade às empresas nacionais. Foi isso que levou a Petrobrás a rever a concorrência para a construção das plataformas P-51 e P-52, iniciadas no governo passado.
Antes, os termos da concorrência não davam nenhuma chance às empresas brasileiras, que levavam, para fora do nosso país, milhões de dólares e milhares de empregos. A nova concorrência garante que, pelo menos, 65% da construção das plataformas sejam feitas aqui, gerando milhares de empregos aqui no Brasil e não lá fora.
É esse tipo de mudança que quero para o nosso país. Mudança de atitude, mudança de mentalidade do poder público, que pode e deve ajudar a construir um país mais forte, mais competitivo.
É importante acabar, de uma vez por todas, no Brasil, com a prática de deixar obras paradas pela metade. Muitas delas apenas porque foram iniciadas por um outro governo. Um verdadeiro absurdo! Milhões de reais gastos em estradas, pontes, viadutos e túneis, alguns quase prontos.
Mandei fazer um estudo detalhado de cada uma dessas obras e corrigir o que tiver de ser corrigido.
E já determinei a retomada de centenas delas, principalmente algumas estradas importantes, que se encontram em estado de verdadeira calamidade.
Na segurança pública, também estamos começando a mudar. Sem dúvida, essa é uma área muito complexa. Junto com a maioria dos governos estaduais e, também, muitas prefeituras, estamos trabalhando para implantar um sistema único de segurança pública.
Será a primeira vez que todas as forças policiais do país trabalharão em conjunto, compartilhando cadastros, sistemas de informação e técnica de investigação. Afinal, para combater o crime organizado, precisamos de uma polícia mais organizada ainda.
Determinei, também, a construção de cinco presídios federais de segurança máxima. E o primeiro estará pronto ainda neste ano.
Enviei ao Congresso medida provisória, aumentando em quase 70% o atual efetivo da Polícia Federal. Hoje, temos 7.000 agentes, e vamos para 11.500 policiais federais em todo o país.
Como todos sabem, chegamos ao governo num momento muito complicado para o Brasil. Mas não há de ser nada. As coisas já estão mudando e vão mudar muito mais.
Com a força de vocês, com o trabalho dos meus ministros, o apoio do Congresso, dos governadores e dos prefeitos, vamos vencer todos os desafios.
Afinal, estamos apenas começando. E eu estou muito otimista com o futuro do nosso país. O mundo inteiro acha que estamos no caminho certo. Portanto, só tenho uma coisa a pedir: continuem confiando no seu presidente. E, o mais importante: continuem confiando no seu país. Vem de vocês a energia que precisamos. É ela que me dá força e coragem para mudar o Brasil.
Muito obrigado e boa noite a todos.


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