São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Segundo parlamentar, presidente do PTB teria gravações de conversas que comprometem deputados e ministros, incluindo José Dirceu

Jefferson ameaça fazer mais denúncias

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Ameaçado de destituição da presidência do PTB e de cassação de seu mandato, o deputado federal Roberto Jefferson (RJ) disse a uma série de deputados que possui muito mais denúncias de corrupção no governo e ameaçou apresentar gravações que teria feito de conversas que comprometeriam deputados e ministros, incluindo José Dirceu (Casa Civil).
"O Brasil vai saber o que está acontecendo", disse Jefferson, segundo relato do deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), que foi ontem ao apartamento do presidente do PTB. Segundo ele, Jefferson "fala que tem provas sobre o que disse e que o que ele tem nas mãos é muito maior do que falou".
"Ele é advogado criminalista, sabe o que fala e tem condições de provar. Ele disse ter plena consciência sobre o que falou", afirmou Capixaba. O deputado não confirmou as informações sobre supostas novas fitas e disse que o presidente do PTB só revelará o que sabe na CPI dos Correios, ainda a ser instalada no Congresso.
Outros deputados do PTB que conversaram com Jefferson confirmaram, porém, que ele estaria dizendo que tem "muita gente na mão", entre petebistas e governistas. Segundo os relatos, Jefferson conta que o mandato não lhe interessa, que não é candidato à reeleição e que tem uma "caixinha de maldades" contra pessoas dentro e fora do partido.
O presidente do PTB é o centro da atual crise política que atinge o governo. Primeiro foi acusado de comandar um esquema de corrupção em estatais. Depois disse em entrevista à Folha, anteontem, que o PT paga mesada de R$ 30 mil a deputados para que eles votem com o governo.
Lideranças do PTB se reuniram durante todo o dia de ontem na casa do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG). Eles tentavam forçar o deputado a se afastar da presidência, mas Jefferson resistia.
Coube ao ministro do partido, Walfrido dos Mares Guia (Turismo), ir ao apartamento de Jefferson para tentar convencê-lo a tirar uma licença da presidência.
A reunião seria retomada na noite de ontem, com a presença de mais petebistas, mas pelo menos duas decisões foram tomadas. O PTB voltou a apoiar a CPI dos Correios e deve colocar à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva os cargos que possui no governo, incluindo o ministério e a liderança no Congresso.
Segundo petebistas, os cargos importantes seriam cerca de dez, entre eles a vice-presidência da Caixa Econômica Federal e uma diretoria da BR Distribuidora.
Na saída do primeiro encontro com Jefferson, o ministro do Turismo negou que vá renunciar ao cargo e formulou uma frase que reforça a possibilidade de que Jefferson tenha mais a revelar: "Ele vai ter a oportunidade de esclarecer muita coisa que está no ar".
O ministro ressaltou que seu cargo sempre esteve à disposição de Lula. "Os cargos estão sempre à disposição, sobretudo os que ele escolheu pessoalmente, como é o meu caso. Em uma situação como essa, de dúvida e dificuldade, fica mais à disposição ainda."
Tamanha era a confusão no PTB no fim da tarde de ontem que o advogado do partido soltou uma nota sem assinatura de ninguém e que, ao que tudo indica, foi feita apenas por Jefferson. Nela, está escrito que o PTB "reafirma apoio à pessoa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, homem correto, digno, síntese dos sonhos e esperanças dos brasileiros".
O texto sintetiza aquilo que os correligionários de Roberto Jefferson dizem ser seu sentimento atual: repulsa pelo PT e pelo governo, mas apreço pela figura do presidente Lula.


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília

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