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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Segundo parlamentar, presidente do PTB teria gravações de conversas que comprometem deputados e ministros, incluindo José Dirceu
Jefferson ameaça fazer mais denúncias
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Ameaçado de destituição da
presidência do PTB e de cassação
de seu mandato, o deputado federal Roberto Jefferson (RJ) disse a
uma série de deputados que possui muito mais denúncias de corrupção no governo e ameaçou
apresentar gravações que teria feito de conversas que comprometeriam deputados e ministros, incluindo José Dirceu (Casa Civil).
"O Brasil vai saber o que está
acontecendo", disse Jefferson, segundo relato do deputado Nilton
Capixaba (PTB-RO), que foi ontem ao apartamento do presidente do PTB. Segundo ele, Jefferson
"fala que tem provas sobre o que
disse e que o que ele tem nas mãos
é muito maior do que falou".
"Ele é advogado criminalista,
sabe o que fala e tem condições de
provar. Ele disse ter plena consciência sobre o que falou", afirmou Capixaba. O deputado não
confirmou as informações sobre
supostas novas fitas e disse que o
presidente do PTB só revelará o
que sabe na CPI dos Correios, ainda a ser instalada no Congresso.
Outros deputados do PTB que
conversaram com Jefferson confirmaram, porém, que ele estaria
dizendo que tem "muita gente na
mão", entre petebistas e governistas. Segundo os relatos, Jefferson
conta que o mandato não lhe interessa, que não é candidato à reeleição e que tem uma "caixinha de
maldades" contra pessoas dentro
e fora do partido.
O presidente do PTB é o centro
da atual crise política que atinge o
governo. Primeiro foi acusado de
comandar um esquema de corrupção em estatais. Depois disse
em entrevista à Folha, anteontem,
que o PT paga mesada de
R$ 30 mil a deputados para que
eles votem com o governo.
Lideranças do PTB se reuniram
durante todo o dia de ontem na
casa do deputado Romeu Queiroz
(PTB-MG). Eles tentavam forçar
o deputado a se afastar da presidência, mas Jefferson resistia.
Coube ao ministro do partido,
Walfrido dos Mares Guia (Turismo), ir ao apartamento de Jefferson para tentar convencê-lo a tirar uma licença da presidência.
A reunião seria retomada na
noite de ontem, com a presença
de mais petebistas, mas pelo menos duas decisões foram tomadas. O PTB voltou a apoiar a CPI
dos Correios e deve colocar à disposição do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva os cargos que possui
no governo, incluindo o ministério e a liderança no Congresso.
Segundo petebistas, os cargos
importantes seriam cerca de dez,
entre eles a vice-presidência da
Caixa Econômica Federal e uma
diretoria da BR Distribuidora.
Na saída do primeiro encontro
com Jefferson, o ministro do Turismo negou que vá renunciar ao
cargo e formulou uma frase que
reforça a possibilidade de que Jefferson tenha mais a revelar: "Ele
vai ter a oportunidade de esclarecer muita coisa que está no ar".
O ministro ressaltou que seu
cargo sempre esteve à disposição
de Lula. "Os cargos estão sempre
à disposição, sobretudo os que ele
escolheu pessoalmente, como é o
meu caso. Em uma situação como
essa, de dúvida e dificuldade, fica
mais à disposição ainda."
Tamanha era a confusão no
PTB no fim da tarde de ontem que
o advogado do partido soltou
uma nota sem assinatura de ninguém e que, ao que tudo indica,
foi feita apenas por Jefferson. Nela, está escrito que o PTB "reafirma apoio à pessoa do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, homem
correto, digno, síntese dos sonhos
e esperanças dos brasileiros".
O texto sintetiza aquilo que os
correligionários de Roberto Jefferson dizem ser seu sentimento
atual: repulsa pelo PT e pelo governo, mas apreço pela figura do
presidente Lula.
Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília
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