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JANIO DE FREITAS
Sem mágica
No mesmo discurso em que
admitiu andar falando demais e aproveitou a ocasião para
falar quase uma hora, Luiz Inácio Lula da Silva fez, como um
desafio, mais um dos truques
desqualifica pelo absurdo, ou pelo exagero caricatural, a crítica
que lhe seja dirigida:
"Todo mundo tem direito de
ser contra [as reformas como estão propostas", mas (...) se alguém tem uma fórmula mágica,
(...) pelo amor de Deus, diga". Ou
seja, a fórmula das pretensas reformas do governo é tão boa, que
só uma "fórmula mágica" poderia, talvez, ser melhor.
Não há fórmulas mágicas para
coisa alguma, que pena. Mas há
fórmulas mais inteligentes e
mais justas do que outras. Nunca
são feitas, porém, às carreiras,
sobretudo quando lidam com as
necessidades de milhões de pessoas, que passaram no trabalho
árduo muitos mais anos de vida
do que muitos governantes.
As fórmulas menos desinteligentes e menos injustas foram
sempre resultantes de procura
aberta e persistente, jamais ajeitadas às pressas para atender a
prazos impostos. Por exemplo, o
determinado pelo FMI: até junho. O que revela um elemento
positivo nos projetos já entregues
ao Congresso: a pontualidade.
Todos os dias, e mais uma vez
no discurso de Lula aos prefeitos
reunidos, a fórmula do governo
para a Previdência é amparada
no argumento de que a situação
é de último grau. Ou, como disse
Lula, sem a sua reforma, em cinco ou seis anos não haverá como
pagar as aposentadorias.
O governo Lula tem sido equiparado ao de Fernando Henrique Cardoso, mas, no caso da
Previdência, há semelhança ainda maior. É devida à fase final
do governo Figueiredo, quando
o coronel Jarbas Passarinho comunicou ao país que a Previdência, da qual era ministro, estava falida e inviabilizada. Pouco depois, com a mudança do regime, Waldyr Pires assumiu a
Previdência, montou uma equipe eficiente e logo se demonstrava não haver falência nem inviabilização coisa nenhuma. O
que havia eram outras coisas.
Sanadas sem fórmula mágica,
por muito tempo ninguém falou
em calamidade da Previdência.
Cartolagem
Mágica é a fórmula vigente
nas relações entre o FMI e o governo. Os juros foram aumentados, os investimentos previstos
para este ano foram suspensos,
as verbas para fins sociais foram
amputadas - tudo para que a
missão fiscalizadora do FMI
aprovasse, como está fazendo, a
liberação de mais US$ 9 bilhões
para o Brasil. Dos quais o FMI levará a exata metade, para juros
e por outra dívida.
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