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Acuado, governo busca abafar crise
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acuado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT desencadearam ontem uma ofensiva para
tentar reagir à crise política em diversas frentes.
De imediato, ordenou a troca
das diretorias dos Correios e do
IRB (Instituto de Resseguros do
Brasil), determinou ao PT que
apoiasse uma CPI que o governo
queria enterrar e pediu ao seu
partido que negociasse com Delúbio Soares o afastamento dele da
tesouraria da sigla.
Em breve, a PF (Polícia Federal)
deverá anunciar que chegou a
descoberta concreta de conexão
política no caso dos Correios, seguindo determinação para se antecipar à CPI e divulgar resultados
antes de a Comissão Parlamentar
de Inquérito ser instalada. Lula
voltou ainda a retomar conversações com petistas e aliados para
promover trocas no ministério,
acatando sugestão para iniciar
nova fase de governo.
O pacote de medidas tem o objetivo de sanar ou minimizar a crise política crônica que se agravou
profundamente desde a publicação anteontem da entrevista à Folha do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que relatou que Delúbio Soares teria organizado esquema de mesada de R$ 30 mil
para deputados do PP e do PL em
troca de apoio ao governo.
A intenção do governo "é sair
das cordas", afirmou um auxiliar
do presidente, referindo-se ao
instante no boxe em que um lutador está apanhando acuado. Se a
operação anticrise tiver sucesso,
Lula poderá, por exemplo, fazer
amplas trocas na equipe tirando
do ministério quem deseja ser
candidato em 2006 e abrindo número significativo de vagas de petistas para aliados
Após semanas em que se recusou a enxergar a gravidade da crise, isolando-se e evitando discutir
os problemas em profundidade,
Lula retornou da viagem à Ásia no
domingo dia 29 de maio disposto
a liberar o apoio do PT à CPI dos
Correios e a desencadear mudanças na equipe. No entanto, foi
convencido por aliados e auxiliares a apostar no sepultamento regimental da CPI.
Na última segunda-feira, quando a entrevista de Jefferson sucedeu reportagens negativas em revistas semanais, Lula e os poucos
auxiliares que realmente ouve
concluíram que não dava mais
para adotar a inação como estratégia, que havia perdido a condição de barrar uma CPI e que seria
melhor pedir ao PT que apoiasse a
investigação parlamentar.
Mais: Lula foi convencido de
que precisa se manifestar em tom
duro e indignado a respeito das
acusações de corrupção em seu
governo. Para tanto, adiou novamente um pronunciamento do
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para que pudesse discursar ontem na abertura do 4º
Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasília. Thomaz Bastos deverá falar hoje, resumindo
uma série de operações da PF de
combate à corrupção e mencionando especificamente os casos
dos Correios e do IRB, além da
acusação de Jefferson.
Segundo relato de ministros, o
presidente demonstrou nos últimos dois dias consciência de que
a crise poderia redundar, no limite, até na inviabilização do seu governo em apenas dois anos e cinco meses de gestão.
Apesar de dizer a auxiliares que
"confia" em Delúbio, Lula concordou que o afastamento dele da
tesouraria do partido era uma necessidade e destacou emissários
para negociar essa saída com a cúpula do PT. O afastamento, "a pedido", deverá ser anunciado hoje
pelo próprio Delúbio em entrevista coletiva, no mesmo dia em que
a Executiva do PT fará reunião.
Apesar da versão oficial de que
todos os diretores dos Correios e
do IRB entregaram os cargos, eles
foram na verdade convidados a
fazer tal gestão após negociação
do presidente com os ministros
Eunício Oliveira e Antonio Palocci Filho, a quem as estatais estão
subordinadas.
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