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Na Ásia, onde igreja cresce, aposta é em poucos e bons fiéis
Segundo padres asiáticos em Roma, catolicismo cresce em seus países devido às comunidades, menos "impessoais" que paróquias
"Tomei um susto quando soube como a igreja se organiza na Europa, só com paróquias", afirma padre
LEANDRO BEGUOCI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Falar de poucos e bons fiéis
pode parecer absurdo no maior
país católico do mundo. Mas, se
o papa Bento 16 voltar a um dos
seus temas prediletos durante a
visita ao Brasil, que começa
amanhã, não será à toa. Essa é
uma espécie de "receita de sucesso" onde o catolicismo ainda
cresce, como a Ásia.
Segundo o Vaticano, o número de católicos cresceu 3,1% na
África, 2,71% na Ásia e de 1,2%
na América entre 2004 e 2005.
Na Europa, está estável.
O padre Lucas Phola, 32, nasceu em Mianmar (ex-Birmânia), um país asiático próximo à
Índia e à China onde os católicos não passam de 1% da população. A religião majoritária é o
budismo. Ele faz mestrado em
filosofia na Itália e recebeu um
aviso quando deixou seu país:
"Cuidado com Roma!". Ele deveria tomar cuidado para não
se deixar levar pelo modelo dos
padres "burocratas".
O pai de Phola era animista
(adorava a natureza) e a mãe,
budista. A conversão ao catolicismo aconteceu quando uma
escola cristã chegou ao vilarejo.
Mas a escola veio sem igreja. As
pessoas convertidas pelos missionários se reuniam nas casas
das famílias e rezavam. "Tínhamos aulas de catequese todos
os dias, a espiritualidade era
muito forte, o número de fiéis
crescia a cada reunião", diz o
padre. "Tomei um susto quando soube como a igreja se organiza na Europa, só com paróquias. As pessoas até se dizem
católicas, mas não vivem a fé."
O caso dele é parecido com o
do sacerdote indiano Francis
Vattukulathil, 36, que também
estuda na capital italiana. Os
católicos não passam de 2 % da
população do país, mas possuem um "ministro" no Vaticano: o cardeal Ivan Dias, na sugestiva Congregação para a
Evangelização dos Povos.
Vattukulathil diz que os católicos de sua região têm aulas de
catequese quase todos os dias.
Aos padres cabe o papel de ser o
líder espiritual que apóia as comunidades que se reúnem. "A
paróquia é um espaço muito
impessoal, onde ninguém se
sente acolhido", diz. "Na Índia,
não nos sentimos mal por ser
minoria. Somos poucos e bons
católicos, com raízes firmes.
Acho que o papa está no caminho certo ao pregar isso para o
resto do mundo. Hoje, o momento do catolicismo é de fincar raízes para, quem sabe, fazer surgir uma futura primavera", diz o padre, otimista. De cada 100 candidatos ao sacerdócio em 2005, 32 eram americanos, 26 asiáticos, 21 africanos,
20 europeus e um da Oceania.
Padre Marcelo no Congo
Nem tudo são flores para
Bento 16. No mesmo documento em que chama o segundo casamento de "praga", pede mais
silêncio nas missas, para que
elas não se transformem em
um show. Também recomenda
a volta do latim nas celebrações
internacionais. É exatamente o
que os fiéis católicos da República Democrática do Congo,
na África, não fazem, segundo o
padre Benjamin Kilambe, 34.
Ele está estudando em Roma
e foi questionado sobre o que
sabia do catolicismo brasileiro.
Kilambe falou de um religioso
que "vende muitos CDs e é parecido com nós". Era o padre-cantor Marcelo Rossi. Ele diz
que, em seu país, o avanço das
igrejas evangélicas pentecostais, que pregam a teologia da
prosperidade e uma forte presença do Espírito Santo na vida
dos fiéis, foi "brecada" quando
eles abriram espaço para os carismáticos e as show-missas.
Os católicos perfazem 50%
da população do Congo atualmente. "Somos mais fortes porque respeitamos mais o jeitos
dos nossos fiéis", diz ele.
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