São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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FHC teme que crise estoure ainda em seu mandato

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de publicamente tratar o assunto como "turbulências passageiras" do mercado financeiro, o presidente Fernando Henrique Cardoso teme que estoure antes do final do seu mandato uma crise da dívida interna -acima dos R$ 630 bilhões.
Na noite de anteontem, após o dia ter fechado com o dólar valorizando 1,95% (atingiu R$ 2,66) e o mercado ter recebido mal a troca de títulos com vencimento entre 2004 e 2006 por outros com prazo no início de 2003, FHC resolveu agir mais fortemente, telefonando para empresários e pedindo ao presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que conversasse com investidores a fim de acalmá-los.
O presidente está preocupado, segundo interlocutores que narraram seu estado de espírito à Folha. Chegou a existir divergência no governo sobre se deveriam antecipar ainda mais o vencimento da dívida, mas a conclusão a que se chegou foi de que seria um sinal de desespero.
O presidente quer evitar que a crise caia no seu colo, afetando sua popularidade no fim do governo e atrapalhando o desempenho do pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra.
A Folha apurou que FHC julgou um erro a estratégia eleitoral de dizer que o Brasil pode virar a Argentina -país onde a economia derreteu- caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença a eleição, mas que também não tem como se livrar mais desse discurso.
"As turbulências financeiras estão acontecendo por causa da oposição, que não tem credibilidade perante o mercado", disse o presidente do PSDB, o deputado federal José Aníbal (SP).
Indagado se essa avaliação não seria antidemocrática, culpando a eleição por supostos erros do governo, Aníbal afirmou que o PSDB e o presidente "têm feito esforços para deixar claro que o próximo governante, independentemente de partido, terá boas condições de governabilidade".
Aníbal disse que Serra tem feito isso e que FHC "não vai deixar a peteca cair". O presidente do PSDB avalia que o temor dos investidores em relação ao tamanho da dívida pública se deve à dúvida sobre "a capacidade de pagar ou de rolar". "Este governo e o candidato Serra estão fazendo todos os esforços para evitar instabilidade e manter investimentos no país", afirmou o tucano.
É que tanto FHC como Serra avaliam que algum tipo de renegociação da dívida interna terá de acontecer no começo do próximo governo, seja o futuro presidente de qual partido for.
Por isso, o PSDB deverá insistir no discurso do medo, tentando levar o eleitor a acreditar que Serra terá mais condições de enfrentar o problema devido à inexperiência administrativa de Lula.
O PT, no entanto, vai bater na tecla de que a culpa pela situação atual é do governo Fernando Henrique Cardoso, e não das eleições, buscando desacreditar o presidente e o seu candidato.
(KENNEDY ALENCAR)



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