São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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Na Ásia, onde igreja cresce, aposta é em poucos e bons fiéis

Segundo padres asiáticos em Roma, catolicismo cresce em seus países devido às comunidades, menos "impessoais" que paróquias

"Tomei um susto quando soube como a igreja se organiza na Europa, só com paróquias", afirma padre


LEANDRO BEGUOCI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Falar de poucos e bons fiéis pode parecer absurdo no maior país católico do mundo. Mas, se o papa Bento 16 voltar a um dos seus temas prediletos durante a visita ao Brasil, que começa amanhã, não será à toa. Essa é uma espécie de "receita de sucesso" onde o catolicismo ainda cresce, como a Ásia.
Segundo o Vaticano, o número de católicos cresceu 3,1% na África, 2,71% na Ásia e de 1,2% na América entre 2004 e 2005. Na Europa, está estável.
O padre Lucas Phola, 32, nasceu em Mianmar (ex-Birmânia), um país asiático próximo à Índia e à China onde os católicos não passam de 1% da população. A religião majoritária é o budismo. Ele faz mestrado em filosofia na Itália e recebeu um aviso quando deixou seu país: "Cuidado com Roma!". Ele deveria tomar cuidado para não se deixar levar pelo modelo dos padres "burocratas".
O pai de Phola era animista (adorava a natureza) e a mãe, budista. A conversão ao catolicismo aconteceu quando uma escola cristã chegou ao vilarejo. Mas a escola veio sem igreja. As pessoas convertidas pelos missionários se reuniam nas casas das famílias e rezavam. "Tínhamos aulas de catequese todos os dias, a espiritualidade era muito forte, o número de fiéis crescia a cada reunião", diz o padre. "Tomei um susto quando soube como a igreja se organiza na Europa, só com paróquias. As pessoas até se dizem católicas, mas não vivem a fé."
O caso dele é parecido com o do sacerdote indiano Francis Vattukulathil, 36, que também estuda na capital italiana. Os católicos não passam de 2 % da população do país, mas possuem um "ministro" no Vaticano: o cardeal Ivan Dias, na sugestiva Congregação para a Evangelização dos Povos.
Vattukulathil diz que os católicos de sua região têm aulas de catequese quase todos os dias. Aos padres cabe o papel de ser o líder espiritual que apóia as comunidades que se reúnem. "A paróquia é um espaço muito impessoal, onde ninguém se sente acolhido", diz. "Na Índia, não nos sentimos mal por ser minoria. Somos poucos e bons católicos, com raízes firmes. Acho que o papa está no caminho certo ao pregar isso para o resto do mundo. Hoje, o momento do catolicismo é de fincar raízes para, quem sabe, fazer surgir uma futura primavera", diz o padre, otimista. De cada 100 candidatos ao sacerdócio em 2005, 32 eram americanos, 26 asiáticos, 21 africanos, 20 europeus e um da Oceania.

Padre Marcelo no Congo
Nem tudo são flores para Bento 16. No mesmo documento em que chama o segundo casamento de "praga", pede mais silêncio nas missas, para que elas não se transformem em um show. Também recomenda a volta do latim nas celebrações internacionais. É exatamente o que os fiéis católicos da República Democrática do Congo, na África, não fazem, segundo o padre Benjamin Kilambe, 34.
Ele está estudando em Roma e foi questionado sobre o que sabia do catolicismo brasileiro. Kilambe falou de um religioso que "vende muitos CDs e é parecido com nós". Era o padre-cantor Marcelo Rossi. Ele diz que, em seu país, o avanço das igrejas evangélicas pentecostais, que pregam a teologia da prosperidade e uma forte presença do Espírito Santo na vida dos fiéis, foi "brecada" quando eles abriram espaço para os carismáticos e as show-missas.
Os católicos perfazem 50% da população do Congo atualmente. "Somos mais fortes porque respeitamos mais o jeitos dos nossos fiéis", diz ele.


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