São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Mercadante vê pouca margem de manobra na economia; assessor de Garotinho critica atuação do BC

Oposição prevê e teme crise como herança

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A oposição prevê e teme que o "remédio" usado pelo governo para amenizar a ansiedade do mercado vá deixar como herança uma nova crise "difícil de administrar" para o próximo presidente, seja ele quem for.
Para caracterizar essa idéia, um dos coordenadores do programa de governo do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), usou uma metáfora. "Quando um carro está a 25 km/h, tem espaço para errar e consertar. Mas quando está a 300 km/h, a margem de manobra para consertar um erro é muito pequena."
A opinião de Mercadante é compartilhada pelo coordenador de economia do presidenciável do PSB, Anthony Garotinho, o economista Tito Ryff. Os dois participaram, ontem, de um seminário na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo, para discutir a negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Nesta semana, os investidores pressionaram o governo federal para trocar Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), que venciam em 2004 e 2006, por títulos com vencimentos em prazo menor, no primeiro trimestre do próximo ano. Algumas das explicações do mercado para solicitar o "remédio" ao governo, ou seja, a troca dos títulos, apontam para a incerteza em ano eleitoral.
Apesar das críticas à atuação do Banco Central, "que fez operações de alto risco que abalaram a confiança dos investidores de longo prazo no Brasil", Mercadante admitiu, contudo, que o procedimento atual é o mais acertado. "Não vejo nenhuma outra alternativa, agora, a não ser dar liquidez a esses títulos. O governo está empurrando o mercado a vender as LFTs", disse.
"Esperamos que até segunda-feira o BC consiga estancar essa sangria [as perdas dos fundos de investimento, que fizeram investidores migrarem para outros tipos de aplicação"", afirmou o deputado petista.
Para Tito Ryff, o governo atual deveria procurar alternativa ao procedimento da troca dos títulos de longo prazo para os de curto prazo. "O próximo governo vai herdar uma bolha de dívidas para renegociar, sem ter contribuído para isso. Será uma nova crise herdada dessa crise", disse.
Para um dos articuladores da campanha tucana, o prefeito de Vitória (ES), Luiz Paulo Vellozo Lucas, que também participou do seminário sobre a Alca, essa visão é "um exagero" da oposição por conta da campanha eleitoral. "Todas essas fragilidades atuais são administráveis", disse.
"Há um exagero [da oposição" com o objetivo de tentar provar algum fracasso do governo. Confiamos na atuação do BC e essa turbulência vai passar bem antes de o próximo governante assumir", afirmou Vellozo Lucas.

Alca
Mercadante defendeu ontem que o país negocie a Alca com os EUA em conjunto com seus parceiros do Mercosul - estratégia conhecida como "quatro mais um". "A tática [a união dos países para negociar outras uniões estratégicas" é permitida pelo próprio documento que criou o Mercosul e já é usada na negociação com a União Européia."
Para o deputado, o fato de o Senado norte-americano ter aprovado a TPA (sigla que, em inglês, significa Autoridade para Promoção Comercial) é "mais uma barreira à negociação" com o Brasil.
A TPA autoriza o presidente George W. Bush a negociar acordos comerciais com outros países e traz uma lista dos setores que terão tratamento diferenciado, como a agricultura. "Assim o Brasil não conseguirá negociar a abertura em áreas importantes como a agricultura, comprometendo a implantação da Alca", disse.



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