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CELSO PINTO
O que preocupa é o crescimento
Uma preocupação central do secretário do Tesouro americano, John Snow, e de
seus principais assessores, na
sua recente visita ao Brasil, foi
discutir que condições concretas
existem para o Brasil voltar a
crescer de forma razoável. Por
uma razão política. Se mesmo
com uma política macroeconômica sensata o crescimento não
vier, a insatisfação política e social vai aumentar, e, pressionado, o governo Lula pode voltar a
buscar alianças à esquerda.
Esse tipo de preocupação tem
sido frequente entre investidores
e banqueiros americanos e também é algo que preocupa o mercado financeiro brasileiro. Está
tudo indo muito bem, mas e o
crescimento?
O presidente de um banco
americano no Brasil, por exemplo, teme que o governo esteja
preso numa armadilha de baixo
crescimento. A meta inflacionária exige juro alto, o que eleva o
déficit público, reduz a poupança interna (a externa já caiu
muito, pelo ajuste no déficit em
conta corrente) e, portanto, a capacidade de crescer. Contar com
a apreciação do real frente ao
dólar para ajudar a conter a inflação não é uma solução, e sim
um enorme risco.
Osvaldo de Assis, do Pactual,
entende que o medo da inflação
leve ao juro alto, mas acha que
"o Brasil não está em condições
de ter um medo só". O segundo
medo é o de inviabilizar um
crescimento decente para 2004 e
piorar o cenário político. Ele
acha que a inflação mais baixa
esperada para maio (o mercado
prevê 0,5%) abre uma janela para o Banco Central começar a
reduzir os juros. Se não usar essa
janela, fatores sazonais vão elevar a inflação em junho e julho
tornando mais difícil começar
um ciclo de baixa nos juros.
Não há, obviamente, consenso. O ex-presidente do BC, Affonso Celso Pastore, vê razões
para o BC subir mais os juros
para não perder credibilidade.
Bancos influentes, como o
CSFB-Garantia, sugerem cautela: a melhora na inflação tem sido lenta e a ajuda do câmbio pode ser revertida, porque o fluxo
de capitais melhorou, mas ainda
não é bom.
De fato, no primeiro quadrimestre o país captou US$ 4,6 bilhões, nas contas do banco, 82%
a curto prazo (até um ano), e
81% por bancos (aproveitando
oportunidades de arbitragem
pelos juros altos internos). Em
abril, apesar da melhora no
câmbio, o prazo médio das
emissões continuou sendo de
apenas 1,2 ano (comparado a
2,2 anos em março).
Há defensores de juros menores, contudo, em todos os campos. Aloísio Araújo, da Fundação Getúlio Vargas, tão ortodoxo quanto Pastore, é um dos economistas brasileiros mais respeitados no exterior e tem assessorado o BC, nos últimos anos, em
questões como a Lei de Falências. Ele argumenta que o BC,
na verdade, permitiu que houvesse uma elevação nos juros
reais nos últimos meses e que está na hora de começar a revertê-la.
Ele lembra que a taxa de juros
interna deve guardar uma relação de paridade com o juro externo básico (a taxa americana), mais um prêmio de risco-país. Como o risco Brasil caiu
muito nos últimos meses (quase
70%) e os juros internos não caíram, o juro real subiu. É verdade
que, quando o risco-Brasil disparou, no ano passado, o BC
não elevou o juro na mesma velocidade. A seu ver, fez bem em
não fazê-lo, porque numa situação de nervosismo extremo, é
melhor aceitar algo mais de inflação do que elevar demais o
risco de quebra. Mas a queda do
risco-Brasil já foi tão grande,
que justificaria um corte no juro
interno para manter a arbitragem externa.
Olhando a previsão de inflação do mercado para 12 meses,
hoje em 8,87%, ela indica um juro real de 16,2%, também muito
acima da média desde 1999 (de
12%). Se o BC eleva demais o juro real, como fez, permitindo
grandes ganhos financeiros com
a entrada de dólares, provoca
uma valorização do câmbio,
distorcendo o câmbio flutuante.
A flutuação é ótima, mas deve
respeitar a paridade dos juros
internos e externos, senão vira
um falso câmbio flutuante.
Além disso, ele não acredita
que a ameaça inflacionária seja
tão grande. O importante, diz, é
ter a política fiscal sob controle, e
ela está. Ele não acha que a inércia inflacionária seja tão grande
e vê os preços em tendência de
queda. "É preciso ter paciência",
recomenda. "Eu não acho que o
governo tem capacidade de controlar a inflação com tanta precisão". Mirar na inflação de curto prazo pode causar distorções
e custos muito altos. Ele sempre
foi favorável a se ter como meta
uma banda mais ampla. Nas
circunstâncias atuais, defende
que o BC mire 2004 e exerça sua
política num horizonte de tempo maior.
Por todas estas razões, ele acha
que o Copom, neste mês, deveria, no mínimo, introduzir um
viés de baixa nos juros. Boa parte do mercado aposta na mesma
direção.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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