São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Talvez não tenhamos oferecido o que queriam, diz empresário

Ermírio ironiza Previ e diz que perdeu, mas saiu limpo

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O empresário Antônio Ermírio de Moraes, 74, presidente do grupo Votorantim, ironizou a participação da Previ (fundos de pensão do Banco do Brasil) no consórcio vencedor do leilão da Vale do Rio Doce, em maio de 1997. "Talvez não tenhamos oferecido o que eles queriam", afirmou.
O empresário tinha formado um consórcio considerado imbatível para arrebatar a estatal, que contava com o apoio da mineradora sul-africana Anglo American, da federação japonesa da indústria, da Previ e do Bradesco.
Dois meses antes do leilão, Ermírio de Moraes diz que o Bradesco propôs a entrada do empresário Benjamin Steinbruch no consórcio. Ele vetou. Logo depois, Steinbruch formou consórcio com a Previ e o Bradesco.
Com os rumores de irregularidades envolvendo o consórcio vencedor, o empresário diz achar bom negócio não ter ganho.
 

Folha - A Previ fazia parte do consórcio do sr. para a compra da Vale. O que a fez mudar de consórcio pouco antes do leilão?
Antônio Ermírio de Moraes -
Não sei. Só sei que a Previ decidiu virar a casaca dois meses antes do leilão. Na época, apenas lamentamos a decisão.

Folha - Qual foi a justificativa que a Previ deu para "virar a casaca"?
Ermírio de Moraes -
Nenhuma. Foi até uma briga. Talvez não tenhamos oferecido o que eles queriam. O importante é que perdemos, mas saímos limpos. Graças a Deus. Caímos em pé. Sem nenhuma sujeira do nosso lado.

Folha - E o sr. acredita que possa ter sujeira do outro lado?
Ermírio de Moraes -
Olha, a única coisa que eu estranho é que esse negócio retorne agora, para prejudicar alguém.

Folha - O sr. já tinha ouvido essa acusação de uma suposta propina de R$ 15 milhões envolvendo Ricardo Sérgio e Steinbruch?
Ermírio de Moraes -
Não, nunca.

Folha - Mas o sr. acredita que possa ter havido algum "pagamento" para influenciar a Previ?
Ermírio de Moraes -
Eu não posso falar. Eu sempre achei que eles [Previ, Bradesco e Steinbruch" estavam com facilidade para arranjar recursos. Estavam com dinheiro fácil. E nós não conseguimos chegar de jeito nenhum na propositura que eles fizeram para comprar a Vale. Não sendo do ramo, como é que puderam dar um preço desses [R$ 3,34 bilhões"? Então, algo está errado. Agora, não sou juiz de ninguém. Graças a Deus perdi, porque ainda estou com o nome limpo, não é? Que se fritem os outros agora.

Folha - O sr. acha que o processo dentro da Previ foi normal?
Ermírio de Moraes -
Não posso responder. Eu já estou sendo processado pelo [ex-governador Orestes" Quércia porque disse que ele quebrou o banco do Estado. Vão falar: "Esse cara está queimado porque perdeu". Pelo contrário. Quando perdemos eu até cumprimentei o grupo ganhador.

Folha - O sr. chegou a ter algum contato com Ricardo Sérgio?
Ermírio de Moraes -
De jeito nenhum. Ricardo Sérgio nunca entrou em contato comigo. Não o conheço. Quem negociava com a Previ era o consórcio.

Folha - O sr. conhece José Serra há muitos anos. O sr. acha que ele pode ter envolvimento nos fatos?
Ermírio de Moraes -
Na minha opinião, não. Agora, eu não posso jurar nada. Depois desses padres pedófilos que estão por aí...

Folha - Steinbruch não fez parte do consórcio num certo momento?
Ermírio de Moraes -
Não, nunca fez parte. Houve uma tentativa do Bradesco de incluí-lo no leilão, mas eu não concordei. Nós somos do ramo, e ele não era.

Folha - Esse foi o motivo da briga do sr. com o Bradesco?
Ermírio de Moraes -
Não houve briga. O Bradesco queria o Benjamin, e não concordei. O Bradesco foi então para o lado dele.


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