São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2005

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Acuado, governo busca abafar crise

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acuado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT desencadearam ontem uma ofensiva para tentar reagir à crise política em diversas frentes.
De imediato, ordenou a troca das diretorias dos Correios e do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), determinou ao PT que apoiasse uma CPI que o governo queria enterrar e pediu ao seu partido que negociasse com Delúbio Soares o afastamento dele da tesouraria da sigla.
Em breve, a PF (Polícia Federal) deverá anunciar que chegou a descoberta concreta de conexão política no caso dos Correios, seguindo determinação para se antecipar à CPI e divulgar resultados antes de a Comissão Parlamentar de Inquérito ser instalada. Lula voltou ainda a retomar conversações com petistas e aliados para promover trocas no ministério, acatando sugestão para iniciar nova fase de governo.
O pacote de medidas tem o objetivo de sanar ou minimizar a crise política crônica que se agravou profundamente desde a publicação anteontem da entrevista à Folha do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que relatou que Delúbio Soares teria organizado esquema de mesada de R$ 30 mil para deputados do PP e do PL em troca de apoio ao governo.
A intenção do governo "é sair das cordas", afirmou um auxiliar do presidente, referindo-se ao instante no boxe em que um lutador está apanhando acuado. Se a operação anticrise tiver sucesso, Lula poderá, por exemplo, fazer amplas trocas na equipe tirando do ministério quem deseja ser candidato em 2006 e abrindo número significativo de vagas de petistas para aliados
Após semanas em que se recusou a enxergar a gravidade da crise, isolando-se e evitando discutir os problemas em profundidade, Lula retornou da viagem à Ásia no domingo dia 29 de maio disposto a liberar o apoio do PT à CPI dos Correios e a desencadear mudanças na equipe. No entanto, foi convencido por aliados e auxiliares a apostar no sepultamento regimental da CPI.
Na última segunda-feira, quando a entrevista de Jefferson sucedeu reportagens negativas em revistas semanais, Lula e os poucos auxiliares que realmente ouve concluíram que não dava mais para adotar a inação como estratégia, que havia perdido a condição de barrar uma CPI e que seria melhor pedir ao PT que apoiasse a investigação parlamentar.
Mais: Lula foi convencido de que precisa se manifestar em tom duro e indignado a respeito das acusações de corrupção em seu governo. Para tanto, adiou novamente um pronunciamento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para que pudesse discursar ontem na abertura do 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasília. Thomaz Bastos deverá falar hoje, resumindo uma série de operações da PF de combate à corrupção e mencionando especificamente os casos dos Correios e do IRB, além da acusação de Jefferson.
Segundo relato de ministros, o presidente demonstrou nos últimos dois dias consciência de que a crise poderia redundar, no limite, até na inviabilização do seu governo em apenas dois anos e cinco meses de gestão.
Apesar de dizer a auxiliares que "confia" em Delúbio, Lula concordou que o afastamento dele da tesouraria do partido era uma necessidade e destacou emissários para negociar essa saída com a cúpula do PT. O afastamento, "a pedido", deverá ser anunciado hoje pelo próprio Delúbio em entrevista coletiva, no mesmo dia em que a Executiva do PT fará reunião.
Apesar da versão oficial de que todos os diretores dos Correios e do IRB entregaram os cargos, eles foram na verdade convidados a fazer tal gestão após negociação do presidente com os ministros Eunício Oliveira e Antonio Palocci Filho, a quem as estatais estão subordinadas.


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