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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

Sem mágica

No mesmo discurso em que admitiu andar falando demais e aproveitou a ocasião para falar quase uma hora, Luiz Inácio Lula da Silva fez, como um desafio, mais um dos truques desqualifica pelo absurdo, ou pelo exagero caricatural, a crítica que lhe seja dirigida:
"Todo mundo tem direito de ser contra [as reformas como estão propostas", mas (...) se alguém tem uma fórmula mágica, (...) pelo amor de Deus, diga". Ou seja, a fórmula das pretensas reformas do governo é tão boa, que só uma "fórmula mágica" poderia, talvez, ser melhor.
Não há fórmulas mágicas para coisa alguma, que pena. Mas há fórmulas mais inteligentes e mais justas do que outras. Nunca são feitas, porém, às carreiras, sobretudo quando lidam com as necessidades de milhões de pessoas, que passaram no trabalho árduo muitos mais anos de vida do que muitos governantes.
As fórmulas menos desinteligentes e menos injustas foram sempre resultantes de procura aberta e persistente, jamais ajeitadas às pressas para atender a prazos impostos. Por exemplo, o determinado pelo FMI: até junho. O que revela um elemento positivo nos projetos já entregues ao Congresso: a pontualidade.
Todos os dias, e mais uma vez no discurso de Lula aos prefeitos reunidos, a fórmula do governo para a Previdência é amparada no argumento de que a situação é de último grau. Ou, como disse Lula, sem a sua reforma, em cinco ou seis anos não haverá como pagar as aposentadorias.
O governo Lula tem sido equiparado ao de Fernando Henrique Cardoso, mas, no caso da Previdência, há semelhança ainda maior. É devida à fase final do governo Figueiredo, quando o coronel Jarbas Passarinho comunicou ao país que a Previdência, da qual era ministro, estava falida e inviabilizada. Pouco depois, com a mudança do regime, Waldyr Pires assumiu a Previdência, montou uma equipe eficiente e logo se demonstrava não haver falência nem inviabilização coisa nenhuma. O que havia eram outras coisas. Sanadas sem fórmula mágica, por muito tempo ninguém falou em calamidade da Previdência.

Cartolagem
Mágica é a fórmula vigente nas relações entre o FMI e o governo. Os juros foram aumentados, os investimentos previstos para este ano foram suspensos, as verbas para fins sociais foram amputadas - tudo para que a missão fiscalizadora do FMI aprovasse, como está fazendo, a liberação de mais US$ 9 bilhões para o Brasil. Dos quais o FMI levará a exata metade, para juros e por outra dívida.


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