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SOMBRA NO TUCANATO
Talvez não tenhamos oferecido o que queriam, diz empresário
Ermírio ironiza Previ e diz que perdeu, mas saiu limpo
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, 74, presidente do grupo Votorantim, ironizou a participação da Previ (fundos de pensão do Banco do Brasil) no consórcio vencedor do leilão da Vale
do Rio Doce, em maio de 1997.
"Talvez não tenhamos oferecido o
que eles queriam", afirmou.
O empresário tinha formado
um consórcio considerado imbatível para arrebatar a estatal, que
contava com o apoio da mineradora sul-africana Anglo American, da federação japonesa da indústria, da Previ e do Bradesco.
Dois meses antes do leilão, Ermírio de Moraes diz que o Bradesco propôs a entrada do empresário Benjamin Steinbruch no
consórcio. Ele vetou. Logo depois,
Steinbruch formou consórcio
com a Previ e o Bradesco.
Com os rumores de irregularidades envolvendo o consórcio
vencedor, o empresário diz achar
bom negócio não ter ganho.
Folha - A Previ fazia parte do consórcio do sr. para a compra da Vale.
O que a fez mudar de consórcio
pouco antes do leilão?
Antônio Ermírio de Moraes - Não
sei. Só sei que a Previ decidiu virar
a casaca dois meses antes do leilão. Na época, apenas lamentamos a decisão.
Folha - Qual foi a justificativa que
a Previ deu para "virar a casaca"?
Ermírio de Moraes - Nenhuma.
Foi até uma briga. Talvez não tenhamos oferecido o que eles queriam. O importante é que perdemos, mas saímos limpos. Graças a
Deus. Caímos em pé. Sem nenhuma sujeira do nosso lado.
Folha - E o sr. acredita que possa
ter sujeira do outro lado?
Ermírio de Moraes - Olha, a única
coisa que eu estranho é que esse
negócio retorne agora, para prejudicar alguém.
Folha - O sr. já tinha ouvido essa
acusação de uma suposta propina
de R$ 15 milhões envolvendo Ricardo Sérgio e Steinbruch?
Ermírio de Moraes - Não, nunca.
Folha - Mas o sr. acredita que possa ter havido algum "pagamento"
para influenciar a Previ?
Ermírio de Moraes - Eu não posso
falar. Eu sempre achei que eles
[Previ, Bradesco e Steinbruch" estavam com facilidade para arranjar recursos. Estavam com dinheiro fácil. E nós não conseguimos
chegar de jeito nenhum na propositura que eles fizeram para comprar a Vale. Não sendo do ramo,
como é que puderam dar um preço desses [R$ 3,34 bilhões"? Então, algo está errado. Agora, não
sou juiz de ninguém. Graças a
Deus perdi, porque ainda estou
com o nome limpo, não é? Que se
fritem os outros agora.
Folha - O sr. acha que o processo
dentro da Previ foi normal?
Ermírio de Moraes - Não posso
responder. Eu já estou sendo processado pelo [ex-governador
Orestes" Quércia porque disse
que ele quebrou o banco do Estado. Vão falar: "Esse cara está queimado porque perdeu". Pelo contrário. Quando perdemos eu até
cumprimentei o grupo ganhador.
Folha - O sr. chegou a ter algum
contato com Ricardo Sérgio?
Ermírio de Moraes - De jeito nenhum. Ricardo Sérgio nunca entrou em contato comigo. Não o
conheço. Quem negociava com a
Previ era o consórcio.
Folha - O sr. conhece José Serra
há muitos anos. O sr. acha que ele
pode ter envolvimento nos fatos?
Ermírio de Moraes - Na minha
opinião, não. Agora, eu não posso
jurar nada. Depois desses padres
pedófilos que estão por aí...
Folha - Steinbruch não fez parte
do consórcio num certo momento?
Ermírio de Moraes - Não, nunca
fez parte. Houve uma tentativa do
Bradesco de incluí-lo no leilão,
mas eu não concordei. Nós somos
do ramo, e ele não era.
Folha - Esse foi o motivo da briga
do sr. com o Bradesco?
Ermírio de Moraes - Não houve
briga. O Bradesco queria o Benjamin, e não concordei. O Bradesco
foi então para o lado dele.
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