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FHC teme que crise estoure ainda em seu mandato
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de publicamente tratar
o assunto como "turbulências
passageiras" do mercado financeiro, o presidente Fernando
Henrique Cardoso teme que estoure antes do final do seu mandato uma crise da dívida interna
-acima dos R$ 630 bilhões.
Na noite de anteontem, após o
dia ter fechado com o dólar valorizando 1,95% (atingiu R$ 2,66) e
o mercado ter recebido mal a troca de títulos com vencimento entre 2004 e 2006 por outros com
prazo no início de 2003, FHC resolveu agir mais fortemente, telefonando para empresários e pedindo ao presidente do Banco
Central, Armínio Fraga, que conversasse com investidores a fim
de acalmá-los.
O presidente está preocupado,
segundo interlocutores que narraram seu estado de espírito à Folha. Chegou a existir divergência
no governo sobre se deveriam antecipar ainda mais o vencimento
da dívida, mas a conclusão a que
se chegou foi de que seria um sinal
de desespero.
O presidente quer evitar que a
crise caia no seu colo, afetando
sua popularidade no fim do governo e atrapalhando o desempenho do pré-candidato do PSDB à
Presidência, José Serra.
A Folha apurou que FHC julgou
um erro a estratégia eleitoral de
dizer que o Brasil pode virar a Argentina -país onde a economia
derreteu- caso Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) vença a eleição, mas
que também não tem como se livrar mais desse discurso.
"As turbulências financeiras estão acontecendo por causa da
oposição, que não tem credibilidade perante o mercado", disse o
presidente do PSDB, o deputado
federal José Aníbal (SP).
Indagado se essa avaliação não
seria antidemocrática, culpando a
eleição por supostos erros do governo, Aníbal afirmou que o
PSDB e o presidente "têm feito esforços para deixar claro que o
próximo governante, independentemente de partido, terá boas
condições de governabilidade".
Aníbal disse que Serra tem feito
isso e que FHC "não vai deixar a
peteca cair". O presidente do
PSDB avalia que o temor dos investidores em relação ao tamanho
da dívida pública se deve à dúvida
sobre "a capacidade de pagar ou
de rolar". "Este governo e o candidato Serra estão fazendo todos os
esforços para evitar instabilidade
e manter investimentos no país",
afirmou o tucano.
É que tanto FHC como Serra
avaliam que algum tipo de renegociação da dívida interna terá de
acontecer no começo do próximo
governo, seja o futuro presidente
de qual partido for.
Por isso, o PSDB deverá insistir
no discurso do medo, tentando
levar o eleitor a acreditar que Serra terá mais condições de enfrentar o problema devido à inexperiência administrativa de Lula.
O PT, no entanto, vai bater na
tecla de que a culpa pela situação
atual é do governo Fernando
Henrique Cardoso, e não das eleições, buscando desacreditar o
presidente e o seu candidato.
(KENNEDY ALENCAR)
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